sexta-feira, 24 de setembro de 2010
CANTO UFANO POR POXORÉU
Edinaldo Pereira
Deus te salve, minha terra
Adornada de vales e serras
Entrecortada de rios
Sacrossanto berço de homens bravios
Sequiosos das riquezas que encerras
Trabalhadores sem o menor fastio
Deus vos salve, garimpeiros
Que trabalhais os dias inteiros
E hoje ainda mais do que antes
À cata das pedras mais brilhantes
Com que sonharam os pioneiros:
Os inconquistáveis diamantes
Nos monchões e nos matames
Grupiaras e bicames
Nas dragas e lavadores
Mariquinhas e motores
Em prospecções e exames
Labutam esses senhores
Poxoréu de belos horizontes
De belas cascatas e belas fontes
Da gente aguerrida e hospitaleira
Que vive a boa vida à sua maneira
À luz do Sol e à sombra dos montes
No rebuliço das águas de tantas cachoeiras
Poxoréu dos versos dos seus escritores
Das rimas cadenciadas dos trovadores
Das imagens, pintadas em tantas telas
Ou em fotografias, ou aquarelas
Das composições de seus cantores
Das missas celebradas em suas capelas
A fé irrestrita no seu padroeiro
O Profeta-Batista, mártir cristão primeiro
A quem se dedica de forma tradicional
Dez dias de concorrido festejo anual
Com leilões e ditos jocosos dos leiloeiros
Na Praça da Matriz, o consagrado local
Há ainda crença nas preces das benzedeiras
E na alquimia antiga das raizeiras
O carro-de-boi já não range mais
Ícone de antanho que ficou para trás
Nas pragas rogadas pelas macumbeiras
Que (um dia) roubar-se-ia o carro aos animais
Relendo nos alfarrábios históricos
Os discursos laudatórios e retóricos
Gritados na praça com voz retumbante
Por políticos que dos de hoje eram mais elegantes
Em ambientes também bem mais pictóricos
Conclui-se que o agora é a deformidade do antes
Poxoréu do conflito Morbeck-Carvalhinho
Do prefeito primeiro, Coronel Luizinho
Do incêndio em São Pedro, noite de horror
Da ação de Júlio Muller, o sábio interventor
Dos bamburros na Raizinha, Cambaúva e Corguinho
Da Voz Social e Tarquínio, o primeiro locutor
A gafieira festiva na saudosa Rua Bahia
Onde as festas só terminavam com o raiar do dia
Nos cabarés repletos de tantas prostitutas
Ou “primas”, “mulheres da vida” ou, simplesmente, “putas”
Que enchiam o fim de semana de alegria
De quem passou os outros dias em desumana labuta
Cachaça no Bar da Esquina, bilhar no Sinucão
Baile no Diamante Clube, rock e luz lá no Chopão
Nos domingos, futebol no estádio Diamante Verde
Com batucada saudando mais uma bola na rede
Depois do jogo era festa, sempre houve comemoração
Isso nos anos que longe vão: ficaram apenas as paredes
Na saúde, Dr. João, Dr. Nivaldo e Amarílio
Na Rádio Cultura, Benacyr, Edízio e Fraga Filho
Na Política, Sindolfo, Chico Baio e Rochinha
E as mulheres, Irmã Zoé, Dona Mirú e Dona Filinha
Na maçonaria, Moisés, Zezé Coutinho e Teodomiro
No esporte, Protázio, Antônio Calino e Paulo Pina
Atrás dessa lista, escondem-se tantos anônimos
Que de trabalho e dignidade são exemplos e sinônimos
O velho cego que buscava a água da Biquinha
O velho Berto e Tomázia, a professora Lasinha
E tantos outros que a história registra apenas os pseudônimos
Canguçu, Pereirão, Bicanca, Pedro Pinga e Zuzinha
É impossível resumir toda a glória destes sertões
E todas as personagens que pisaram o chão destes rincões
Eis a Minha Terra, estrela há muito caída do céu
Que, por mais que o poeta tente, não cabe toda no papel
Terra que dos filhos faz bater forte os corações
A eterna Capital dos Diamantes, minha Doce Poxoréu!
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
História do Comendador José Moraes Barbosa
Por: Dr. Adauto Barbosa (à esquerda, na foto, ao lado de seu irmão, Dr. José Moraes Barbosa Filho - Moraizinho)
Após singular evento que homenageou tão destacadas figuras da sociedade poxorense, agradecido, peço permissão para melhor detalhar no histórico de José Moraes Barbosa o seguinte:
1 – De garoto pobre e retirante do agreste baiano, ainda criança, José Moraes chegou a Poxoréu, ocasião em que foi discípulo do temido Prof. João Torres, tendo como colega e amigo, dentre outros, o Dr. Edésio Cardoso, destacado médico graduado pela antiga Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro-RJ.
2 - Adolescente, enfrentou atividades garimpeiras, rurais e ainda, a de balconista em alguns bares existentes no agitado cabaré da Rua Bahia, em Poxoréu. Nesse particular, observou que tinha o traquejo para vender o que aparecesse. Temendo a violência, resolveu estabelecer um pequeno comércio (bolicho) na Rua Paraíba, esquina com Pernambuco, cuja iniciativa tornou-se possível com a ajuda do seu tão querido irmão José Euclides (Quidinho).
3 – Maduro, casado com a saudosa Diva do Valle Barbosa e com prole numerosa, dava início também a sua vida pública. Assim, na função de Juiz de Paz, substituía o Juiz de Direito, oportunidade em que promovia inúmeras conciliações. Nesse aspecto, de porco que comeu a roça de milho do vizinho a um noivo que deflorou a sua amada e caiu fora descendo o rio Poxoréu..., existiam demandas para todos os gostos. Nós ainda guris, ficávamos sempre distantes das conversas dos adultos. Confesso que dava para ouvir algo e ainda, na minha meninice, achava tudo muito divertido. Alguns casos sim, muito, muito, divertidos mesmo.
4 – Eleito vereador por duas vezes – sem qualquer remuneração - empunhou como bandeira de luta, a criação do Ginásio Estadual 7 de Setembro em Poxoréu. Logo, com outros vereadores esteve em Cuiabá por diversas ocasiões cobrando do Governo Estadual a criação do ginásio. Conseguiu. Instalado o ginásio ainda no antigo Grupo Escolar Júlio Müller, o então vereador José Moraes Barbosa entendeu que faltava uma biblioteca. Novamente, de caminhão, empreendeu viagem a Cuiabá e ao retornar numa velha Kombi da Secretaria de Educação, trouxe consigo duas caixas de fogão a gás, repletas de significativas obras de cunho pedagógico e literário. Digamos que ele quase não cabia nas suas vestes ao receber da então Diretora Drª Zilda Rocha, sempre durona, enormes elogios pela materialização de mais esse sonho.
5 - Em 1970, ao ser nomeado representante do FUNRURAL em Poxoréu, tomou conhecimento que suas atribuições estendiam-se aos municípios de General Carneiro e Barra do Garças-MT. Concordou. Logo após, incluíram sob a mesma representação, os municípios de São Félix do Araguaia e Luciara-MT. Acontece que as estradas eram quase inexistentes. Pensou em desistir. A direção do antigo INPS de MT conseguiu convencê-lo a continuar. Argumentaram que as viagens às longínquas regiões poderiam ser realizadas num "moderno" avião búfalo, tipo cargueiro, da FAB. Nessas condições, empreendeu diversas viagens à região do Vale do Araguaia indo até quase à divisa do Pará, oportunidade em que viabilizou a aposentadoria de centenas de trabalhadores rurais. Como conseqüência dessas desconfortáveis viagens aéreas, restou-lhe um problema na audição, superado após longo tratamento com especialistas em São Paulo-SP. Ao saber desse relato, Jamyle, nossa tão amada filha, expressou-se: “tadinho do vô”...!
6 – Enfim, seja na vida pública, seja na particular como comerciante e agropecuarista, seja como filho, irmão, esposo e pai responsável, tendo sempre como lema “não dar o passo maior que as pernas ”, José Moraes Barbosa, pelo entusiasmo, esmero e determinação – a exemplo dos demais tão destacados homenageados – conseguiu ajudar a escrever a história de Poxoréu.
Parabéns, meu grande!
Adauto Barbosa é filho de José Moraes e Promotor de Justiça.
aluizbarbosa@yahoo.com.br
Fumacéu!
Izaias Resplandes
O Morro da Mesa...
O Morro da Mesa, em Poxoréu.
O Morro da Mesa, em Poxoréu está coberto de fumaça.
Morro sufocado pela fumaça.
Pinheiro... Pinheiro...
Pinheiro queima as folhas secas
Debaixo da árvore ainda verde;
Queima as folhas secas da árvore.
As folhas verdes secam...
Secam de calor.
O calor das folhas secas queimadas.
As folhas verdes secarão.
As cinzas se espalham.
O vento do inverno espalha as cinzas.
As cinzas das folhas secas queimadas.
Poxoréu some na fumaça cinzenta.
Queimadas!
O Morro da Mesa, as folhas secas, as folhas verdes.
Tudo foi queimado, secou, sumiu,
Virou fumaça no céu.
O céu da fumaça, a fumaça do céu,
Que triste “fumacéu”!
Em meu céu, seu céu, nosso céu...
É só fumaça, no céu de Poxoréu!
Poxoréu, MT, 11 de setembro de 2010.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
PRIMAVERA
PRIMAVERA
(Edinaldo Pereira)
Primavera, estação-flor
Doces aromas, néctares,
Pólens, delícias de insetos
Belezas que inspiram afetos
Multicolorido esplendor
Frescor suave nos outeiros
É tempo das primaveras,
Margaridas, cravos, malmequeres
Ramalhetes, paixões, mulheres
Policrômicos canteiros
Alvissareiros dias fecundos
Prenúncio alegre do fruto
Aquarela de uma estação festiva
Exuberância, natureza viva
Sedutores desejos profundos
Mundos floridos, fascinantes
Cálidas faces da natureza
Felicidade em mil cores
Juramentos, beijos e flores
Eterna estação dos amantes
NOCTÍVAGOS
Jamais esqueça, companheiro,
A lua que no céu parecia morta
À sua face pálida a nossa galhofa
Voz, violão, atabaque e pandeiro
Ouvir-se podia o agradável som
Ao primeiro dedilhar das sonoras cordas
Ao primeiro repique ritmando a bossa
Cantar o amor era (e é) o nosso Dom
As ruas já desertas... As horas passando...
Boêmios cantando... Escuridão lá fora...
Vamos dar boas-vindas às luzes da aurora!
Estava nos copos a bebida esvaindo?
Cantávamos nos bares as alegrias da vida
Quando a maioria das pessoas em casa estava dormindo
(Dedicado à primeira formação do gurpo musical "Os Românticos do Samba": Josélia (voz), Amorézio Violão), Fraga Filho (pandeiro) e Edinaldo Pereira (atabaque)
VERSOS PARA UM CAMPONÊS MORTO
(Edinaldo Pereira)
A terra é para quem trabalha.
Nela germina a semente que se espalha...
O fruto é o suor do homem,
É o trabalho árduo que sacia a dor da fome
Pior do que corte de navalha
O latifúndio aparece, horrendo
Com jagunços, como que antevendo
A tragédia de quem já não tem sorte
E na luta pela vida encontra a morte
Num projétil que entra ardendo.
A nada servirão as conferências
Dos homens sábios com suas ciências
Nos países ricos que dominam os pobres
Enquanto morrerem camponeses nobres
Na terra, palco de violências.
Eis a terra que querias ver dividida
A cobrir-te eternamente no pós-vida.
Voltas ao pó por uma reforma agrária,
Mártir da luta, errante, pária,
Na cova que te cabe, recompensa da luta.
Deixas mulher, filhos e companheiros...
Deles também são teus sonhos derradeiros.
Teu sangue mancha as mãos de latifundiários,
De políticos sujos, seus fiéis sectários,
Encharca a terra o teu sangue de guerreiro
Lava-nos a alma o teu sangue vertido
E escreve o teu nome de homem destemido
Nas páginas do livro dos heróis da utopia
De que terra terão todos, um dia
Porque sonhar ainda não é proibido.
O BÊBADO
(Edinaldo Pereira)
A passo trôpego
(De etanol no encéfalo)
Cambaleante vai o ébrio
Nefastos nódulos
Afeiam seu fígado
Num caos cirrótico
Pobres neurônios:
Outrora frenéticos,
Ora agônicos
Desmaia, quase cataléptico
Não obstante o riso cínico
De um transeunte néscio
Levanta-se lúrido
Medita a sua miséria
E pranteia seu infortúnio
E o povo olha, apático
A cena tragicômica
Daquele pobre alcoólatra
ESTÁTUAS DE CERA
(Edinaldo Pereira)
É... Passou o tempo...
Perdemos a infância...
Ganhamos ares de
Adolescência e juventude:
Chegamos à maturidade.
São tantas, hoje, as responsabilidades
Que queremos ter de volta o brinquedo...
Recuperar a infância é,
Em si, tão impossível,
Que causa-nos medo.
Cada um tem seus museus,
Suas galerias pessoais,
Quadros, retratos da auto-história
Acervo valioso, intransferível.
Memórias emaranhadas nos labirintos cerebrais
Passarão também estes dias
E os homens que hoje somos
Ficarão pra sempre cristalizados
Nas mentes dos velhos que seremos
(Como nos museus as estátuas de cera).
Viver nesta terra é transitório
Que seja esta a nossa lição:
De não sermos apenas passageiros
No trem da vida, que corre
Sem jamais querer parar
Sejamos maquinistas!
Vivamos o hoje como
Se o amanhã jamais viesse a existir!
Que a nossa estátua possa eternamente sorrir
Como as crianças que um dia fomos...
METAMÓRFICA
(Edinaldo Pereira)
Eu vi meninos correndo
Sua alegria se fazia no brinquedo
A bola, o chute, o gol, o riso
Não sabiam que estavam crescendo
Infância viva, iluminada
Anjos sem asas, pseudos-querubins
Saltitantes deuses-meninos
Que brincam em sua rua sagrada
Vida que corre em suas veias
Pulsa, desenvolve, adolesce
Inexoravelmente, os meninos crescem
E o destino arma-lhes suas teias
Um mundo novo se descobre
Transmutando as brincadeiras
E, zás, é homem, não mais menino
Vê - se mulher, não mais menina
Capitaneiam juntos o mundo
Rememorando, sempre a vinda infância
Homens chorões, meninas - mães
Velhos – meninos, ainda que por um segundo
CÉU DOS BOÊMIOS
(Edinaldo Pereira)
Lá em cima, nas alturas,
Onde o céu é paraíso
Há um canto mais alegre
Para as divinas criaturas
Ao violão, Noel
Acompanha Lupicínio
Lamartine é um fascínio
Adoniran decretou festa no céu
Sílvio Caldas, seresteiro,
Chama Vinícius, poeta,
Chico Alves mostra à festa
Clara Nunes no terreiro
Num chôro, Pixinguinha
Faz vibrar Ari Barroso
Donga canta, harmonioso
Com Nelson até raiar o dia
Anjo Cartola, eu te peço,
Que no céu da tua arte
Quando eu partir pra dele fazer parte
Não recuse o meu ingresso
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
A UPE ESTÁ DE LUTO
A UPE REALIZOU UMA TERTÚLIA FÚNEBRE, ONDE OS UPENINOS RECITARAM TRABALHOS DE SEU CONFRADE JOAQUIM MOREIRA, EXALTANDO AS SUAS QUALIDADES E OS SEUS VALORES. AO TÉRMINO DA HOMENAGEM, TODOS CANTARAM "MINHA DOCE POXORÉU", DO UPENINO AURÉLIO MIRANDA, TERMINANDO A MELODIA COM TRÊS VIVAS AO PRÍNCIPE DOS POETAS POXOREANOS.
O SEPULTAMENTO OCORREU ÀS 17 HORAS, NO CEMITÉRIO LOCAL.
A UPE, ATRAVÉS DE TODOS OS SEUS MEMBROS DESEJA QUE O SENHOR DA FORÇA, DA GRAÇA E DA MISERICÓRDIA POSSA ACALMAR OS CORAÇÕES DE TODOS OS FAMILIARES DE MOREIRA E TAMBÉM OS NOSSOS PRÓPRIOS, POSTO QUE A AUSÊNCIA DESSE AMIGO E CÓ-ORMÃO UPENINO SERÁ SEMPRE SENTIDA ENTRE NÓS.
domingo, 12 de setembro de 2010
Batistão presta homenagem ao seu tio JOSÉ MORAES BARBOSA
Excelentíssimo Senhor Prefeito Ronan Figueiredo Rocha,
Excelentíssimo Senhor Vereador,
Excelentíssimo Senhor Presidente da UPE
Demais autoridades presentes,
Agradeço a presença de todos para esta justa homenagem da família poxoreenses.
Agradeço o convite dos professores Gaudêncio Rosa Amorim e Izaias Resplandes para participar desta importante condecoração honorífica “Ordem Memória Viva Pó-ceréu” à José Moraes Barbosa (foto ao lado) e aos demais ilustres protagonistas da nossa história.
A família Barbosa entende que a comenda ao tio José Moraes, a prima Julinda Alves Vieira, a Antônio de Lima Fernandes, a Aristino Vilela, a irmã Bernadete de Lima Barros, a Bráulio Silva, a Eoni Sousa Lima,a Eunilce Rita de Brito Sol, a Pompílio Alves Pereira e a Zacarias Galvão representa uma justa e merecida homenagem a família poxoreense.
Sou filho do finado Quidinho e da finada Laurinda, sobrinho de José Moraes e primo de Julinda Alves Vieira. As homenagens que Moraes e Julinda recebem nesta noite orgulham as nossas famílias.
Honrado pelo convide, estou satisfeito pela oportunidade de falar sobre José Moraes, um eminente cidadão, pai de família exemplar, pessoa de elevado grau de sensibilidade e benevolência.
Um dia inteiro seria pouco para contar-lhes a história e os causos das muitas décadas vividas por José Moraes Barbosa. Porém, tenho poucos minutos. Assim, serei breve.
Nesta noite temos uma lição emocionante que resgata fatos e acontecimentos guardados na memória e no subconsciente, aflorando a reconstrução da nossa histórica. Reminiscências, aqui muito bem representadas pela lucidez dos ilustres homenageados, com as graças de Deus. Pessoas que aqui construíram famílias e ajudaram a construir esta cidade.
O início da história de José Moraes vem de muito longe.
Um dos nove filhos de João Francisco Barbosa e Silvina Alves Barbosa, JOSÉ MORAES BARBOSA nasceu no dia 19 de outubro de 1923, em Bom Sucesso, município de Ibitiara, Bahia. Em 08 de junho de 1932, Moraes (criança com 9 anos) deixa o sertão baiano acompanhando o pai, a mãe, os irmãos Lindaura Alves Barbosa (mãe da professora Dalvinha), José Antônio Barbosa, José Euclides Barbosa [Quidinho, meu pai], Idália Alves Barbosa (mãe da dona Julinda), Helena Alves Barbosa (avó do Adilson), Vital Alves Barbosa, Anísio Alves Barbosa (pai do Ruy) e, em gestação, Maria Alves Barbosa [a irmã caçula Lica, que nasceria quase dois meses depois, em Goiás]. Alguns com família constituída, como o caso Idália Alves Barbosa, com o marido Francisco Rodrigues e a filha Julinda Alves (nesta noite também homenageada). Nessa jornada, estavam as famílias Cândido e Rodrigues [povo dos "Abelhas"], compondo uma comitiva solidária e amiga de quase 40 pessoas.
Naquele tempo, a seca castigava a Bahia. A paisagem imitava um deserto. Em lugar do desespero, a família Alves Barbosa preferiu continuar a luta em outras bandas, aonde notícias da chuva e pedras preciosas sinalizavam uma terra prometida.
Na longa travessia, as crianças acomodadas nas bruacas de couro curtido, sobre os lombos de burros e jegues, junto aos parcos mantimentos transportados pela pequena tropa; os maiores, a pé, ora em algazarra correndo à frente, ora com as pernas bambas e alpercatas cansadas, se arrastando na retaguarda do comboio de retirantes. José Moraes Barbosa veio ora caminhando, ora em bruacas nos lombos de jegues.
Quase dois meses depois, nas proximidades do povoado de Posses (GO), foram obrigados a uma rápida parada, pois dona Silvina e dona Lindaura estavam grávidas e dariam luzes aos filhos Maria Alves [tia Lica, irmã caçula de Moraes] e Arquimedes [sobrinho]. Aproveitaram a parada, plantaram um roçado para obter o mantimento necessário para prosseguir a viagem.
Ao retomar a caminhada, um desencontro divide a caravana: uma parte deslocou-se um pouco para o sul, indo parar na região de Dourados, então sul de Mato Grosso, outra parte segue o destino combinado, em direção à região da aldeia Pocereu dos índios bororos – em direção à Poxoréu, terra da vida nova.
Depois de uma longa jornada, a família Barbosa finalmente chega à Poxoréu em 18 de junho de 1933.
Na vila Poxoréu dos anos 1930 as opções de trabalhos eram poucas: o garimpo, a lavoura de subsistência e algumas ocupações intermediárias de pouca renda.
Da labuta no garimpo, o jovem Moraes Barbosa gostava não. Nessa atividade ficou pouco tempo, o suficiente para juntar uns trocados. Logo, estabeleceu sociedade com sua mãe Silvina Barbosa em uma pequena loja na Rua Nova esquina com o Beco [Atual Rua Paraíba, esquina com a Rua Pernambuco], onde vendia tecidos, máquina de costura Singer e aviamentos.
A loja comercial evoluiu e Moraes Barbosa mudou o seu comércio para a Rua Mato Grosso, rua principal, onde está estabelecido com Casa Moraes há mais de 45 anos.
Adepto da convivência familiar, logo tratou de buscar sua parceira, para com ela construir seus sonhos de família e ter filhos. Assim, Moraes conhece a jovem Diva do Valle (foto ao lado), baiana de Brejinhos, filha de Antonio do Valle e Zulmira do Valle, e inicia um prudente namoro. Ficaram noivos e o casamento acontece em 24 de dezembro de 1951 (se não me falha a memória).
A família, o trabalho, a inteligência, a amizade, e a postura conciliadora e o toque de violão de José Moraes Barbosa despertaram a atenção da UDN. O amigo Joaquim Nunes Rocha [e aqui devemos render nossas homenagens ao saudoso Rochinha e a sua família] e outros correligionários convenceram Moraes a ingressar na política. Primeiro no diretório municipal da UDN, depois candidato à vereador.
Eleito vereador duas vezes, Moraes exerceu os mandatos no período de 1955 a 1963. Foi presidente e secretário da Câmara Municipal.
Do exercício político, Moraes destaca duas ações importantes: a criação do Ginásio 7 de Setembro [posteriormente Escola Professora Juracy Macedo], conseguido junto ao Governo do Estado numa força tarefa com os demais vereadores e a doação de livros pela Secretaria de Educação para compor o acervo inicial da Biblioteca do Ginásio.
Ainda na função pública, José Moraes Barbosa exerceu a função de Juiz de Paz em Poxoréu, escolhido por eleição popular, no biênio de 1964 a 1965, substituindo eventualmente, em alguns casos, a função do juiz de direito da Comarca de Poxoréu na ausência do titular. No período de 1971 a 1972, foi chefe do posto de atendimento do FUNRURAL, agência então responsável pela aposentadoria dos trabalhadores rurais do município de Poxoréu e região.
Atualmente, Moraes Barbosa é comerciante e fazendeiro.
Do matrimonio de José Moraes Barbosa com a saudosa Diva do Valle Barbosa, nasceram os filhos José Moraes Barbosa Filho, Sandra Maria do Valle Barbosa, Simone Maria do Valle Barbosa dos Anjos, Adauto Luiz do Valle Barbosa, Maria de Fátima do Valle Barbosa. Posteriormente, chegaram os netos, para a alegria da família.
José Moraes Barbosa devoto de São João Batista, do alto dos seus 86 anos, dos quais 77 vivendo em Poxoréu, sua terra prometida, soube enfrentar com galhardia as dificuldades da vida e os problemas de saúde. Moraes Barbosa é um vencedor, forte como aroeira.
Trago em minha vida um olhar de aplauso, admiração e gratidão por tudo o que José Moraes representa para a nossa família.
Tenho a certeza que esta primeira condecoração honorífica “Ordem Memória Viva Pó-ceréu” a cada um dos “jovens” protagonistas homenageados, rejuvenesce a alma, alegra a vida e entra para a história da nossa cidade como uma noite das mais bela. Noite de encontro.
Noite histórica, em que o passado se encontra com o presente para deixar uma admirável lição de vida para o futuro.
Parabéns à comissão organizadora!
Que nos próximos anos, outras famílias possam receber com saúde e alegria o mesmo reconhecimento e a justa homenagem.
Viva José Moraes Barbosa!
Vivam os homenageados!
Que Deus vos ilumine!
Muito obrigado!
João Batista Araujo Barbosa
HOMENAGEM A JOSÉ MORAES BARBOSA
Meus Amigos e Minhas Amigas,
Neste onze de setembro, a Igreja Católica, no mundo inteiro, está meditando esse trecho do Evangelho de Jesus Cristo segundo são Lucas:
“Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas.”
Que essa Palavra aqueça os nossos corações, as nossas almas e ilumine a mente de cada um de nós. Seja ela também fonte de inspiração para contemplarmos as árvores e os frutos, os frutos e as árvores, semeados no fértil território existencial dos nossos dez homenageados: Antônio de Lima Fernandes, Aristino Vilela, Bernadete de Lima Barros, Bráulio Silva, Eoni Sousa Lima, Eunilce Rita de Brito Sol, Julinda Alves Vieira, Pompílio Alves Pereira, Zacarias Galvão e José Moraes Barbosa.
O nobre orador concluiu a homenagem afirmando que o agora Comendador José Moraes Barbosa “... é antes de tudo, um forte: é aroeira!”, ou seja, uma árvore! E, “Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos!”
Coincidência?
Quem sabe? O orador mesmo disse ser o Comendador devoto de São João Batista. Portanto, nada mais do que natural a sincronicidade em compará-lo com aroeira no dia em que o mundo católico medita sobre a árvore e seus frutos, no mês da árvore, no mês primaveril!
Aroeira, como se sabe, é uma árvore mítica. Pela imponência de seu porte, pelo encanto de suas flores e pela solidez da madeira! Carrega a fama de ser a madeira mais resistente do Brasil. O cerne é considerado praticamente imputrescível. “Dura mais 100 anos”, diz o sertanejo!
Ora, “Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos!” A aroeira também!
Aroeira que também é fruto de outra aroeira! É nesta linha de raciocínio que eu quero, nesta oportunidade, convidar a todos os amigos e amigas aqui presentes (e aos ausentes, também), a entoar um hino de louvor a Deus pelo dom da vida de todos os condecorados nesta celebração e, em particular, pelo dom da vida nosso Comendador José Moraes Barbosa. Quero saborear nesse canto uma melodia de recordações a duas grandes mulheres, que estrelaram no palco do teatro existencial do Sr. José Morais.
A primeira delas é a sua querida Mãe, dona Silvina Alves Barbosa. Pessoalmente a conheci já no outono de sua peregrinação terrestre, e, mesmo assim, pude testemunhar a têmpera de uma mulher varonil.
Imaginemos o seguinte cenário: Bom Sucesso (BA), 19 de outubro de 1923. Nasce mais uma criança, um menino! Nasce com vida! Sobrevive! Ainda menino, “ganha o mundo!” Percorre caminhos, enfrenta as vicissitudes, conforme narrado, chegando, hoje, a receber a coroa do reconhecimento, no grau de Comendador!
“Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos!” Em nosso homenageado, reconhecemos que dona Silvina Alves Barbosa (e seu esposo, naturalmente) também foi uma boa árvore! A ela, as nossas gratas lembranças e agradecimentos pelo fruto que hoje dá testemunho de sua bondade!
A outra mulher, valente e dócil guerreira, é dona Diva do Valle, sua companheira fiel, de cujo ventre fecundo novos frutos brotaram e que igualmente dão testemunho da dignidade da árvore, da solidez da aroeira!
Dona Diva, mulher de coração manso, humilde, generoso e sereno! E o nosso Comendador recebeu a graça de despojá-la, de levá-la ao altar. E, foi no altar da convivência, que ela se doava em luz e calor, como uma vela acesa que vai se derretendo até o fim! Dona Diva, mulher da entrega total, que se doou por inteiro na edificação do lar, junto com o nosso Comendador!
Minhas Amigas e Meus Amigos,
É comum dizer que atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher. Ouso, porém, dizer que esse adágio é inexato. O correto mesmo é afirmar que na frente de um grande homem sempre há uma grande mulher.
E quando há duas mulheres?
À frente de um lar, de uma casa, de uma comunidade, de uma nação, há sempre grandes mulheres!
Fazendo, pois, memória a esses dois gigantes, dona Silvina Alves Barbosa e dona Diva do Valle, quero comungar desta justa homenagem ao JOSÉ MORAES BARBOSA, nosso Comendador!
Demos graças a Deus. A Deus!
VALFRAN DOS ANJOS