Prof.Gaudêncio Amorim
A pedagogia moderna, assim como as pedagogias, ao longo da história brasileira, modela-se e remodela-se, conforme o paradigma da época, adaptando-se as correntes intelectuais que mais se identifica, porém, com ênfase no modelo ideológico vigente que a inspira ou fundamenta.
É verdade que em todos os momentos históricos, a pedagogia demonstrou imensa preocupação com a formação intelectual dos educandos, mas é também verdade que ela se curvou frente á imposição capitalista do modelo neoliberal, embora a maioria dos profissionais que a praticam não se dão conta do fenômeno e, por isso mesmo, a legitimam o que, também, é aceitável tendo em vista as regras estruturais impostas pelo próprio sistema, afinal é muito mais cômodo seguir a correnteza do que lutar contra.
É de se considerar que até o governo Lula, a educação brasileira viveu os paradigmas dos acordos internacionais e a eles se sujeitavam, haja vista a subordinação natural da relação econômica com a elite dominante, caracterizada pelo poderio do Fundo Monetário Internacional que, entre outras obrigações, exigia a diminuição do fracasso escolar, público e notório entre os alunos egressos de famílias dos estratos populares de baixa renda; No 2° mandato do governo Lula tal exigência não se impunha, pelo menos com o vigor de antes, já que a dívida externa, típica do subdesenvolvimento e característica principal da dependência econômica de países desenvolvidos estava controlada; já não crescia ao patamar da dependência absoluta em comparação com os períodos anteriores da história brasileira desde de Dom João VI, o qual endividou-se com bancos ingleses e sobreviveu dos acordos econômicos com a Inglaterra, desde a proteção da Marinha Inglesa a sua comitiva em 1807, quando fugia das tropas de Napoleão Bonapart.
Já está provado que a tática educacional de premiar e punir não educa ninguém e se assim agirmos, muito provavelmente, reataríamos a educação dos sofistas como “mercadores do conhecimento” e postando nossa didática na contramão da difusão do verdadeiro conhecimento (no sentido da amplitude), matando todos os Sócrates (como fizera os Sofistas) e fazendo com que nossos alunos permaneçam presos à caverna platônica, ignorando a luz e se dando por satisfeitos com as sombras que povoam seus olhos na longevidade dos seus dias, e nós, orgulhosos (ou não ) do nosso ofício, fingindo que ensinamos enquanto os alunos, pelas estatísticas fingiram que aprenderam.
A educação, para ser justa, necessita da produção de iguais, pelo menos uma cópia pálida de um DNA de conhecimento com uma mutação pelo menos equivalente ou ainda melhor que os intelectuais de nossa época. Senão assim, é provável que vislumbraremos a centelha de luz, cada vez mais distante no horizonte, marcando passos no conhecimento proximal ou então, um conhecimento que, no estágio para conhecimento verdadeiro, tornou-se o próprio produto do conhecimento, dando-nos por satisfeitos, sem esperanças, céticos, numa dimensão egoísta como se dissesse: “não está bom para todos, mas está bom para mim”.
Nunca foi tão propalada a necessidade da majoração estatísticas das aprovações. Com efeito, este é um estágio que, face do desenvolvimento econômico e tecnológico a que chegou nosso país não mais se justifica, antes, já não era procedente a conduta da punição dos alunos com o fracasso escolar, embora pudesse aceitar o fenômeno, entre os vários condicionantes, com pelo menos duas vertentes: uma, de origem econômica, assentada na produção primária de um país ainda muito subdesenvolvido, outra, na formação dos intelectuais, eivado dos vícios que determinavam a punição para aqueles que não logravam êxito frente às exigências do mercado dominante, de modo que sobressaia-se, uma pedagogia reprodutiva do sistema e, em pouco ou quase nada colaborava para emancipação do educando. Entretanto, hoje, é de se exigir que o sucesso escolar não seja demonstrado apenas na variação numérica, na majoração matemática, indicada de forma estanque por um número crescente, como se os números explicassem tudo, como afirmara Pitágoras, no Sec. VI a.C. É preciso inquietar-se com a qualidade estatística que cresce, ou seja, com a dimensão espacial do número e com a possibilidade de transformação dos espaços ocupados por eles.
Explicar a educação pelo crescimento estatístico pode ser um vôo solitário se as ações daqueles que o demonstram não puderem espelhar tais resultados na expectativa social ou se, por outro lado, constatarem que o pouco conhecimento que adquiriram ainda se constitui uma alavanca frágil na concorrência com o Capital, marcado pela excelência do TER.
Assim, se o teor acima fizer sentido para uma reflexão preliminar de nossas práticas, não exalando como éter que se dissolve na oposição do ar, é possível produzir uma discussão capaz de evoluir de uma escola com alunos para alunos com escola.
Gaudêncio Amorim, 1º Vice-Presidente da UPE (gestão 2011/2012) é Professor de Filosofia e Sociologia da E.E.Pe. Cesar Albisetti, em Poxoréu, MT.