terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Educação

O trabalho com projetos
Gaudêncio Amorim
Heráclito afirmava a teoria filosófica de que a “única coisa permanente é a mudança”. De fato, o paradigma da mudança é uma realidade constante  no processo de uma vida sempre em evolução. Pe. Antônio Vieira, nos seus clássicos “os Sermões do primeiro domingo do advento” (1.655), enfatizava: Tudo muda, tudo passa...”, portanto nada é e nem continua o que sempre foi.
O processo de mudança é tudo em tudo e não há nada que escape a transformação.
Entre as infindáveis coisas sujeitas ás mudanças permanentes, as práticas pedagógicas se inserem numa seara de absoluta transformação educacional, reflexo direto das mudanças sociais e tecnológicas e, nesse particular urge refletir os ambientes educativos que se mantêm resistentes à renovação constante presos aos modelos arcaicos que não respondem mais as expectativas do presente.
Diante de um mundo contagiado pela modernidade tecnológica e pela conseqüente mudança do comportamento social, manter-se na postura pedagógica de antes é a garantia indubitável de fracassos escolares, aliás, como tem ocorrido na maioria das escolas, apesar das alternativas governamentais para mascarar a qualidade no processo de formação escolar desviando o foco da educação para o custo aluno e não para o custo-aluno-qualidade, evidentemente, consideradas as devidas exceções.
É provável que essa mudança permanente seja necessária no bojo de todas intervenções escolares, mas principalmente na relação professor-aluno com foco na postura docente, vez que os discursos compridos (que fala tudo e nada ao mesmo tempo), o quadro negro com desenhos gráficos “indecifráveis” já não tão atraentes diante de práticas mais inovadoras capaz de suprimir a relação de bons falantes X bons ouvintes, já que os alunos mais escutam e quando ouvem, assimilam pouco revelando de vez a falência do modelo enciclopédico em voga no final da idade média e em muitos ciclos acadêmicos do mundo globalizado.
O desafio é mudar para encantar, atrair e prender a atenção sem perder a qualidade. Não se discute aqui o prazer de estudar, mas o prazer de aprender num ambiente inusitado, diferente, criativo capaz de fomentar descobertas, romper com as dúvidas na construção (re) autônoma do conhecimento numa realidade em que o aluno seja também sujeito do seu próprio conhecimento, inobstante a postura mediadora dos docentes. Nessa nova realidade, o trabalho pedagógico com a execução de projetos dá novo significado ao processo educacional e ressignifica profundamente o processo de ensino aprendizagem.
É de se considerar que o trabalho com projetos é desafiador para os professores e plenamente atrativo para os alunos e nem sempre os primeiros abdicam da inércia de sua prática, embora as novidades são, quase sempre, desejadas pelos alunos já saturados pela mesmice dos “sabe tudo”, “acima de qualquer suspeita”. O trabalho com projeto é uma boa alternativa para tonificar a prática pedagógica, inobstante a outras atividades criativas igualmente importantes.
E por que? São muitas as possibilidades e ganhos e nenhum prejuízo, porque embora eles dêem trabalho à execução, todas as avaliações são positivas e plenamente satisfatórias, pois todos revelam profundas mudanças comportamentais denotando amplo ganho de novos conhecimentos e habilidades. É, por outro lado, um santo remédio para combater a indisciplina, vez que a experiência mostra que tais alunos são, via de regra, os que mais se envolvem na execução.
Além do objetivo final, que é próprio conhecimento, o trabalho com projetos, possibilita o aprimoramento da interação social e a diminuição da timidez somada a habilidade de falar em público defendendo teorias com argumentos sofisticados, coerentes e coesos numa perspectiva de alunos pesquisadores. Ademais, o trabalho rompe com o individualismo para a organização e busca de resultados coletivos e com responsabilidades bilaterais em que todos se sentem sujeitos do processo. Não sem razão são aprimorados valores como respeito mutuo, participação, responsabilidade, solidariedade, parceria, disciplina, organização, entre outros.
Nem sempre são necessários projetos científicos. Mister se faz o desenvolvimento de um tema voltado para um objetivo à resolução de um ou mais problemas.
Nessa possibilidade, a pratica pedagógica se reveste de novos significados e, por conseguinte, de novos resultados bem mais apropriados à formação humana, provavelmente sem carecer de exames finais e conselhos de classe para coibir o fracasso escolar e atender, na maioria dos casos, a filosofia governamental de que a educação brasileira “está bem na fita” mostrada por fora “como bela viola” , maqueada por dentro “com pães vencidos”, abandonados por saciados paradigmas de antanhos.

Gaudêncio Amorim – Pedagogo, Cientista Político, Poeta, Escritor e Compositor filiado a União Poxorense de Escritores – UPE.

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