sábado, 30 de abril de 2011

DIA DO TRABALHO: UMA CRÔNICA APENAS

Escritores: Toninho Nogueira, Gaudêncio Amorim, JB Cavalcante e Izaias Resplandes


Prof. Gaudêncio Amorim
O 1º domingo de maio de 2011 é um domingo de paz, diferente daquele dia 03 de maio de 1886 em que na Chicago americana os confrontos contra as condições desumanas de trabalho e jornada estressante de 13 horas diárias influenciaria a história da humanidade e que mais tarde se tornaria data de comemoração do dia do trabalho, cuja reserva nos sugere repensar o mundo trabalho sob impacto da globalização na era capitalista.
Um pouco de história não faz mal, afinal, pensar os fatos sem uma referência é deixar nossa razão em ponto morto, como afirmava o filosofo alemão Imanuel Kant ou permanecer uma tabula rasa, conforme ensina o pensamento Lockeano.
Ademais, não podemos pensar algo sem o seu correspondente real e é neste particular a afirmação de Hegel, de que “a filosofia sempre chaga tarde”. Então vamos filosofar e para ser fiel a expressão, vamos “pensar no já pensado”, como Kant conceituara a filosofia. Pois bem: Naquela data, Milhares de trabalhadores protestavam e houve vários confrontos dos manifestantes com a polícia. No dia seguinte, esses confrontos se intensificaram, resultando na morte de diversos manifestantes. As manifestações e os protestos realizados pelos trabalhadores ficaram conhecidos como a Revolta de Haymarket.
Em 20 de junho de 1889, em Paris, a central sindical chamada Segunda Internacional instituiu o mesmo dia das manifestações como data máxima dos trabalhadores organizados, para assim, lutar pelas 8 horas de trabalho diário. Em 23 de abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de trabalho de 8 horas e proclamou o dia 1° de maio como feriado nacional.
Após a França estabelecer o Dia do Trabalho, a Rússia foi o primeiro país a adotar a data comemorativa, em 1920. No Brasil, a data foi consolidada em 1924 no governo de Artur Bernardes. Além disso, a partir do governo de Getúlio Vargas, as principais medidas de benefício ao trabalhador passaram a ser anunciadas nesta data. Atualmente, inúmeros países adotam o dia 1° de maio como o Dia do Trabalho, sendo considerado feriado em muitos deles.
Pela história dessa data, não há como falar de trabalho sem nos atermos as lutas de classes e de formação do proletariado de inspiração socialista capitaneada por Karl Marx, principal teórico do socialismo científico a partir do seu “Manifesto Comunista” em 1848, com F. Engels.
É de se notar que mesmo sem a utopia corporativa e universal do socialismo, cujas experiências se restringiram a Rússia de Lênin e Josef Stalin, a partir de 1917 e a China de Mao Tsung em 1949 o socialismo marxista influenciou o dia do trabalho, já que suas idéias contra o modo de produção capitalista resultou nas reflexões da categoria nas internacionais, tendo como referência a segunda que instituiu o dia do trabalho e também o direito de greve, sobressaindo, mais tarde, as teorias do materialismo histórico dialético, proletariado, luta de classe, mais valia, as quais passaram subsidiar inúmeras correntes de pensamento. Por isso, afirmo que este dia é um dia de comemoração, não de descanso, senão pela memória inigualável do patrono Marx, mas pelas conquistas práticas a que chegaram suas idéias a partir do sec. XX, tanto no que se refere a liberdade de pensamento e ação, quanto as melhoria das condições de trabalho e na possibilidade real, apesar ainda da exploração e alienação do trabalhador, de uma mobilidade social ascendente ou ainda uma evolução da estratificação profissional e econômica.
Essa data é um marco do exorcismo dos velhos fantasmas que reduzia o ser humano à coisificação, uma matéria sem vontade, sem vida para uma relação menos opressora materializada no direito e sem a necessidade de lutar pelo direito de ter direito, mas de se cumprir o direito reconhecido e legitimado.
De alguma forma, o trabalho sempre esteve vinculado ao homem, mesmo durante o primitivismo histórico distante do trabalho assalariado imputado pela onda das revoluções industriais, cuja existência denotou os extremos da oferta e da procura sob o impacto do liberalismo inglês teorizado por Locke. O próprio Marx afirmava que o trabalho é digno do homem, não a exploração predatória da sua força de trabalho, como condenado ao castigo de não possuir os meios e instrumentos de produção e assim, de algum modo o trabalho nos espelha, basta observar a afirmação de Charles Schulz: “O que fazemos durante as horas de trabalho determina o que temos; o que fazemos nas horas de lazer determina o que somos.”
É, neste diapasão nossa reflexão, pequena é bem verdade, mas uma oportunidade para repensar os caminhos íngremes pelos quais passou o trabalhador na história da humanidade, seja qual for o trabalho, pois não o classificamos em tipos, mas ao ato de laborar, de fazer algo para reproduzir nossa existência ou melhorar a qualidade de vida ao patamar da dignidade humana, pois como afirma Elena Bonner: Assim com não existem pessoas pequenas na vida, sem importância, também não existe trabalho insignificante”.

Finalmente, à guisa de conclusão desta crônica, resta uma centelha de luz, esperançoso que a história do trabalho nos faça pensar, que utilizemos o descanso para descansar trabalhando o nosso pensamento, como um artesão que se preocupa em “como usar o tempo e não como passar o tempo, sem a triste constatação de Henry Ford, para o qual, “Pensar é o trabalho mais pesado que há, e talvez seja essa a razão para tão poucos se dedicarem a isso.". vamos fazer do pensamento um lazer que, sem nenhum fardo pesado, possa nos dar prazer e leveza humana..
*Gaudêncio Amorim. Poeta. Escritor. Compositor filiado a UPE e Professor de Filosofia e Sociologia da E.E. Pe. Cesar Albisetti em Poxoréu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário