domingo, 18 de dezembro de 2016

Cedo demais

Prof. Izaias Resplandes
Comecei a estudar bem cedo. Era um menino pobre que acreditava poder ficar rico estudando. Meu pai dizia que o estudo era uma riqueza que ninguém poderia me tirar.
Mas, enquanto eu ia estudando o tempo foi passando sem que eu conseguisse ficar rico, financeiramente. Apesar de cada dia mais rico em conhecimento, eu não conseguia transformar meu conhecimento em dinheiro e a minha vida continuava a mesma.
Eu pensara que iria sofrer estudando bastante, mas aí eu iria ficar rico e viveria o resto da vida numa boa, só descansando, de papo paro o ar, sem fazer nada. Mas não foi bem assim.
Após cansar de tanto estudar (para os padrões da época, porque na verdade eu nem terminara o segundo grau)  sem conseguir enricar-me, parei de estudar e fui apenas trabalhar. Tinha ideia de trabalhar até enricar. E comecei a trabalhar, trabalhar, mas enricar que é bom nada. E assim eu pensei que se fosse continuar naquele ritmo, eu iria trabalhar até morrer e não enriqueceria.  Eu vi que tinha de acelerar o processo.
E então decidir trabalhar dobrado. Em vez de um emprego, dois. Teve época que tive até mais de dois empregos. Mas isso só me fez cansar mais depressa, porque a riqueza que eu tanto esperava, não veio.
Então, trabalhei, trabalhei, cansei, cansei e não fiquei rico. Daí comecei a pensar na aposentadoria. Sim, ela poderia ser a minha salvação. Normalmente, o benefício da aposentadoria não é lá grande coisa, mas pensei que se eu conseguisse duas aposentadorias, talvez desse para desfrutar um pouco da vida antes de morrer, sem ter que trabalhar até morrer todo dia, em duas ou três jornadas de trabalho. E fiz assim. Quantas vezes eu virei a madrugada trabalhando! Mas não adiantou nada. Com o pouco estudo que tinha (meu ensino médio virou nada), meu salário era baixo e não estava adiantando nada trabalhar dobrado ou triplicado. O que eu ganhava, eu gastava.
Então resolvi voltar a estudar. Trabalhar e estudar para me formar e aí, ganhar bastante dinheiro, ficar rico ou então me aposentar com um benefício bem gordo e assim desfrutar a vida. No entanto, embora tenha estudado mais, fazendo três graduações em nível superior e duas pós-graduações, consegui melhorar bem pouco a minha renda, continuando na mesma pindaíba de sempre, pois sempre gastava tudo no mesmo mês que ganhava. Não sobrava nada para fazer uma pequena economia.
Parecia-me que a única esperança seria a aposentadoria mais cedo, para poder viver um pouco da minha vida com os rendimentos dela. Normalmente as pessoas trabalhavam até os 35 anos para ter direito a uma aposentadoria integral. No meu caso, como trabalhava dobrado seria como se tivesse trabalhado 70 anos. Aí você pensa na minha “marvada de vida”. Mas, beleza! Ninguém tem nada com isso. Essa foi a vida que eu escolhera. Então o problema é mesmo somente meu, a não ser que haja alguém em situação parecia com a minha, o que é em provável.
E foi assim que cheguei até aqui. Cheio de sonhos e de esperanças na tal aposentadoria dobrada. Mas, depois de tanto sonhar com isso, parece que meu sonho está virando um pesadelo. Nesses dias em que a peste da corrupção se espalhou por todo o Brasil, começo a escutar que para se ter uma aposentadoria integral, a pessoa terá que trabalhar durante 49 anos. Para ter duas,mais 49 anos. Ainda que possam ser tempos simultâneos, havendo compatibilidade de horários e sendo os cargos acumuláveis, como é no meu, seria como se eu trabalhasse 98 anos. Contando que eu comecei a trabalhar quando tinha vinte anos mais ou menos, somando os dois períodos, a minha idade real na aposentadoria seria de 20 mais 49, 69 anos. Mas pela forma acumulada de trabalho seria o equivalente a 118 anos. E então poderia me aposentar com vencimento integral e viver feliz por toda a eternidade. Sim, porque a uma altura dessas, já deverei estar com Deus faz horas.
Desse modo, acho que meu último sonho está indo por água abaixo. Acho que sonhei muito e ainda por cima, sonhei cedo demais!
A conclusão que faço é que essa mudança nas regras da aposentadoria vai ser como um balde de água fria lançado nas esperanças dos trabalhadores. Ninguém vai ter estímulo para trabalhar, porque quando se aposentar já vai estar cansado demais para querer continuar vivendo.
A vida nestas condições, precisa ser vivida diariamente. De forma que, quanto menos se desgastar com o trabalho, mais qualidade de vida. Mas é bem provável que o trabalhador tenha que continuar encontrando formas de se motivar para trabalhar, porque junto com esse quase impossibilidade de aposentadoria vivível, deverá vir uma onda de desemprego. E nesse passo, deverá ter um monte de desempregados doidinhos para pegar a miséria do nosso emprego.
De tudo por tudo, como sonhei esperanças cedo demais, talvez também esteja prognosticando cedo demais essa era de desesperança que se inicia com a presidência de Michel Temer no governo de nosso país.
Se for cedo ou tarde demais para essa avaliação, o fato é que a crise brasileira contida pelo Plano Real e mantida sob controle até esses dias,  pode estar de volta e muito mal acompanhada.
Somente Deus para ter misericórdia de nós, porque os dias que virão serão maus, muito maus. E dificilmente haverá sonhos capazes de amenizá-los.


* Izaias Resplandes de Sousa é escritor, advogado e professor em Poxoréu, MT. Membro da União Poxorense de Escritores e do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu.

Um comentário:

  1. É dr você estudou para aprender, que aprendemos até morrer, e morremos sem saber.
    A minha última esperança que o Sergio Mouro, consiga parar a corrupção, ou não vai demorar, e vamos ter uma intervenção militar, o que não pode piorar, por que temos que nus preocupar com os ladões do dia a dia nas ruas estradas e em residencias, e ainda com os 3 poderes ferais, estaduais, e municipais da nação.

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