O trabalho com projetos
Gaudêncio Amorim
Heráclito
afirmava a teoria filosófica de que a “única coisa permanente é a mudança”. De
fato, o paradigma da mudança é uma realidade constante no processo de uma
vida sempre em evolução. Pe. Antônio Vieira, nos seus clássicos “os Sermões do
primeiro domingo do advento” (1.655), enfatizava: Tudo muda, tudo passa...”,
portanto nada é e nem continua o que sempre foi.
O processo de
mudança é tudo em tudo e não há nada que escape a transformação.
Entre as
infindáveis coisas sujeitas ás mudanças permanentes, as práticas pedagógicas se
inserem numa seara de absoluta transformação educacional, reflexo direto das
mudanças sociais e tecnológicas e, nesse particular urge refletir os ambientes
educativos que se mantêm resistentes à renovação constante presos aos modelos
arcaicos que não respondem mais as expectativas do presente.
Diante de um
mundo contagiado pela modernidade tecnológica e pela conseqüente mudança do
comportamento social, manter-se na postura pedagógica de antes é a garantia
indubitável de fracassos escolares, aliás, como tem ocorrido na maioria das
escolas, apesar das alternativas governamentais para mascarar a qualidade no
processo de formação escolar desviando o foco da educação para o custo aluno e
não para o custo-aluno-qualidade, evidentemente, consideradas as devidas
exceções.
É provável que
essa mudança permanente seja necessária no bojo de todas intervenções
escolares, mas principalmente na relação professor-aluno com foco na postura
docente, vez que os discursos compridos (que fala tudo e nada ao mesmo tempo),
o quadro negro com desenhos gráficos “indecifráveis” já não tão atraentes
diante de práticas mais inovadoras capaz de suprimir a relação de bons falantes
X bons ouvintes, já que os alunos mais escutam e quando ouvem, assimilam pouco
revelando de vez a falência do modelo enciclopédico em voga no final da idade
média e em muitos ciclos acadêmicos do mundo globalizado.
O desafio é
mudar para encantar, atrair e prender a atenção sem perder a qualidade. Não se
discute aqui o prazer de estudar, mas o prazer de aprender num ambiente
inusitado, diferente, criativo capaz de fomentar descobertas, romper com as
dúvidas na construção (re) autônoma do conhecimento numa realidade em que o
aluno seja também sujeito do seu próprio conhecimento, inobstante a postura
mediadora dos docentes. Nessa nova realidade, o trabalho pedagógico com a
execução de projetos dá novo significado ao processo educacional e ressignifica
profundamente o processo de ensino aprendizagem.
É de se
considerar que o trabalho com projetos é desafiador para os professores e
plenamente atrativo para os alunos e nem sempre os primeiros abdicam da inércia
de sua prática, embora as novidades são, quase sempre, desejadas pelos alunos
já saturados pela mesmice dos “sabe tudo”, “acima de qualquer suspeita”. O
trabalho com projeto é uma boa alternativa para tonificar a prática pedagógica,
inobstante a outras atividades criativas igualmente importantes.
E por que? São
muitas as possibilidades e ganhos e nenhum prejuízo, porque embora eles dêem
trabalho à execução, todas as avaliações são positivas e plenamente
satisfatórias, pois todos revelam profundas mudanças comportamentais denotando
amplo ganho de novos conhecimentos e habilidades. É, por outro lado, um santo
remédio para combater a indisciplina, vez que a experiência mostra que tais
alunos são, via de regra, os que mais se envolvem na execução.
Além do
objetivo final, que é próprio conhecimento, o trabalho com projetos,
possibilita o aprimoramento da interação social e a diminuição da timidez
somada a habilidade de falar em público defendendo teorias com argumentos
sofisticados, coerentes e coesos numa perspectiva de alunos pesquisadores.
Ademais, o trabalho rompe com o individualismo para a organização e busca de
resultados coletivos e com responsabilidades bilaterais em que todos se sentem
sujeitos do processo. Não sem razão são aprimorados valores como respeito
mutuo, participação, responsabilidade, solidariedade, parceria, disciplina, organização,
entre outros.
Nem sempre são
necessários projetos científicos. Mister se faz o desenvolvimento de um tema
voltado para um objetivo à resolução de um ou mais problemas.
Nessa
possibilidade, a pratica pedagógica se reveste de novos significados e, por
conseguinte, de novos resultados bem mais apropriados à formação humana,
provavelmente sem carecer de exames finais e conselhos de classe para coibir o
fracasso escolar e atender, na maioria dos casos, a filosofia governamental de
que a educação brasileira “está bem na fita” mostrada por fora “como bela
viola” , maqueada por dentro “com pães vencidos”, abandonados por saciados
paradigmas de antanhos.
Gaudêncio Amorim –
Pedagogo, Cientista Político, Poeta, Escritor e Compositor filiado a União
Poxorense de Escritores – UPE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário