sábado, 10 de novembro de 2012

Educação infantil brilha no Recital Upenino


Gente, que maravilha poder ver aqueles pingos de gente declamando poesia que nem gente grande. Foi maravilhoso estar lá no Externato São José ontem para vê-los, para apoiá-los e para aplaudi-los. 
O pequeno Arthur (foto abaixo) foi classificado em primeiro lugar na Educação Infantil.

 A profª Girlane Rosa Campos Macedo ficou muito satisfeita com a apresentação de seu filho Samuel. Ela escreveu em sua rede social:


Gente, quem nao foi no festival ontem, perdeu! Quantas estrelas brilhando no palco!!! Em especial, Samuel! Meu filhinho de apenas 7 anos abrilhantou a noite de ontem, caracterizado como um senhor idoso. Ele recitou uma poesia de Geniva Bezerra... Foi perfeito, perfeito! Ele ficou em terceiro lugar, pois todos eram muito bons! Ele cumpriu seu papel. É um vencedor... Te amo, filhinhoooo!!!
 
 A candidata Stéfane, recitou essa longa poesia do Patativa do Assaré
ABC do
Nordeste Flagelado
  

Patativa do Assaré



A — Ai, como é duro viver 
nos Estados do Nordeste 

quando o nosso Pai Celeste 

não manda a nuvem chover. 

É bem triste a gente ver 

findar o mês de janeiro 

depois findar fevereiro

e março também passar, 

sem o inverno começar

no Nordeste brasileiro.

 

B — Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto, 

desfigurado e arrasto, 

com o olhar de penitente;

o fazendeiro, descrente, 

um jeito não pode dar, 

o sol ardente a queimar

e o vento forte soprando, 

a gente fica pensando

que o mundo vai se acabar.

 


C — Caminhando pelo espaço, 
como os trapos de um lençol, 

pras bandas do pôr do sol, 

as nuvens vão em fracasso:

aqui e ali um pedaço

vagando... sempre vagando, 

quem estiver reparando

faz logo a comparação

de umas pastas de algodão

que o vento vai carregando.

 

D — De manhã, bem de manhã, 
vem da montanha um agouro

de gargalhada e de choro

da feia e triste cauã:

um bando de ribançã

pelo espaço a se perder, 

pra de fome não morrer, 

vai atrás de outro lugar, 

e ali só há de voltar, 

um dia, quando chover.

 

E — Em tudo se vê mudança
quem repara vê até

que o camaleão que é 

verde da cor da esperança, 

com o flagelo que avança, 

muda logo de feição.  

O verde camaleão 

perde a sua cor bonita 

fica de forma esquisita 

que causa admiração.

 

F — Foge o prazer da floresta 
o bonito sabiá, 

quando flagelo não há 

cantando se manifesta.

Durante o inverno faz festa 

gorjeando por esporte, 

mas não chovendo é sem sorte, 

fica sem graça e calado 

o cantor mais afamado 

dos passarinhos do norte.

 

G — Geme de dor, se aquebranta 
e dali desaparece, 

o sabiá só parece 

que com a seca se encanta.  

Se outro pássaro canta, 

o coitado não responde; 

ele vai não sei pra onde, 

pois quando o inverno não vem 

com o desgosto que tem 

o pobrezinho se esconde.

 

H — Horroroso, feio e mau 
de lá de dentro das grotas, 

manda suas feias notas 

o tristonho bacurau.

Canta o João corta-pau 

o seu poema funério, 

é muito triste o mistério 

de uma seca no sertão; 

a gente tem impressão

que o mundo é um cemitério.

 

I — Ilusão, prazer, amor, 
a gente sente fugir, 

tudo parece carpir

tristeza, saudade e dor.  

Nas horas de mais calor, 

se escuta pra todo lado 

o toque desafinado 

da gaita da seriema 

acompanhando o cinema 

no Nordeste flagelado.

 

J — Já falei sobre a desgraça 
dos animais do Nordeste; 

com a seca vem a peste 

e a vida fica sem graça.  

Quanto mais dia se passa 

mais a dor se multiplica; 

a mata que já foi rica, 

de tristeza geme e chora.  

Preciso dizer agora 

o povo como é que fica.

 

L — Lamento desconsolado 
o coitado camponês 

porque tanto esforço fez, 

mas não lucrou seu roçado.  

Num banco velho, sentado, 

olhando o filho inocente 

e a mulher bem paciente, 

cozinha lá no fogão 

o derradeiro feijão 

que ele guardou pra semente.

 

M — Minha boa companheira, 
diz ele, vamos embora, 

e depressa, sem demora 

vende a sua cartucheira.  

Vende a faca, a roçadeira, 

machado, foice e facão; 

vende a pobre habitação, 

galinha, cabra e suíno 

e viajam sem destino 

em cima de um caminhão.

 

N — Naquele duro transporte 
sai aquela pobre gente, 

agüentando paciente

o rigor da triste sorte.  

Levando a saudade forte 

de seu povo e seu lugar, 

sem um nem outro falar, 

vão pensando em sua vida, 

deixando a terra querida, 

para nunca mais voltar.

 

O — Outro tem opinião 
de deixar mãe, deixar pai, 

porém para o Sul não vai, 

procura outra direção.  

Vai bater no Maranhão 

onde nunca falta inverno; 

outro com grande consterno 

deixa o casebre e a mobília 

e leva a sua família 

pra construção do governo.

 

P - Porém lá na construção, 
o seu viver é grosseiro 

trabalhando o dia inteiro 

de picareta na mão.

Pra sua manutenção 

chegando dia marcado 

em vez do seu ordenado 

dentro da repartição, 

recebe triste ração, 

farinha e feijão furado.

 

Q — Quem quer ver o sofrimento, 
quando há seca no sertão, 

procura uma construção 

e entra no fornecimento.

Pois, dentro dele o alimento 

que o pobre tem a comer, 

a barriga pode encher, 

porém falta a substância, 

e com esta circunstância, 

começa o povo a morrer.

 

R — Raquítica, pálida e doente
fica a pobre criatura

e a boca da sepultura 

vai engolindo o inocente.  

Meu Jesus!  Meu Pai Clemente, 

que da humanidade é dono, 

desça de seu alto trono, 

da sua corte celeste 

e venha ver seu Nordeste 

como ele está no abandono.

 

S — Sofre o casado e o solteiro 
sofre o velho, sofre o moço, 

não tem janta, nem almoço, 

não tem roupa nem dinheiro.  

Também sofre o fazendeiro 

que de rico perde o nome, 

o desgosto lhe consome, 

vendo o urubu esfomeado, 

puxando a pele do gado 

que morreu de sede e fome.

 

T — Tudo sofre e não resiste 
este fardo tão pesado, 

no Nordeste flagelado 

em tudo a tristeza existe.  

Mas a tristeza mais triste 

que faz tudo entristecer, 

é a mãe chorosa, a gemer, 

lágrimas dos olhos correndo, 

vendo seu filho dizendo: 

mamãe, eu quero morrer!

 

U — Um é ver, outro é contar 
quem for reparar de perto 

aquele mundo deserto, 

dá vontade de chorar.

Ali só fica a teimar 

o juazeiro copado, 

o resto é tudo pelado 

da chapada ao tabuleiro 

onde o famoso vaqueiro 

cantava tangendo o gado.

 

V — Vivendo em grande maltrato, 
a abelha zumbindo voa, 

sem direção, sempre à toa, 

por causa do desacato. 

À procura de um regato, 

de um jardim ou de um pomar 

sem um momento parar, 

vagando constantemente, 

sem encontrar, a inocente, 

uma flor para pousar.

 

X — Xexéu, pássaro que mora 
na grande árvore copada, 

vendo a floresta arrasada, 

bate as asas, vai embora.  

Somente o saguim demora, 

pulando a fazer careta; 

na mata tingida e preta, 

tudo é aflição e pranto; 

só por milagre de um santo, 

se encontra uma borboleta.

 

Z — Zangado contra o sertão 
dardeja o sol inclemente, 

cada dia mais ardente 

tostando a face do chão.  

E, mostrando compaixão 

lá do infinito estrelado, 

pura, limpa, sem pecado 

de noite a lua derrama 

um banho de luz no drama 

do Nordeste flagelado.

 

Posso dizer que cantei 
aquilo que observei; 

tenho certeza que dei 

aprovada relação.

Tudo é tristeza e amargura, 

indigência e desventura. 

— Veja, leitor, quanto é dura 

a seca no meu sertão.

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