sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Júlio Muller comemora a vitória de Maria Eduarda no Recital Upenino 2012


As professoras Neinha e Suizzi, integrantes da Equipe Gestora da Escola Júlio Muller, comemora a vitória de sua aluna Maria Eduarda, do 1º ano (segundo informações de Elisângela Maria Francisca). Ela recitou a poesia "Sertanejo", de Graciano Araíjo.


 A apresentação de Maria Eduarda foi excepcional. Ela realmente emocionou o público com sua interpretação.


SERTANEJO

 Sou um pobre peregrino
Que veio lá do sertão
De onde deixei Maria,
José e meu irmão...


Terra de gente sofrida
Que anda de pés no chão
Tentando tirar da terra
A sua alimentação...


O senhor não sabe, seu moço,
Como sofre o meu sertão
Que dói aqui no meu peito
Ver essa gente na mão...


Moço trabalhei duro
por esse sertão sofrido
Mas a seca foi demais
Não vi meu feijão florido.


Saia na madrugada
E corria pelo estradão
O sol queimando o meu rosto
Meus pés ardendo no chão...


Abri cavas, plantei milho,
Plantei soja e algodão
Na esperança que a chuva
Molhasse minha plantação...


A chuva lá não caiu
Perdi minha plantação
Perdi meu boi, meu jumento,
Toda a minha criação...


O milho já não dá mais
Não dá o trigo, nem feijão
Por isso morreu de fome
Maria, José e meu irmão...


E coitado do meu jegue
Não se aguentava mais de pé
De tanto que passou fome
Ficou jogado a migue...


O senhor devia ver, seu moço,
Como estava a minha vaquinha,
Coitadinha, tava no coro e no osso
Não se aguentava mais de é a coitadinha.


O governo nada faz
Pra melhorar a situação
só olha pra´quelas bandas
Em época de eleição...


Não quer saber como sofre
O coitado do meu irmão
Não quer saber do nordeste
Não olha pro meu sertão...


Resolvi ser andarilho
E abandonei meu sertão
Por isso corro essas terras
Mostrando as chagas da mão.

Graciano Araújo
27/04/2009

Disponível em: http://sitedepoesias.com/poesias/42081. Acesso em 14 nov. 2012.

Abaixo uma linda poesia do Patativa do Assaré

Patativa do Assaré: Vida Sertaneja

Sou matuto sertanejo,
Daquele matuto pobre
Que não tem gado nem quêjo,
Nem ôro, prata, nem cobre.
Sou sertanejo rocêro,
Eu trabaio o dia intêro,
Que seja inverno ou verão.
Minhas mão é calejada,
Minha péia é bronzeada
Da quintura do sertão.

 Por força da natureza,
Sou poeta nordestino,
Porém só canto a pobreza
Do meu mundo pequenino.
Eu não sei cantá as gulora,
Também não canto as vitora
Dos herói com seus brasão,
Nem o má com suas água...
Só sei cantá minhas mágua
E as mágua de meus irmão.

Canto a vida desta gente
Que trabaia inté morrê
Sirrindo, alegre e contente,
Sem dá fé do padecê,
Desta gente sem leitura,
Que, mesmo na desventura,
Se sente alegre e feliz,
Sem nada sabê na terra,
Sem sabê se existe guerra
De país cronta país.

Eu canto o forte cabôco,
De gibão e chapéu de côro,
Que, com corage de lôco,
Infrenta a raiva do tôro
Com um agudo ferrão.
E das noite de São João
Eu canto as bela foguêra
Com seu fogo milagroso,
Segredo misterioso
Das moça casamentêra.

Eu canto o sertão querido,
A fonte dos meus poema,
Onde se iscuta o tinido
Do grito da sariema
E onde o sertanejo véio
Observa os Evangéio
E nas noite de luá,
Sirrindo, alegre e ditoso,
Conta istora de Trancoso
Para o seu neto iscutá.

 Sou sertanejo e me gabo
De já tê visto o vaquêro,
Atrás do novio brabo
Atravessá o tabulêro.
Amo a vida camponesa,
Nunca invejei a beleza
E a fantasia da praça.
Eu sou irmão do cabôco,
Que ri, que zomba e faz pôco
Da sua própia desgraça.


 Cabôco que não cubiça
Riqueza nem posição
E nem aceita a maliça
Morá no seu coração.
Cabôco que, nesta vida,
Além da sua comida,
O que mais estima e qué,
É a paz, a honra e o brio,
O carinho de seus fio
E a bondade da muié.

O que mais preza e percura
O matuto camponês
É não quebrá sua jura,
Que, no casamento, fez.
Sem enfado e sem preguiça,
Quando vai uvi a missa,
De paz, amô e alegria,
Leva o seu coração cheio,
Prumode uvi os consêio
Do padre da freguezia.

 E assim, na sua peleja,
Com a famia que tem,
Não inveja nem deseja
O gozo de seu ninguém.
Mas, por infelicidade,
Cronta seu gosto e vontade,
Munta vez, o pobre vê
A muié morrê de parto,
Gemendo dentro de um quarto,
Sem ninguém lhe socorrê.

 Morre aquela criatura,
Depois, a pobre coitada,
No rumo da sepultura,
Vai numa rêde imbruiada.
Um adjunto de gente,
Uns atrás, ôtros na frente,
Num apressado rojão,
Quando um sorta, o ôtro pega:
É assim que se carrega
Morto pobre, no sertão.

 Fica, o viúvo, coitado!
De arma triste e dilurida,
Para sempre separado
Do mió de sua vida,
Mas, porém, não percebeu
Que a sua muié morreu,
Só por fartá um dotô.
E, como nada conhece,
Diz, rezando a sua prece:
Foi Deus que ditriminou!

 Pensando assim desta forma,
Resignado, padece;
Paciente, se conforma
Com as coisa que acontece.
Coitado! Ignora tudo,
Pois ele não tem estudo,
Também não tem assistença.
E por nada conhecê
Em tudo o camponês vê
O dedo da Providença.

 Só a coisa que o matuto
Conhece, repara e vê
É tê que pagá tributo
Sem ninguém lhe socorrê,
É derramá seu suó,
Com paciença de Jó,
Mode botá seu roçado,
Esperto, forte e disposto
E tê que pagá imposto
Sem ninguém tê lhe ajudado.

 Às vez, alegre e contente,
Quanto é tempo de fartura,
Ele diz pra sua gente:
Nossa safra tá segura!
Mas, de repente, intristece,
Pruquê magina e conhece
Que os home de posição
Só óia para o seu rosto
Pra ele pagá imposto
Ou votá nas inleição.

Quando aparece um sujeito,
De gravata e palitó,
Todo alegre e sastifeito,
Como quem caça xodó,
O matuto experiente
Repara pra sua gente
E, sem tê medo de errá,
Diz, com um certo desgosto:
<Ou pedi pra nóis votá>>

 Patativa do Assaré
Cante lá que eu canto cá - Filosofia de um trovador nordestino
Editora Vozes - 5ª edição - 1984

 



Um comentário:

  1. Maria do Socorro Castro Soares10 de novembro de 2012 às 09:56

    Parabéns a essa jovem por ter interpretado esse grande poeta cearense.Patativa do Assaré soube, como ninguém, exteriorizar o que vai na alma do sertanejo nordestino. Parabéns extensivo a toda equipe organizadora do evento. Poxoréo merece!
    Maria do Socorro Castro Soares

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