sábado, 18 de junho de 2016

IHGP presta homenagem a Rochinha

O centenário de Joaquim Nunes Rocha

* Prof. Izaias Resplandes de Sousa



Cem anos se passaram. Quanta vida! Quanta memória! Quanta história!

Eis que hoje, com a responsabilidade do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu, venho saudar, in memoriam, o Dr. Joaquim Nunes Rocha, de quem muitos puderam contar como amigo e companheiro na política, nas artes e na cultura de modo geral; muitos outros como benfeitor e patrono de suas causas judiciais; e outros ainda como patriarca de uma plêiade de nomes que honram sua memória e sua história.

Rochinha veio de Goiás, da terra das preciosas esmeraldas do Anhangüera, para ser em Mato Grosso um dos construtores da cidade de Poxoréo, nossa eterna Capital dos Diamantes. Herdou a tenacidade e a firmeza das pedras preciosas, conservando a lucidez e sendo sempre um homem brilhante e ativo em todos os seus 85 anos de vida, advogando as causas dos mais pobres e menos favorecidos da fortuna, mediando, assim, os litígios sociais de sua gente.

Nasceu em 07 de junho de 1916, em Tocantinópolis, Goiás, hoje, Estado de Tocantins, filho do Sr. Francisco Ferreira Nunes e de Dona Maria André da Rocha, mas foi criado nas terras de São Pedro, onde nasceu Poxoréu, pelo Sr. Barnabé Francisco dos Anjos, seu padrasto, homem de notórios valores éticos e morais, para onde veio quando tinha apenas nove anos de idade. São Pedro, nessa época era o epicentro da ocupação social e o mais novo eldorado da fortuna e dos bamburríos da região. Ali sua mãe consolidaria a relação com o padrasto, com quem ainda teria mais três filhos: João Francisco dos Anjos, Zeli Rocha dos Anjos e Wilson Francisco dos Anjos.

Viveu em São Pedro até 1927, quando ocorreu um grande incêndio naquele povoado. E então sua família mudou-se para a corrutela de Morro da Mesa, a futura cidade de Poxoréu, onde adquiriram terras. E foi em Poxoréu que Rochinha cresceu, se habilitou e se notabilizou como guarda livro, farmacêutico, advogado e político.

É de destacar que “Rochinha foi um forte até a morte!” Inquiridor irrequieto, persistente, metódico, disciplinado e muito inteligente, ele sempre soube como conduzir. E por isso foi, com certeza, um líder durante toda a sua vida. Como político amou a terra mato-grossense, dando-se por ela em diversos mandatos como suplente de senador, deputado federal e estadual, vereador e prefeito de Poxoréu. Inegavelmente, ele foi o maior e mais importante líder político que esta terra poxorense já produziu e que por ela se dedicou com tamanha intensidade. Aqui ele não veio passear, não veio visitar. Ele veio para ficar e aqui estará para sempre, nos corações de seus amigos, de seus seguidores políticos, de seus descendentes e até mesmo de seus adversários, que irão se lembrar dele e de sua lealdade nas disputas pelo poder.

Segundo o prof. Gaudêncio Amorim, “não se tem conhecimento que Nunes Rocha tenha tratado um adversário político como inimigo pessoal, mas principalmente como um potencial aliado futuro e, neste caso, o valor que dispensava e o respeito que a ele hipotecava até podiam revelar uma estratégia política, mas era mais do que isso. Rochinha venerava o gênero humano, defendia e respeitava as liberdades individuais de tal forma que, se desejasse tê-los consigo numa ideia ou num projeto, cabia a ele conquistar pelo instrumento da persuasão”.

O advogado e analista político Dr. Pedro Lima, em artigo publicado no Diário de Cuiabá, poucos dias após a morte de Nunes Rocha, assim escreveu: “Com a morte de Joaquim Nunes Rocha, Mato Grosso perdeu uma reserva moral, a classe política perdeu uma referência, e a região dos garimpos, o sul do estado - antigo leste mato-grossense -, um dos homens que soube representar com dignidade aquele povo pioneiro que com seu trabalho artesanal, inicialmente nas lides dos garimpos de diamantes e, posteriormente, na pecuária e agricultura se constituiu na sentinela avançada do desenvolvimento de Mato Grosso”. E continuou: “Rochinha, como seus amigos e adversários o tratavam, fez parte daquela velha guarda de políticos sérios, dedicados ao partido e fiéis aos amigos. Disputou várias eleições; tinha uma irresistível atração pelas urnas. Perdeu e ganhou. Soube se conduzir com dignidade nas vitórias e com altivez nas derrotas. Nunca foi seduzido a abandonar a sua querida UDN pelas promessas, propostas ou benesses fáceis do poder. Lutava por esse poder no seu partido e ao lado de seus correligionários. Não conheceu a estrada dos pusilânimes que a um aceno jogam suas biografias no lixo da história em busca de interesses pessoais e mesquinhos, como infelizmente se tornou prática nos tempos atuais”. 

Já o Pr. Abel Azambuja, da Igreja Assembleia de Deus, na qual congregava por ocasião de sua morte, disse que Rochinha escrevera um documento onde declarara que "depois de percorrer várias igrejas e de examinar várias doutrinas, finalmente havia encontrado o caminho na pessoa de Jesus". Assim, enquanto no meio evangélico ele encontrou o caminho para os céus, na terra, ele foi o patriarca de uma família que tem feito as coisas acontecerem neste país. Junto com seus sete filhos: Lindberg (ex-prefeito de Poxoréu), Louremberg (ex-deputado-federal e ex-senador da República), Lindemberg (médico), Mary Lindsey (sua única filha), Joaquim Nunes Rocha Filho (agropecuarista), Sílvio Romero (advogado) e Benedito César (sociólogo e historiador), ele escreveu muitas e muitas páginas na história do Brasil, razão porque sempre estará vivo na nossa memória.
                       
 Rochinha sonhou, pensou e projetou. Pensar o futuro é uma questão de responsabilidade. Principalmente quando esse é o futuro da nossa cidade. Segundo seu filho Lindberg Ribeiro Nunes Rocha, seu pai sempre proclamava nos discursos que fazia, os seus sonhos de ter uma Poxoréo com avenidas largas e floridas, com espaço para que a juventude pudesse viver e ser feliz. Ele foi um crente extremado que sempre acreditou na possibilidade de seu povo ser feliz. Com certeza foi no seu exemplo que Lindberg aprendeu que "para se administrar uma cidade, antes de tudo é preciso amá-la", o que também lhe garantiu vários mandatos como administrador de Poxoréu.

 Isso era mesmo verdade! Ainda está bem vivo em minha mente as palavras de seo Rocha sobre os seus sonhos de felicidade para a cidade de Poxoréo, quando disputou a Prefeitura de Poxoréo em 1992. Ele disse e eu gravei para a história: “Com muita satisfação eu me dirijo ao povo de Poxoréo, para que nos ajudem nessa peleja, porque essa peleja é uma peleja legítima a defender os interesses daqueles que vivem nessa região. Nós estamos disputando o cargo de Prefeito Municipal, não por vaidade. Absolutamente! Não por aventureirismo. Nós estamos disputando, porque verificamos que dispomos das condições necessárias para trazer a esta coletividade o dinheiro que seja necessário à construção de obras, à abertura de outras atividades, à instalação de novas empresas que tragam os benefícios ao povo, que tragam a felicidade desta região. Dessa forma, nós nos encontramos na condição de carrear para a nossa gente, toda sorte de benefícios para assegurar a felicidade do nosso povo e o engrandecimento da nossa cidade”. Ao finalizar seu discurso, ele disse: “Eu estou oferecendo um prêmio, eu estou oferecendo um serviço, estou oferecendo os meus conhecimentos nas últimas décadas da vida. Quero trazer isso como prêmio para o meu povo, para minha gente, trabalhando, conseguindo recursos, encaminhando estudantes, conseguindo o aprimoramento do ofício daqueles que laboram aqui dentro de nossas fronteiras”. Ele se doou por inteiro ao povo de Poxoréo.

Rochinha foi um grande intelectual. Membro da UPE - União Poxorense de Escritores, ele escreveu vários artigos que foram publicados em diversos jornais. Ao lado de João José Freire, Joaquim Dias Coutinho, foi um dos fundadores do Jornal Correio de Poxoréo, no qual registrou muito do seu pensamento. Mas a sua sede pela cultura e pelo conhecimento nunca foi saciada.  Pouco antes de sua morte, ele esteve em minha casa para conversar comigo. Ele sempre me procurara para tratar sobre assuntos profissionais e eu pensava que nossa conversa daquele dia versaria sobre a pauta costumeira. Mas não foi assim. Ele puxou da memória a história e conversamos durante mais de hora sobre diversos assuntos da cultura geral. E dias depois, em nossa última conversa por telefone, ele me solicitou que pesquisasse e o informasse sobre quem fora o filho que Júlio César teve com Cleópatra, quando andou lá pelas bandas do Egito. Infelizmente não pude passar-lhe a informação, pois logo ele adoeceu e foi em busca de tratamento especializado na Capital. Daniel, seu neto, disse que guardaria do avô, o seu o último sorriso. De minha parte, sempre guardarei dele, como última lembrança, esse seu interesse apaixonante pelo conhecimento, pelo qual me inspiro a continuar buscando as respostas para os novos problemas que a atual era do conhecimento irá desafiar-nos.

Joaquim Nunes Rocha faleceu em 20 de outubro de 2001.

No dia seguinte eu registrei: Até breve, Rochinha! Não te daremos um adeus, mas um até breve, na certeza de que logo nos encontraremos na eternidade dos céus, onde os dias não são contados. Que sua dedicação e seu amor por esta terra doce e amada chamada Poxoréo, continue sendo uma inspiração para aqueles que continuarem a sua trajetória no governo deste Município e deste Estado. Seja também nosso o "obrigado" que Pe. Pietro Melesi, da Missão Salesiana de Mato Grosso lhe fez postumamente. Obrigado, de coração, pelo seu exemplo concreto de liderança.

Ter sido um dos amigos de Rochinha será sempre uma honraria para todos que tiveram tal privilégio. Nós nos sentimos honrados nesse sentido. E queremos dizer como nossas últimas palavras nas comemorações desse centenário de seu nascimento, que haveremos de envidar todos os esforços para continuar a sua luta pela felicidade de Poxoréu.

Que Deus nos ilumine a todos!


* Izaias Resplandes de Sousa é advogado, professor e escritor mato-grossense. É membro da União Poxorense de Escritores e do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu, MT.