sábado, 5 de outubro de 2013

A IGREJA EM CONSTRUÇÃO



A IGREJA EM CONSTRUÇÃO
                                                                                              Gaudêncio Amorim
I
Deus está no homem, mas o homem pouco está com Deus:
Neste mundo, quase tudo chama atenção
Desde os prazeres estéreis de efêmera duração
Aos vícios continuados que o escraviza e o domina
Inobstante ao bem que um ou outro perpetua
É muito improvável ver Deus no canto da rua
Para a verdadeira aliança que na vitória se anima
II
Mas uma coisa é ver Deus, por opção
Outra, Deus mostrado pela igreja
Sem alardes messiânicos e sem sobeja
E justificar o papel do templo representativo
Porque igreja não é só casa de oração
Assim – é um templo em construção
Com fiéis desiludidos e pouco criativos.
III
O homem precisa-se reinventar para igreja reconstruir
A igreja de portas abertas, noite e dia – toda hora
Acalentando o homem atordoado e a criança que chora
Como a mãe que alimenta a prole, sempre por perto
E o homem que acredita saber tudo nesta vida
Não passará de leve bruma na dispersa avenida
Como uma lânguida miragem no deserto.
IV
Não é só  a igreja, o templo de adoração
Que faz do homem reto e bom cristão
Nem a igreja nua de eclesiásticos mudos
Aquela que prega o capital em liturgias disfarçadas
Para poucos fiéis e mentes acomodadas
Presas ao egoísmo e a ouvidos surdos.
V
Mas Deus mandou seu emissário
Um a um após o Cristo do Calvário
E falou de uma igreja nova, diferente
Para o homem renovado, livre e crente
Difundindo o sal da terra à nação
Uma igreja em construção.....

VI
Cada líder espiritual, cada conselho episcopal
Cada padre, monge, pastor ou líder papal
Cada um na doutrina, à sua maneira
Pregou o evangelho e tremulou bandeiras
Levando a todos a boa nova de Cristo.
Porém, nenhum em toda história
Suscitou a bonança de nova aurora
Como a mensagem do papa Francisco.
VII
E agigantou a igreja prostrada no dogma artificial
Na agonia dolorosa dos tempos e sem remédio
Se debatendo entre as religiões o seu frágil credo
Misturando-se ao pó evoluído das vaidades mundanas.
Soube, convencer o seu radical cristão
Que o Cristo está em qualquer religião
Seja ela católica, protestante ou muçulmana.

VIII
Ele pregou a igreja que ainda não está pronta
Mas de todas, é a que menos afronta
O verdadeiro ideal do cristianismo
A igreja das ruas, campos, construção
Mais comedida e de menor corrupção
Para um fiel convicto e sem fanatismo.
IX
Este homem não é Deus, mas o tem em si
E o define na mensagem de sua existência
A nutrir-se do necessário sem exigência
Para ostentar a fama e o cetro em milhões
Porque é na simplicidade e na unidade de papéis
Que se deve edificar a igreja e seus fiéis
Num regozijo à felicidade das multidões.
X
Foi ele, ungido e convicto da fé verdadeira
Que desenhou no cenário católico à completude
Que se rende ao velho e orienta a juventude
Num sermão aberto à construtividade.
Assim, sem esmero, remodelou um cristão renovado
Que não precisa mais esconder atrás do livro sagrado
Para camuflar um coração repleto de vaidades.
XI
Porque o bem não se mede em palavras bonitas
Adornado na aparência com enfeites de fitas
E uma rotina litúrgica de ir às missas.
Mas pode ser percebido na ação permanente
A serviço do homem frágil, o irmão carente
Sem o estatuto de qualquer outra premissa.
XII
Vede, irmãos do meu tempo e da minha geração
O que pode fazer a palavra nos dias meus!....
O que pode fazer um homem com Deus!...
Na simbiose da criatura em recriação.
E de como é preciso acordar e se dar conta
Que a igreja caminha sem estar pronta
E que é apenas uma igreja em construção.

XIII
A igreja na unidade e na diversidade sobrevive
Mas ela sozinha é o templo nu, o prédio
Que não se personifica sem o assédio
Do cristão são na sã e efetiva conduta
Afinal, da forma que estava prostrada
Era como reunião sem rumo, desorganizada
Que todos falam, mas ninguém escuta.

XIV
E foi preciso este homem divinizado na fé
De doutrina inspirada no ideal franciscano
Deixar os limites do território Vaticano
Para no Brasil, revigorar o seu templo.
Isso mostra, ao cristão, inobstante
Aqueles que no ideário seguem avante
A força e a importância do exemplo.
XV
A igreja de Pedro edificada na rocha
Se conhece pelo esmero das pastorais
Não tão somente pela liturgia dos missais
Em dias de missa no criado mudo
É como conhecer a cidade feia ou bonita
Pelos cuidados do morador que nela habita
Sem ensejar ciência ou estudo.

XVI
Mas ainda assim, tal qual ao operário em marcha
Também é a igreja dos fiéis e de Francisco,
Porque, este sim, merece um obelisco
Por fazer da simplicidade, uma revolução.
E pode ensinar ao povo brasileiro
A se portar como um lord, cavalheiro
Numa igreja em construção.

XVIII
E ensinou que a igreja precisa da política social
Que onde os corações cedem a cobiça
Sem termo, critério e justiça
Configura opressão dos fracos e excluídos.
E que só bom cristão puro e renovado
Pode bradar a voz e levantar o cajado
Indicando o novo rumo a ser seguido

XIX
Como bons discípulos de um templo
Eu, nós, a imensa nação do Brasil
Bem de perto seu exemplo sentiu
É uma nova corrente em vigília e oração
Despiu-se da vaidade, a heresia do evangelho
E jogou fora o método velho
Para fazer uma igreja em construção
XX
E agora, enfim, mire-se no exemplo de Francisco
Que na mensagem deixada na jornada da juventude
Revigorou os cristãos em perfeita saúde
Para cumprirem sua missão mais importante:
De que nada é mais primordial para se viver
Do que praticar bem e cuidar de você
Além de amar o seu próprio semelhante.
XXI
E esta poderia ser a mensagem do papa Francisco
Ordenado pelas graças de Cristo
Numa corrente em oração
Para falar de uma igreja no caminho
Que merece no seu coração um cantinho
Um igreja em construção!!!