sábado, 31 de dezembro de 2016

A fragilidade da vida

A FRAGILIDADE DA VIDA

Gaudêncio Amorim

Certa vez li nas redes sociais que “aquele que deseja conhecer o sentido da vida deve passar por um hospital, porque lá se conheceria o valor da saúde; por uma prisão, porque lá se conheceria o valor da liberdade e pelo cemitério, porque ali compreenderíamos que a vida é nada, vez que um dia o teremos como morada e a terra como nosso teto”.

O pensamento pode até não conter em si a profundidade filosófica para compreendermos a sentido da vida, mas, no mínimo, contém evidências dessa compreensão e, embora muitos de nós, afeitos a aceitar tal “verdade”, quase sempre a ignoramos, ao nos expormos às vaidades e a prazeres estéreis; a cometermos ilícitos e a rir do fim, como se ele sempre estivesse distante de nós, algo parecido com constatado por Jim Brow no seu “sonhei que tive uma entrevista com Deus”: de que os homens vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.

A reflexão neste epíteto nos sugere partir de Kant (1724-1804) no sentido de separar “a coisa para si” e “a coisa em si”, ou seja, neste caso, a razão é dubitativa da verdade, no entanto, a experiência, suprime de nós o tapa olho que nos cega para aceitar tal raciocínio, de modo que nossa percepção é pálida, quando ouvimos a experiência de alguém, mas é nossa própria experiência que torna a verdade, “verdade absoluta”.

Assim sendo, podemos partir da premissa de que, quem desejar aceitar a verdade exarada no caput - precisa viver a experiência de adoecer e passar pelo hospital; de infringir as normas sociais e ter lhe ceifado a liberdade e compreender o sentido simbólico dos cemitérios como retorno ao pó, do qual um dia poderíamos ter saído, levando crer que esta vida seja apenas uma passagem, apesar de que muitos espíritos incautos cometerem erros em série, sem se darem conta da profundidade do vício que encarna os corpos sedentos de vaidades e presos, unicamente, ao egoísmo que os move na direção do caos, imbuídos da crença de que o fim viria para os semelhantes, a doença, também e, as prisões, os ambientes que estivessem acostumados a se relacionarem. Talvez, por isso, Érico Veríssimo (1905-1975) escrevera – “ é a vaidade Fábio!” ou Platão (428 a.C – 348 a.C ) na Grécia antiga, que dedicara parte da sua obra às advertências das paixões mundanas.

Todo heroísmo humano dos que se julgam Deus em miniatura se prostra na impotência da saúde, nos limites da prisão e na iminência do fim e, não restará nada que o desejo de antes transforme esta realidade. Corpos limitados e mutilados pela dor; almas ciosas da vingança ou do hábito que se repetira na espontânea e ditosa liberdade ou reduzidos à morada eterna do pó, por mais que sobre a crença da alma “a viver eternamente”. Mas, se a razão ou mesmo a experiência nos permitirem alcançar este nível de compreensão da vida, será então necessário recorrer aos gregos que preconizaram o equilíbrio (ou a ética, para alguns) como a balança “do bem viver”, de modo que tal conhecimento nos beneficie viver mais e melhor. Nesta direção, os prazeres comedidos e as atitudes moderadas não seriam indicativos da existência prematura ou de uma vida morta em vida, no sentido mais próximo do vegetal que se mantêm ereto pelas leis da física e da biologia, sem se estreitar com o sentido de vida em abundância, materializado nas ciências humanas. 

Abençoados aqueles que alcançaram esta plenitude e se permitiram vicejar nas cavernas inexploradas do tempo, o tempo que lhe tinha a seu favor, porque a vida é um trem-bala que tomamos numa determinada estação, mas não sabemos qual a próxima parada ela nos deixará e o legado que deixaremos será o uso que fizermos dessa viagem, sendo irrelevante a estação que entramos ou a parada em que fomos deixados, mas as pegadas que deixamos pelo caminho! Pegadas saudáveis; vida em liberdade, manejando o livre arbítrio, como seres criadores.

Sementes de solidariedade

Sementes de solidariedade

Izaias Resplandes de Sousa

Muitos dirão que estamos tendo ou que tivemos um ano difícil. Outros dirão o contrário. Todos podem estar certos, ou não! Já aprendemos em Física que isso ou aquilo depende do ponto de referência. Interessante propaganda do Banco Itaú, em 2016, traz a seguinte mensagem: “o segredo do tempo não está nas horas que passam; está nos momentos que ficam, porque são eles que vão contar a sua história”. Com certeza, todos já tivemos muitos problemas e muitas preocupações, mas não devemos vamos fazer culto aos problemas que já tivemos, porque o que importa mesmo são as soluções que ficaram, às quais jamais devemos esquecer.
Comecei 2016 enfrentando e vencendo o desafio de realizar uma segunda cirurgia neurológica em Ricardo, e estou terminando o ano cantando um hino de vitória, pela campanha bem sucedida, em prol da realização de uma cirurgia renal em Kárita. Muitos de meus amigos e familiares compartilharam comigo as angústias, mas, principalmente, as alegrias decorrentes desses dois momentos que tiveram grande destaque para nós. Mas haveremos de esquecer logo esses problemas, se Deus quiser. A vida continua. E há tanta coisa boa que deverá acontecer em nossas vidas, que não vale a pena ficar remoendo as dores que esperamos não sofrer de novo. Agora, a forma como esses problemas foram resolvidos, isso, sim! Vale a pena lembrar de novo e sempre. De novo e sempre! E sempre!
Quem é Ricardo e quem é Kárita, isso, com certeza é o que menos importa no contexto dessa mensagem, para a qual eles são apenas dois nomes que protagonizam a nossa história, que não é singular, haja vista as tantas e tantas que outros poderão contar e que guardam muitas semelhanças. É de destacar que, nas duas situações que registramos o que vai ficar em nossa memória é a história de amor, de bondade, de misericórdia e de solidariedade que tantos tiveram ao estenderem suas mãos para eles, sem mesmo saber quem eram esses dois meninos. Uns fizeram porque eram seus afins. Outros, porque eram amigos desses afins. E outros porque souberam da necessidade e quiseram ajudar. Jesus disse em seu sermão do monte, o seguinte: Quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Mateus 6:3.
O mais importante em um ato de amor não é o nome da pessoa, mas a ação que está sendo realizada. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. Lucas 6:38.
Quem conhece o amanhã? Quem sabe como será o seu futuro? O nosso tempo de vida deve ser o tempo da construção de alianças, de apoios, de parcerias. Hoje é alguém, mas amanhã você poderá ser esse alguém. O sábio escritor do Eclesiastes diz assim: Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra. Eclesiastes 11:1, 2.
Quando a gente faz pelo outro, na verdade é como se estivéssemos plantando sementes de solidariedade que, mais cedo ou mais tarde vão germinar e produzir frutos para nós saciarmos as nossas necessidades. Certa vez fizeram uma pergunta muito interessante a Jesus, mas ainda mais interessante foi a resposta que Ele deu. Essa é a história:
Eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira. Lucas 10:25-37.
Todos nós entendemos que os outros precisam ser sensibilizados com relação aos nossos problemas, mas nem sempre nós nos preocupamos com os problemas dos outros. E quando não somos socorridos, nós falamos muito sobre a falta de amor que há no mundo, mas não achamos demais quando fechamos a mão aos pedidos de outros e quando dizemos à meia-boca ou de boca cheia mesmo que não temos condições de ajudar, que já estamos sobrecarregados de problemas e que nós mesmos é que estamos precisando de socorro. Normalmente, nessas circunstâncias é costume ouvirmos do outro dizer que vai orar por nós ou por quem nós estamos pedindo ajuda. Isso nem sempre resolve, porque Deus não faz aquilo que nós podemos fazer, mas, certamente, durante nossas orações, Ele poderá mover os nossos corações endurecidos para que possamos ter compaixão de quem está nos pedindo ajuda. Tiago escreve algo com relação a isso, da seguinte forma:
Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade. Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo. Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Tiago 2:12-17.
Às vezes nós pensamos que para ajudar alguém é preciso ter muito e a ajuda tem que ser de grande monta. Na verdade, temos que entender isso um pouco melhor. O primeiro quesito para ajudar é o querer. Assim diz Paulo: Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. 2 Coríntios 9:7.
Vejamos essa história:
Certa vez, no Templo, “estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento”. Marcos 12:41-44.
Que atitude maravilhosa a dessa pobre viúva! Quantas vezes nós dizemos não, não tenho, não temos, não posso àquele que nos pede ajuda. Outras tantas nós lembramos ao pedinte que já estamos ajudando outras pessoas... Meus queridos! Eu quero dizer que a desculpa é o que menos interessa nessa mensagem, porque eu acredito que se quisermos, sempre poderemos ajudar. Doar muito ou pouco é outra história. O importante é não sermos totalmente insensíveis. Tem muita gente que acha que a melhor maneira dele ajudar é pedindo a outras pessoas para ajudarem. Não deixa de ser uma ajuda importante, mas quem pede aos outros para fazerem alguma coisa, deve começar dando o exemplo e fazendo o mesmo. Duas moedas ou dois mil? Isso fará pouca diferença! Toda ajuda sempre será válida. Mas o que fará diferença será a atitude de cada um. Deus ama ao que dá com alegria e todos os que recebem, alegremente agradecem.
Essa é a mensagem que Deus colocou em meu coração no dia de hoje. Meu desejo ao fazê-la é que cada palavra dita e cada letra escrita sejam como sementes plantadas em seu coração e em sua mente. E que essas sementes venham germinar em atitudes de solidariedade de todos nós para com todos os demais.
Que Deus nos abençoe e nos dê um campo fértil e produtivo ao longo de nossos dias de vida. Amém!



domingo, 18 de dezembro de 2016

Cedo demais

Prof. Izaias Resplandes
Comecei a estudar bem cedo. Era um menino pobre que acreditava poder ficar rico estudando. Meu pai dizia que o estudo era uma riqueza que ninguém poderia me tirar.
Mas, enquanto eu ia estudando o tempo foi passando sem que eu conseguisse ficar rico, financeiramente. Apesar de cada dia mais rico em conhecimento, eu não conseguia transformar meu conhecimento em dinheiro e a minha vida continuava a mesma.
Eu pensara que iria sofrer estudando bastante, mas aí eu iria ficar rico e viveria o resto da vida numa boa, só descansando, de papo paro o ar, sem fazer nada. Mas não foi bem assim.
Após cansar de tanto estudar (para os padrões da época, porque na verdade eu nem terminara o segundo grau)  sem conseguir enricar-me, parei de estudar e fui apenas trabalhar. Tinha ideia de trabalhar até enricar. E comecei a trabalhar, trabalhar, mas enricar que é bom nada. E assim eu pensei que se fosse continuar naquele ritmo, eu iria trabalhar até morrer e não enriqueceria.  Eu vi que tinha de acelerar o processo.
E então decidir trabalhar dobrado. Em vez de um emprego, dois. Teve época que tive até mais de dois empregos. Mas isso só me fez cansar mais depressa, porque a riqueza que eu tanto esperava, não veio.
Então, trabalhei, trabalhei, cansei, cansei e não fiquei rico. Daí comecei a pensar na aposentadoria. Sim, ela poderia ser a minha salvação. Normalmente, o benefício da aposentadoria não é lá grande coisa, mas pensei que se eu conseguisse duas aposentadorias, talvez desse para desfrutar um pouco da vida antes de morrer, sem ter que trabalhar até morrer todo dia, em duas ou três jornadas de trabalho. E fiz assim. Quantas vezes eu virei a madrugada trabalhando! Mas não adiantou nada. Com o pouco estudo que tinha (meu ensino médio virou nada), meu salário era baixo e não estava adiantando nada trabalhar dobrado ou triplicado. O que eu ganhava, eu gastava.
Então resolvi voltar a estudar. Trabalhar e estudar para me formar e aí, ganhar bastante dinheiro, ficar rico ou então me aposentar com um benefício bem gordo e assim desfrutar a vida. No entanto, embora tenha estudado mais, fazendo três graduações em nível superior e duas pós-graduações, consegui melhorar bem pouco a minha renda, continuando na mesma pindaíba de sempre, pois sempre gastava tudo no mesmo mês que ganhava. Não sobrava nada para fazer uma pequena economia.
Parecia-me que a única esperança seria a aposentadoria mais cedo, para poder viver um pouco da minha vida com os rendimentos dela. Normalmente as pessoas trabalhavam até os 35 anos para ter direito a uma aposentadoria integral. No meu caso, como trabalhava dobrado seria como se tivesse trabalhado 70 anos. Aí você pensa na minha “marvada de vida”. Mas, beleza! Ninguém tem nada com isso. Essa foi a vida que eu escolhera. Então o problema é mesmo somente meu, a não ser que haja alguém em situação parecia com a minha, o que é em provável.
E foi assim que cheguei até aqui. Cheio de sonhos e de esperanças na tal aposentadoria dobrada. Mas, depois de tanto sonhar com isso, parece que meu sonho está virando um pesadelo. Nesses dias em que a peste da corrupção se espalhou por todo o Brasil, começo a escutar que para se ter uma aposentadoria integral, a pessoa terá que trabalhar durante 49 anos. Para ter duas,mais 49 anos. Ainda que possam ser tempos simultâneos, havendo compatibilidade de horários e sendo os cargos acumuláveis, como é no meu, seria como se eu trabalhasse 98 anos. Contando que eu comecei a trabalhar quando tinha vinte anos mais ou menos, somando os dois períodos, a minha idade real na aposentadoria seria de 20 mais 49, 69 anos. Mas pela forma acumulada de trabalho seria o equivalente a 118 anos. E então poderia me aposentar com vencimento integral e viver feliz por toda a eternidade. Sim, porque a uma altura dessas, já deverei estar com Deus faz horas.
Desse modo, acho que meu último sonho está indo por água abaixo. Acho que sonhei muito e ainda por cima, sonhei cedo demais!
A conclusão que faço é que essa mudança nas regras da aposentadoria vai ser como um balde de água fria lançado nas esperanças dos trabalhadores. Ninguém vai ter estímulo para trabalhar, porque quando se aposentar já vai estar cansado demais para querer continuar vivendo.
A vida nestas condições, precisa ser vivida diariamente. De forma que, quanto menos se desgastar com o trabalho, mais qualidade de vida. Mas é bem provável que o trabalhador tenha que continuar encontrando formas de se motivar para trabalhar, porque junto com esse quase impossibilidade de aposentadoria vivível, deverá vir uma onda de desemprego. E nesse passo, deverá ter um monte de desempregados doidinhos para pegar a miséria do nosso emprego.
De tudo por tudo, como sonhei esperanças cedo demais, talvez também esteja prognosticando cedo demais essa era de desesperança que se inicia com a presidência de Michel Temer no governo de nosso país.
Se for cedo ou tarde demais para essa avaliação, o fato é que a crise brasileira contida pelo Plano Real e mantida sob controle até esses dias,  pode estar de volta e muito mal acompanhada.
Somente Deus para ter misericórdia de nós, porque os dias que virão serão maus, muito maus. E dificilmente haverá sonhos capazes de amenizá-los.


* Izaias Resplandes de Sousa é escritor, advogado e professor em Poxoréu, MT. Membro da União Poxorense de Escritores e do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu.

domingo, 11 de dezembro de 2016

VOLTEI, APÓS O DESERTO!


Escrever também comporta um tempo de intermitência... um tempo de deserto como, brilhantemente, chamou Adélia Prado. Escrever comporta todas as alegrias e dores. Comporta o não comportado e o não querido, mas comporta aquilo que se doutrina e aquilo que se quer. Escrever são todas essas coisas, acrescida, é claro, do sangue de quem escreve. Sim, escrever também é sangrar, já disse alguém.
Escrever pode ser a mais pura expressão de uma solidão que se quer dizer a todo custo, porque, convenhamos, escrever é um dos atos mais solitários dos quais se tem notícia. Ou não?

Enfim, escrever e poetizar são alimento, mas também é fome! Depois de mais de um ano essa fome voltou, esse deserto literário passou e aqui estou! “Foram me chamar, eu estou aqui, o que que há?”