quarta-feira, 20 de abril de 2011

É tempo de acampar

Cachoeira do Lucas, em Poxoréu, MT.


* Izaias Resplandes

A cidade é maravilhosa, cheia de cores, cheiros, sabores... Encantos que sempre cabem nos bolsos e bolsas de cada um. É quase certo que se pode encontrar qualquer coisa que se procurar. Eu sou urbano. Embora tenha nascido no campo, aos dez anos eu fui viver na cidade e me apaixonei por suas luzes, pelo seu esplendor, pela beleza das magníficas construções e até pelo corre-corre de seu movimento.
Eu ainda me lembro de quando cheguei em Alto Araguaia, MT, na divisa com Goiás, nos idos de 1969, para estudar no Ginásio Pe. Carletti. Era tardezinha. Começava a turvar. Então, após uma curva da estrada eu avistei as luzes da cidade. Quantas luzes! Que coisa linda! Aquela imagem nunca mais se apagou da minha mente. Para mim fora como se estivesse chegando ao céu. Que encanto! Amor à primeira vista.
Dois anos depois eu fui à loucura. Nós nos mudamos para Goiânia, GO. Aquilo não era cidade. Era uma “coisa absurda”. Para todo lado que a gente olhava só se viam prédios e mais prédios, cada um mais alto do que o outro. Passamos vários anos andando a pé de um lado para outro, conhecendo aquela maravilhosa cidade. A gente só tem condições de conhecer uma cidade andando por suas ruas, becos e praças. Que comidas deliciosas, que cheiros, que perfumes! O Mercado Central era um dos meus lugares preferidos, mas eu também gostava do Parque Mutirama, do Jardim Zoológico, dos cinemas... Ali tinha de tudo que a gente pudesse imaginar. Eu amei Goiânia, casei com uma goiana, sou esmeraldino (torcedor do Goiás Esporte Clube) e daqui a alguns dias estará nascendo Davi, o meu neto goianiense.
Mas nada é para sempre. Até um amor pode ser substituído por outro amor. Só as idéias são eternas. A vida é volátil, passageira e está em constante mutação. Então eu saí de Goiás e vim para Poxoréu com a intenção de ficar. Meu Deus! Foi uma mudança radical. Esta cidade não tinha nada a ver com aquela. Sei que após a noite, vem o dia; que após a tempestade vem a calmaria, mas haja paciência.
Eu sofri bastante nos meus primeiros meses em Poxoréu. O ser humano vive fazendo comparações. E eu ficava irritado quando queria uma coisa e não encontrava aqui. Então eu ficava bravo com minha família que havia insistido comigo para que viesse morar nesta cidade. Eu dizia que não sabia onde estava com a cabeça para vir parar nesse buraco. E meus irmãos que já viviam aqui e gostavam do lugar, me escutavam de forma compreensiva, sem replicar, sabendo que o tempo haveria de me transformar. E assim aconteceu.
O tempo foi passando, passando... Comecei a tomar gosto por Poxoréu. Passei a apreciar seu relevo, seus morros, seus rios, sua gente... Fiz amigos, fui convidado para escrever. Primeiro, no jornal “A Seiva”, da Escola Pe. César Albisetti; depois fundei “A Gazeta do Estudante” e, através dela cheguei ao “Correio de Poxoréo”, um antigo jornal da cidade, fundado em 1939 por João José Freire, Joaquim Dias Coutinho, Joaquim Nunes Rocha e que já teve entre seus redatores, o historiador Jurandir da Cruz Xavier e o jornalista Weller Marcos.
Na medida em que eu escrevia sobre Poxoréu e para o povo da região eu fui amando cada vez mais essa cidade. Hoje, Goiânia já não me fascina mais do que o encanto de Poxoréu. Aqui existe a paz e o sossego divino. Há lugares maravilhosos, cada um mais lindo do que o outro.
Deus foi generoso com Poxoréu. Deu-lhe um relevo espetacular. Este é o lugar para se descansar do corre-corre da cidade grande sem quase sair da cidade. Esta é uma cidade rural, com excelentes recantos para se acampar, ouvir a voz da natureza, o canto dos pássaros multicores... Aqui é possível tomar banho de cachoeira (há tantas!), pescar de canoa no rio Poxoréu, descer de caiaque no rio das Mortes...
Então a hora é agora. Para esta semana santa e esse feriadão de quatro dias, não há nada melhor do que abraçar a terra, beijar a flor, cantar para a lua cheia e fazer uma seresta de amor para a natureza. Com certeza, esse é um dos melhores tempos para se acampar por aqui neste ano.

*Izaias Resplandes é advogado, gerente de cidades, professor e presidente da União Poxorense de Escritores.

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