domingo, 10 de abril de 2011

O pequeno valente Toninho Nogueira

Foto: Eliel Rangel, Toninho Nogueira, Vereador Jailton Xavier (Poxoréu) e Vereador Felipe Nogueira (Primavera)

* Izaias Resplandes.

Acabei de ler “Primavera (Com e Sem Flores): Crônicas Rasgadas do Cotidiano”, do sul mato-grossense José Antônio de Castro Leite Nogueira, o “Toninho”, um homem de pequena estatura física, mas de uma valentia invejável, a qual transpira nesse seu livro de crônicas políticas, onde narra, de forma pitoresca, a sua trajetória em Primavera do Leste, desde o ano de 1983, até a eleição de seu filho Felipe Nogueira, em 2008, para a legislatura 2009-2012.

Lembrei-me do rei Davi, segundo rei de Israel. Era um jovem de baixa compleição, mas de uma bravura a toda prova. Estando Israel em guerra contra os filisteus, estes lançaram um desafio homem a homem: um filisteu contra um israelita. O que vencesse garantiria a vitória ao seu povo e os demais se renderiam. E os filisteus apresentaram Golias, um guerreiro gigante. Ao vê-lo, os homens de Israel tremeram de pavor ante a hipótese de enfrentá-lo. Todavia, o pequeno Davi não recuou e se apresentou como voluntário para a luta. E ainda dispensou a armadura do rei Saul e suas armas, enfrentando o gigante apenas com uma funda e cinco pedras em seu boldrié, vencendo-o com certeira pedrada no meio da testa e cortando-lhe a cabeça com sua própria espada.

Toninho enfrentou os gaúchos de Primavera quando estes estavam começando a construção de sua cidade no cerrado mato-grossense. Certamente não foi fácil para ele ouvir de Adevino Castelli “Castelão” a dura crítica que este lançara-lhe ao rosto quando fora nomeado para o cargo de Gerente da CASEMAT: “Não sei o que tu tá fazendo nesse lugar, ocupando um cargo que deveria ser de um gaúcho”, conforme registra em sua “Recepção Calorosa” à pag. 13 do livro. Que recepção!

Ainda dá para imaginar a situação do escritor diante do “Dr. Faissal, um soberbo delegado de Rondonópolis” destacado para atender às eleições de 1988, em Primavera do Leste. Naquela ocasião, de acordo com o relatado em “Boca de Urna” (pág. 20), Toninho, pego fazendo boca de urna pelo “sargento Roberto, um rotundo policial que àquela época comandava o destacamento local da PM”, fora levado ante o delegado com os bolsos cheios do dinheiro para a boca de urna. Diz o escritor que “suava frio, pensando na hora em que descobrissem o dinheiro em seus bolsos”. Foi muito interessante a forma com que se safou.

O livro traz diversas narrativas das situações difíceis enfrentadas de forma brilhante por Toninho Nogueira. Mas, dentre essas, duas mais merecem um destaque especial.

Em “Constrangimento” (pág. 33), Nogueira conta como teve que lutar corporalmente com o vereador Edeilto Machado e seus irmãos, por conta de um disse-me-disse iniciado por uma declaração maldosa do então vereador Angelim Baraldi. Segundo este, Edeilto teria acusado Toninho de ter sido beneficiado com a venda de uma escola da cidade. Toninho não gostou da “declaração” e ocupou a Tribuna da Câmara, de onde revidou o ataque, sem saber que tudo não passava de uma armação baraldiana. Edeilton não concordou com o revide, quis ir à forra e o pau quebrou. Mas, apesar de estar em desvantagem, o Toninho não fugiu à luta.
O outro episódio destacado é o caso de “As botinas são minhas” (pág. 87). Nesta história, o escritor enfrenta o ladrão de botinas em plena rua, quando “morava na cidade [de Primavera do Leste] havia apenas 30 dias”. Quando lia esta crônica, ficava imaginando o Toninho imobilizando “o gatuno”, prendendo-o ao chão do lado da cabeça, esmurrando-o, enquanto sua esposa Rosângela estava sentada “sobre as pernas do infeliz retirando-lhes as botinas”.
Em todas essas situações, foi preciso mesmo muita coragem para enfrentar a adversidade. De forma que Toninho, como o rei Davi, embora seja um homem pequeno de estatura, sempre foi muito corajoso, seja quando enfrentou as situações descritas, seja muito mais quando não teve o receio de recontá-las para todos nós neste seu também pequeno grande livro de crônicas. Que outras surpresas ainda nos trará Nogueira? Só o futuro dirá. Aguardemos.
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* Izaias Resplandes de Sousa, advogado com atuação nas Comarcas da região de Poxoréu, é pedagogo e professor de Matemática na rede pública estadual de MT.

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