sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CANTO UFANO POR POXORÉU


Edinaldo Pereira


Deus te salve, minha terra
Adornada de vales e serras
Entrecortada de rios
Sacrossanto berço de homens bravios
Sequiosos das riquezas que encerras
Trabalhadores sem o menor fastio

Deus vos salve, garimpeiros
Que trabalhais os dias inteiros
E hoje ainda mais do que antes
À cata das pedras mais brilhantes
Com que sonharam os pioneiros:
Os inconquistáveis diamantes

Nos monchões e nos matames
Grupiaras e bicames
Nas dragas e lavadores
Mariquinhas e motores
Em prospecções e exames
Labutam esses senhores

Poxoréu de belos horizontes
De belas cascatas e belas fontes
Da gente aguerrida e hospitaleira
Que vive a boa vida à sua maneira
À luz do Sol e à sombra dos montes
No rebuliço das águas de tantas cachoeiras

Poxoréu dos versos dos seus escritores
Das rimas cadenciadas dos trovadores
Das imagens, pintadas em tantas telas
Ou em fotografias, ou aquarelas
Das composições de seus cantores
Das missas celebradas em suas capelas

A fé irrestrita no seu padroeiro
O Profeta-Batista, mártir cristão primeiro
A quem se dedica de forma tradicional
Dez dias de concorrido festejo anual
Com leilões e ditos jocosos dos leiloeiros
Na Praça da Matriz, o consagrado local

Há ainda crença nas preces das benzedeiras
E na alquimia antiga das raizeiras
O carro-de-boi já não range mais
Ícone de antanho que ficou para trás
Nas pragas rogadas pelas macumbeiras
Que (um dia) roubar-se-ia o carro aos animais

Relendo nos alfarrábios históricos
Os discursos laudatórios e retóricos
Gritados na praça com voz retumbante
Por políticos que dos de hoje eram mais elegantes
Em ambientes também bem mais pictóricos
Conclui-se que o agora é a deformidade do antes

Poxoréu do conflito Morbeck-Carvalhinho
Do prefeito primeiro, Coronel Luizinho
Do incêndio em São Pedro, noite de horror
Da ação de Júlio Muller, o sábio interventor
Dos bamburros na Raizinha, Cambaúva e Corguinho
Da Voz Social e Tarquínio, o primeiro locutor

A gafieira festiva na saudosa Rua Bahia
Onde as festas só terminavam com o raiar do dia
Nos cabarés repletos de tantas prostitutas
Ou “primas”, “mulheres da vida” ou, simplesmente, “putas”
Que enchiam o fim de semana de alegria
De quem passou os outros dias em desumana labuta

Cachaça no Bar da Esquina, bilhar no Sinucão
Baile no Diamante Clube, rock e luz lá no Chopão
Nos domingos, futebol no estádio Diamante Verde
Com batucada saudando mais uma bola na rede
Depois do jogo era festa, sempre houve comemoração
Isso nos anos que longe vão: ficaram apenas as paredes

Na saúde, Dr. João, Dr. Nivaldo e Amarílio
Na Rádio Cultura, Benacyr, Edízio e Fraga Filho
Na Política, Sindolfo, Chico Baio e Rochinha
E as mulheres, Irmã Zoé, Dona Mirú e Dona Filinha
Na maçonaria, Moisés, Zezé Coutinho e Teodomiro
No esporte, Protázio, Antônio Calino e Paulo Pina

Atrás dessa lista, escondem-se tantos anônimos
Que de trabalho e dignidade são exemplos e sinônimos
O velho cego que buscava a água da Biquinha
O velho Berto e Tomázia, a professora Lasinha
E tantos outros que a história registra apenas os pseudônimos
Canguçu, Pereirão, Bicanca, Pedro Pinga e Zuzinha

É impossível resumir toda a glória destes sertões
E todas as personagens que pisaram o chão destes rincões
Eis a Minha Terra, estrela há muito caída do céu
Que, por mais que o poeta tente, não cabe toda no papel
Terra que dos filhos faz bater forte os corações
A eterna Capital dos Diamantes, minha Doce Poxoréu!



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