Existe, numa tribo indígena da
Austrália, um costume de que, quando se morre um membro do grupo, eles escolhem
alguém para narrar as glórias e os feitos dele por 30 dias para que a memória
dele não seja esquecida. Tenho certeza de que, se fizéssemos isso com Amorésio,
ficaríamos por mais de 30 dias narrando as glórias e os feitos, pois, além de
marcar a vida de cada uma das pessoas que com ele conviveram, marcou a nossa
cidade Poxoréu.
Amorésio Souza Silva nasceu para esse
mundo em 19 de março de 1953. Filho de Alexandre Pereira da Silva e de Dona
Alice Angélica da Silva que vieram da Bahia em 1928, ainda pequenos, para
depois aqui casarem-se e constituírem uma bela família com os filhos: José
Augusto (in memoriam), Ademar, Amorésio, Cesar, Alexandre Filho, Juscineide (in
memoriam), Juscélia, Aloísio, Alexandra e Jussara.
Amorésio sempre foi um homem rodeado de
várias pessoas e, talvez por isso mesmo, aprendeu tão bem a amar e valorizar o
ser humano, tendo sempre uma palavra, muitas vezes uma piada, para elevar a
alma de quem estava ali com ele.
Entretanto, como disse Fernando Pessoa
“A morte chega cedo”. E chegou! E, chegando a morte, ficamos chocados, porque
não fomos feitos para a morte, mas para a eternidade. Existe em cada um de nós
esse desejo de eternidade: somos feitos de eternidade!
Tentamos, nesse momento, elaborar
palavras de consolo, buscando até explicações, mas a verdade é uma: não há nada
que console ou explique essa saudade que nasce nos corações dos que o amaram. E
isso é algo para nos alegrar, sim, para nos alegrar, pois isso é sinal de que o
amamos! Existiu amor sincero nos corações que puderam conviver com esse homem
admirável! Se existiu amor, então existiu tudo!
Amorésio foi um dos seres humanos mais
incríveis que pude conviver. Foi com ele que arranhei as primeiras notas do
violão e, foi com ele, que ouvi a primeira lenda sobre o surgimento do violão,
que dizia o seguinte: “Existia um casal apaixonado. Ele chamava-se Viterbo e,
ela, Olarinda. A família se opunha àquele amor, o que levou Viterbo a doença e,
consequentemente, a morte. Olarinda foi ao túmulo do seu amado pranteá-lo e uma
fada, comovida com o sofrimento da moça, lhe perguntou o que poderia fazer para
aliviar o seu sofrimento. Olarinda lhe disse que gostaria de ficar para sempre
unida ao seu amado e que, em todos os tempos, as pessoas lembrassem-se desse
amor através de sons apaixonados. A fada então transformou Olarinda num
instrumento e, com as iniciais dos dois, chamou de Viola que nós chamamos de
Violão”. Sempre preferi essa lenda aos fatos históricos.
Quantas vezes pudemos conversar e era
sempre um ensinamento. Sempre ao lado da Dora, Amorésio era aquele que nos
fazia acreditar que o homem é bom!
Nunca mais Poxoréu será a mesma!
Amorésio sempre executava a canção Carlos Gardel nos encontros da UPE, essa era
a minha canção preferida, sempre pedia a ele para que tocasse, inclusive no churrasco
que fizemos em casa e, hoje, querido mestre Amorésio, digo que assim como
Carlos Gardel foi quem melhor cantou Buenos Aires, você foi quem melhor cantou
Poxoréu e enquanto houver uma “guitarra, tu viverás também”, Amorésio.
Entregamos você a Deus, com o coração
sofrido, mas esperançosos de que nos encontraremos na nossa mansão definitiva.
Que suas obras e memória consolem sua mãe, seus irmãos, sua esposa, seus
filhos, netos, enfim, a todos que precisam aprender a reorganizar a vida. A
todos, Amorésio, que assim como eu, tem um sentimento: “É tão estranho, os bons
morrem jovens! Assim parece ser quando me lembro de você e de tanta gente que
se foi cedo demais”.
Sabe quando é que morremos? Quando Deus
sente saudade! E Deus sentiu saudade de você, meu amigo, acabou-se o seu exílio
nessa terra, vai em Paz!
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