As professoras Neinha e Suizzi, integrantes da Equipe Gestora da Escola Júlio Muller, comemora a vitória de sua aluna Maria Eduarda, do 1º ano (segundo informações de Elisângela Maria Francisca). Ela recitou a poesia "Sertanejo", de Graciano Araíjo.
27/04/2009
Disponível em: http://sitedepoesias.com/poesias/42081. Acesso em 14 nov. 2012.
Abaixo uma linda poesia do Patativa do Assaré
Daquele matuto pobre
Que não tem gado nem quêjo,
Nem ôro, prata, nem cobre.
Sou sertanejo rocêro,
Eu trabaio o dia intêro,
Que seja inverno ou verão.
Minhas mão é calejada,
Minha péia é bronzeada
Da quintura do sertão.
Por força da natureza,
Sou poeta nordestino,
Porém só canto a pobreza
Do meu mundo pequenino.
Eu não sei cantá as gulora,
Também não canto as vitora
Dos herói com seus brasão,
Nem o má com suas água...
Só sei cantá minhas mágua
E as mágua de meus irmão.
Canto a vida desta gente
Que trabaia inté morrê
Sirrindo, alegre e contente,
Sem dá fé do padecê,
Desta gente sem leitura,
Que, mesmo na desventura,
Se sente alegre e feliz,
Sem nada sabê na terra,
Sem sabê se existe guerra
De país cronta país.
Eu canto o forte cabôco,
De gibão e chapéu de côro,
Que, com corage de lôco,
Infrenta a raiva do tôro
Com um agudo ferrão.
E das noite de São João
Eu canto as bela foguêra
Com seu fogo milagroso,
Segredo misterioso
Das moça casamentêra.
Eu canto o sertão querido,
A fonte dos meus poema,
Onde se iscuta o tinido
Do grito da sariema
E onde o sertanejo véio
Observa os Evangéio
E nas noite de luá,
Sirrindo, alegre e ditoso,
Conta istora de Trancoso
Para o seu neto iscutá.
Sou sertanejo e me gabo
De já tê visto o vaquêro,
Atrás do novio brabo
Atravessá o tabulêro.
Amo a vida camponesa,
Nunca invejei a beleza
E a fantasia da praça.
Eu sou irmão do cabôco,
Que ri, que zomba e faz pôco
Da sua própia desgraça.
Cabôco que não cubiça
Riqueza nem posição
E nem aceita a maliça
Morá no seu coração.
Cabôco que, nesta vida,
Além da sua comida,
O que mais estima e qué,
É a paz, a honra e o brio,
O carinho de seus fio
E a bondade da muié.
O que mais preza e percura
O matuto camponês
É não quebrá sua jura,
Que, no casamento, fez.
Sem enfado e sem preguiça,
Quando vai uvi a missa,
De paz, amô e alegria,
Leva o seu coração cheio,
Prumode uvi os consêio
Do padre da freguezia.
E assim, na sua peleja,
Com a famia que tem,
Não inveja nem deseja
O gozo de seu ninguém.
Mas, por infelicidade,
Cronta seu gosto e vontade,
Munta vez, o pobre vê
A muié morrê de parto,
Gemendo dentro de um quarto,
Sem ninguém lhe socorrê.
Morre aquela criatura,
Depois, a pobre coitada,
No rumo da sepultura,
Vai numa rêde imbruiada.
Um adjunto de gente,
Uns atrás, ôtros na frente,
Num apressado rojão,
Quando um sorta, o ôtro pega:
É assim que se carrega
Morto pobre, no sertão.
Fica, o viúvo, coitado!
De arma triste e dilurida,
Para sempre separado
Do mió de sua vida,
Mas, porém, não percebeu
Que a sua muié morreu,
Só por fartá um dotô.
E, como nada conhece,
Diz, rezando a sua prece:
Foi Deus que ditriminou!
Pensando assim desta forma,
Resignado, padece;
Paciente, se conforma
Com as coisa que acontece.
Coitado! Ignora tudo,
Pois ele não tem estudo,
Também não tem assistença.
E por nada conhecê
Em tudo o camponês vê
O dedo da Providença.
Só a coisa que o matuto
Conhece, repara e vê
É tê que pagá tributo
Sem ninguém lhe socorrê,
É derramá seu suó,
Com paciença de Jó,
Mode botá seu roçado,
Esperto, forte e disposto
E tê que pagá imposto
Sem ninguém tê lhe ajudado.
Às vez, alegre e contente,
Quanto é tempo de fartura,
Ele diz pra sua gente:
Nossa safra tá segura!
Mas, de repente, intristece,
Pruquê magina e conhece
Que os home de posição
Só óia para o seu rosto
Pra ele pagá imposto
Ou votá nas inleição.
Quando aparece um sujeito,
De gravata e palitó,
Todo alegre e sastifeito,
Como quem caça xodó,
O matuto experiente
Repara pra sua gente
E, sem tê medo de errá,
Diz, com um certo desgosto:
<Ou pedi pra nóis votá>>
Patativa do Assaré
Cante lá que eu canto cá - Filosofia de um trovador nordestino
Editora Vozes - 5ª edição - 1984
A apresentação de Maria Eduarda foi excepcional. Ela realmente emocionou o público com sua interpretação.
SERTANEJO
Sou um pobre peregrino
Que veio lá do sertão
De onde deixei Maria,
José e meu irmão...
Terra de gente sofrida
Que anda de pés no chão
Tentando tirar da terra
A sua alimentação...
O senhor não sabe, seu moço,
Como sofre o meu sertão
Que dói aqui no meu peito
Ver essa gente na mão...
Moço trabalhei duro
por esse sertão sofrido
Mas a seca foi demais
Não vi meu feijão florido.
Saia na madrugada
E corria pelo estradão
O sol queimando o meu rosto
Meus pés ardendo no chão...
Abri cavas, plantei milho,
Plantei soja e algodão
Na esperança que a chuva
Molhasse minha plantação...
A chuva lá não caiu
Perdi minha plantação
Perdi meu boi, meu jumento,
Toda a minha criação...
O milho já não dá mais
Não dá o trigo, nem feijão
Por isso morreu de fome
Maria, José e meu irmão...
E coitado do meu jegue
Não se aguentava mais de pé
De tanto que passou fome
Ficou jogado a migue...
O senhor devia ver, seu moço,
Como estava a minha vaquinha,
Coitadinha, tava no coro e no osso
Não se aguentava mais de é a coitadinha.
O governo nada faz
Pra melhorar a situação
só olha pra´quelas bandas
Em época de eleição...
Não quer saber como sofre
O coitado do meu irmão
Não quer saber do nordeste
Não olha pro meu sertão...
Resolvi ser andarilho
E abandonei meu sertão
Por isso corro essas terras
Mostrando as chagas da mão.
Graciano AraújoQue veio lá do sertão
De onde deixei Maria,
José e meu irmão...
Terra de gente sofrida
Que anda de pés no chão
Tentando tirar da terra
A sua alimentação...
O senhor não sabe, seu moço,
Como sofre o meu sertão
Que dói aqui no meu peito
Ver essa gente na mão...
Moço trabalhei duro
por esse sertão sofrido
Mas a seca foi demais
Não vi meu feijão florido.
Saia na madrugada
E corria pelo estradão
O sol queimando o meu rosto
Meus pés ardendo no chão...
Abri cavas, plantei milho,
Plantei soja e algodão
Na esperança que a chuva
Molhasse minha plantação...
A chuva lá não caiu
Perdi minha plantação
Perdi meu boi, meu jumento,
Toda a minha criação...
O milho já não dá mais
Não dá o trigo, nem feijão
Por isso morreu de fome
Maria, José e meu irmão...
E coitado do meu jegue
Não se aguentava mais de pé
De tanto que passou fome
Ficou jogado a migue...
O senhor devia ver, seu moço,
Como estava a minha vaquinha,
Coitadinha, tava no coro e no osso
Não se aguentava mais de é a coitadinha.
O governo nada faz
Pra melhorar a situação
só olha pra´quelas bandas
Em época de eleição...
Não quer saber como sofre
O coitado do meu irmão
Não quer saber do nordeste
Não olha pro meu sertão...
Resolvi ser andarilho
E abandonei meu sertão
Por isso corro essas terras
Mostrando as chagas da mão.
27/04/2009
Disponível em: http://sitedepoesias.com/poesias/42081. Acesso em 14 nov. 2012.
Abaixo uma linda poesia do Patativa do Assaré
Patativa do Assaré: Vida Sertaneja
Sou matuto sertanejo,Daquele matuto pobre
Que não tem gado nem quêjo,
Nem ôro, prata, nem cobre.
Sou sertanejo rocêro,
Eu trabaio o dia intêro,
Que seja inverno ou verão.
Minhas mão é calejada,
Minha péia é bronzeada
Da quintura do sertão.
Por força da natureza,
Sou poeta nordestino,
Porém só canto a pobreza
Do meu mundo pequenino.
Eu não sei cantá as gulora,
Também não canto as vitora
Dos herói com seus brasão,
Nem o má com suas água...
Só sei cantá minhas mágua
E as mágua de meus irmão.
Canto a vida desta gente
Que trabaia inté morrê
Sirrindo, alegre e contente,
Sem dá fé do padecê,
Desta gente sem leitura,
Que, mesmo na desventura,
Se sente alegre e feliz,
Sem nada sabê na terra,
Sem sabê se existe guerra
De país cronta país.
Eu canto o forte cabôco,
De gibão e chapéu de côro,
Que, com corage de lôco,
Infrenta a raiva do tôro
Com um agudo ferrão.
E das noite de São João
Eu canto as bela foguêra
Com seu fogo milagroso,
Segredo misterioso
Das moça casamentêra.
Eu canto o sertão querido,
A fonte dos meus poema,
Onde se iscuta o tinido
Do grito da sariema
E onde o sertanejo véio
Observa os Evangéio
E nas noite de luá,
Sirrindo, alegre e ditoso,
Conta istora de Trancoso
Para o seu neto iscutá.
Sou sertanejo e me gabo
De já tê visto o vaquêro,
Atrás do novio brabo
Atravessá o tabulêro.
Amo a vida camponesa,
Nunca invejei a beleza
E a fantasia da praça.
Eu sou irmão do cabôco,
Que ri, que zomba e faz pôco
Da sua própia desgraça.
Cabôco que não cubiça
Riqueza nem posição
E nem aceita a maliça
Morá no seu coração.
Cabôco que, nesta vida,
Além da sua comida,
O que mais estima e qué,
É a paz, a honra e o brio,
O carinho de seus fio
E a bondade da muié.
O que mais preza e percura
O matuto camponês
É não quebrá sua jura,
Que, no casamento, fez.
Sem enfado e sem preguiça,
Quando vai uvi a missa,
De paz, amô e alegria,
Leva o seu coração cheio,
Prumode uvi os consêio
Do padre da freguezia.
E assim, na sua peleja,
Com a famia que tem,
Não inveja nem deseja
O gozo de seu ninguém.
Mas, por infelicidade,
Cronta seu gosto e vontade,
Munta vez, o pobre vê
A muié morrê de parto,
Gemendo dentro de um quarto,
Sem ninguém lhe socorrê.
Morre aquela criatura,
Depois, a pobre coitada,
No rumo da sepultura,
Vai numa rêde imbruiada.
Um adjunto de gente,
Uns atrás, ôtros na frente,
Num apressado rojão,
Quando um sorta, o ôtro pega:
É assim que se carrega
Morto pobre, no sertão.
Fica, o viúvo, coitado!
De arma triste e dilurida,
Para sempre separado
Do mió de sua vida,
Mas, porém, não percebeu
Que a sua muié morreu,
Só por fartá um dotô.
E, como nada conhece,
Diz, rezando a sua prece:
Foi Deus que ditriminou!
Pensando assim desta forma,
Resignado, padece;
Paciente, se conforma
Com as coisa que acontece.
Coitado! Ignora tudo,
Pois ele não tem estudo,
Também não tem assistença.
E por nada conhecê
Em tudo o camponês vê
O dedo da Providença.
Só a coisa que o matuto
Conhece, repara e vê
É tê que pagá tributo
Sem ninguém lhe socorrê,
É derramá seu suó,
Com paciença de Jó,
Mode botá seu roçado,
Esperto, forte e disposto
E tê que pagá imposto
Sem ninguém tê lhe ajudado.
Às vez, alegre e contente,
Quanto é tempo de fartura,
Ele diz pra sua gente:
Nossa safra tá segura!
Mas, de repente, intristece,
Pruquê magina e conhece
Que os home de posição
Só óia para o seu rosto
Pra ele pagá imposto
Ou votá nas inleição.
Quando aparece um sujeito,
De gravata e palitó,
Todo alegre e sastifeito,
Como quem caça xodó,
O matuto experiente
Repara pra sua gente
E, sem tê medo de errá,
Diz, com um certo desgosto:
<
Patativa do Assaré
Cante lá que eu canto cá - Filosofia de um trovador nordestino
Editora Vozes - 5ª edição - 1984
Parabéns a essa jovem por ter interpretado esse grande poeta cearense.Patativa do Assaré soube, como ninguém, exteriorizar o que vai na alma do sertanejo nordestino. Parabéns extensivo a toda equipe organizadora do evento. Poxoréo merece!
ResponderExcluirMaria do Socorro Castro Soares