A FRAGILIDADE DA VIDA
Gaudêncio Amorim
Certa vez li nas redes sociais que “aquele que deseja conhecer o sentido da vida deve passar por um hospital, porque lá se conheceria o valor da saúde; por uma prisão, porque lá se conheceria o valor da liberdade e pelo cemitério, porque ali compreenderíamos que a vida é nada, vez que um dia o teremos como morada e a terra como nosso teto”.
O pensamento pode até não conter em si a profundidade filosófica para compreendermos a sentido da vida, mas, no mínimo, contém evidências dessa compreensão e, embora muitos de nós, afeitos a aceitar tal “verdade”, quase sempre a ignoramos, ao nos expormos às vaidades e a prazeres estéreis; a cometermos ilícitos e a rir do fim, como se ele sempre estivesse distante de nós, algo parecido com constatado por Jim Brow no seu “sonhei que tive uma entrevista com Deus”: de que os homens vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.
A reflexão neste epíteto nos sugere partir de Kant (1724-1804) no sentido de separar “a coisa para si” e “a coisa em si”, ou seja, neste caso, a razão é dubitativa da verdade, no entanto, a experiência, suprime de nós o tapa olho que nos cega para aceitar tal raciocínio, de modo que nossa percepção é pálida, quando ouvimos a experiência de alguém, mas é nossa própria experiência que torna a verdade, “verdade absoluta”.
Assim sendo, podemos partir da premissa de que, quem desejar aceitar a verdade exarada no caput - precisa viver a experiência de adoecer e passar pelo hospital; de infringir as normas sociais e ter lhe ceifado a liberdade e compreender o sentido simbólico dos cemitérios como retorno ao pó, do qual um dia poderíamos ter saído, levando crer que esta vida seja apenas uma passagem, apesar de que muitos espíritos incautos cometerem erros em série, sem se darem conta da profundidade do vício que encarna os corpos sedentos de vaidades e presos, unicamente, ao egoísmo que os move na direção do caos, imbuídos da crença de que o fim viria para os semelhantes, a doença, também e, as prisões, os ambientes que estivessem acostumados a se relacionarem. Talvez, por isso, Érico Veríssimo (1905-1975) escrevera – “ é a vaidade Fábio!” ou Platão (428 a.C – 348 a.C ) na Grécia antiga, que dedicara parte da sua obra às advertências das paixões mundanas.
Todo heroísmo humano dos que se julgam Deus em miniatura se prostra na impotência da saúde, nos limites da prisão e na iminência do fim e, não restará nada que o desejo de antes transforme esta realidade. Corpos limitados e mutilados pela dor; almas ciosas da vingança ou do hábito que se repetira na espontânea e ditosa liberdade ou reduzidos à morada eterna do pó, por mais que sobre a crença da alma “a viver eternamente”. Mas, se a razão ou mesmo a experiência nos permitirem alcançar este nível de compreensão da vida, será então necessário recorrer aos gregos que preconizaram o equilíbrio (ou a ética, para alguns) como a balança “do bem viver”, de modo que tal conhecimento nos beneficie viver mais e melhor. Nesta direção, os prazeres comedidos e as atitudes moderadas não seriam indicativos da existência prematura ou de uma vida morta em vida, no sentido mais próximo do vegetal que se mantêm ereto pelas leis da física e da biologia, sem se estreitar com o sentido de vida em abundância, materializado nas ciências humanas.
Abençoados aqueles que alcançaram esta plenitude e se permitiram vicejar nas cavernas inexploradas do tempo, o tempo que lhe tinha a seu favor, porque a vida é um trem-bala que tomamos numa determinada estação, mas não sabemos qual a próxima parada ela nos deixará e o legado que deixaremos será o uso que fizermos dessa viagem, sendo irrelevante a estação que entramos ou a parada em que fomos deixados, mas as pegadas que deixamos pelo caminho! Pegadas saudáveis; vida em liberdade, manejando o livre arbítrio, como seres criadores.
Texto de quem tem grande conhecimento, uma aula escelente! A quem busca o conhecimento'
ResponderExcluirEste ano, tive mais oportunidade, de viver, brincar, sorrir e chorar, mas ainda continuo correndo o risco de morrer, como se não tivesse vivido, mas vou procurar a cada dia, ser um pouco melhor do que tenho cido, no ano anterior, viver mais participar, mais ouvir mais, talvez! eu consiga ser um pouco menus pior, a cada dia.