quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A vida aquém e além da morte

A vida aquém e além da morte

Prof. Izaias Resplandes


Sempre que alguém muito próximo de nós encerra suas atividades nesta vida, qualquer que seja a sua crença, vemos pessoas chorando e lamentando a perda daquela companhia que partiu e que, às vezes, foi companhia de muitos anos. É costume ouvir também manifestações de apreço ao falecido, exaltando suas qualidades, virtudes e realizações, augurando que esse possa ser bem recebido na vida além da Terra, conforme seja a sua crença.

sábado, 8 de novembro de 2014

Notável Upenino Amorésio Silva


Amorésio Souza Silva

Nasceu para esse mundo em 19 de março de 1953. Filho de Alexandre Pereira da Silva e de Dona Alice Angélica da Silva, que vieram da Bahia em 1928, ainda pequenos, para depois aqui casarem-se e constituírem uma  família com os filhos: José Augusto (in memoriam), Ademar, Amorésio, Cesar, Alexandre Filho, Juscineide (in memoriam), Juscélia, Aloísio, Alexandra e Jussara.

Sua vida seria marcada pela música.

Dono de perfeitos acordes no violão, na juventude participou do premiado Coral do Centro Juvenil, sob a batuta do mestre Armando Catrana. Depois, apaixonou-se por Maria Auxiliadora da Silva, a Dora, musa inspiradora e esposa, foi seresteiro, cantor, compositor e poeta da UPE - União Poxorense de Escritores.

Além de presidente do Diamante Clube Sociedade Recreativa, clube da magia e grandes emoções, palco em que se apresentou como músico e cantor, e organizou brincadeiras dançantes e festejados bailes com bandas nacionais e internacionais, a exemplo Orquestra Cassino de Sevilla e a mexicana Pancho Delgado, com destaque para os inesquecíveis Carnavais, Amorésio foi funcionário público municipal e estadual e dono de Escola de Datilografia.

Amorésio viveu intensamente 6 dêcadas e faleceu na manhã desta terça-feira, dia 4, vítima de câncer, após pelejar vários meses contra a terrível doença.

Foi pai de quatro filhos: Paulo, Joabe, Amanda e Amorésio Filho.

Principais obras musicais: José e Paladar da emoção.


Amorésio

A última viagem de Amorésio

Prof. Izaias Resplandes de Sousa
Amorésio Sousa Silva e Izaias Resplandes de Sousa
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles verão a Deus”, Mateus 5:9.
Amorésio, Josélia e Gaudêncio Amorim
Neste quatro de novembro de dois mil e catorze fomos surpreendidos pela notícia de que nosso confrade upenino Amorésio Sousa Silva havia partido para a sua última viagem nessa vida, deixando a Terra dos Homens, a terra de dor, de sofrimento, de males e violência por todo lado e que fora se encontrar com nossos eternos confrades upeninos que já partiram desta vida: Aquilino Sousa Silva, Delza Fernandes Zambonini, Joaquim Nunes Rocha, Maria de Lurdes Coutinho, Manoel Fraga Filho, Zenaide Farias Pinto, Joaquim Moreira e Jurandir da Cruz Xavier.
Izaias, Volnei e Márcia Lorenzon, Josélia, Amorésio, Gaudêncio e João de Sousa
A UPE do céu está crescendo. Quantas tertúlias já não foram feitas ali! Quantas ainda serão feitas! Quantas poesias já foram declamadas pelo Notável Fraga Filho! E os sonetos mil de nosso Notável Príncipe dos Poetas Poxorenses Joaquim Moreira, a pena que mais escreveu a terra poxoreana. O que dizer do grande político e cronista Joaquim Nunes Rocha, o Rochinha, Notável confrade que muito enriqueceu a memória e a história da literatura poxorense. Ah! E nossas poetisas Delza e Zenaide, com seus cantos poéticos sobre o amor e sobre a vida quotidiana... E o Mestre Aquilino, será que creu que Deus existe? 
A UPE do céu está crescendo. E agora, novamente o céu se vestiu de gala para receber o cancioneiro romântico dessa doce e amada Poxoréu, o violonista Amorésio Sousa Silva.
Francisco Dorilêo, Amorésio e Edinaldo Pereira
As tertúlias upeninas jamais serão as mesmas, meus amigos. A nostalgia toma conta de mim, quando recordo que já não teremos mais o violão seresteiro de Amorésio para animar e alegrar os nossos encontros literários. Ele era um dos primeiros a chegar. Calmo, sereno e tranquilo, com seu violão, inseparável companheiro, instrumento que ele ensinou tantos jovens e crianças a tocar. Dentre esses eu destaco a minha filha Mariza Resplandes. E nas tertúlias era dos últimos a sair, porque cantava para nós enquanto tivesse plateia. E só parávamos de ouvi-lo cantar, porque o tempo nos cobrava por outros afazeres. Mas a vontade era de lá ficar para sempre ouvindo suas canções.
Volnei Lorenzon, Luís Carlos, Edinaldo, Gaudêncio, Márcia, Wállace; João de Sousa, Amorésio, Márcia Lorenzon e Izaias Resplandes
 Mariza se encantou com o violão. Ainda na madrugada de sua vida conversei com Amorésio, nosso amigo de longa data, se ele poderia ensiná-la. E ele disse que sim. Redargui dizendo que ela não sabia absolutamente nada. E ele me disse que era esse tipo de aluno que ele gostava de ensinar. E teve toda a paciência do mundo para encaminhar minha querida filha na arte musical. E não foi apenas Mariza. Nem sei dizer quantos e quais foram os alunos de violão ensinados por Amorésio. Mas de uma coisa eu sei... Ele tinha calma e paciência de sobra para cada um.
Upenino Amorésio Sousa Silva
O violeiro caminhava em passos lentos. Ele não tinha pressa de chegar. Quantas vezes nos encontramos pelo caminho, ora descendo a ladeira em direção à cidade, ora subindo para o morro da Vila Operária, onde morava, mais precisamente na primeira casa, lado esquerdo, da rua Cuiabá, bem próximo ao Centro de Saúde Dr. João Andrade de Figueiredo. Era sempre um grande prazer desfrutar de sua companhia nessas descidas ou subidas, tirando-o de suas meditações e inspirações poéticas de “enquanto caminhava”, para uma boa prosa enquanto viajávamos.
João de Sousa, Gaudêncio, Luís Carlos, Izaias e Amorésio (ao violão)
O tema preferido de nossos bate-papos era Poxoréu. Falávamos da cidade, do povo, das mudanças, da alegria, da política, das coisas boas que temos aqui. Amorésio foi sempre um homem de bons olhos poxoreanos, porque somente via as coisas boas. Ele preferia não destacar as coisas ruins da vida local. Ele seguia a linha-mestra de que àquele que ama, até o feio, bonito lhe parece. Amorésio só tinha olhos para o belo, para o bem, para o amor, para a paz. Suas mensagens são simples, de acordo com o seu modus vivendis.
João de Sousa, Wallace, Luís Carlos, Amorésio e Edinaldo Pereira
Orgulho-me de dizer que fui um de seus fãs sem carteirinha, rê-rê! Dificilmente nos reuníamos sem que eu lhe pedisse uma palhinha musical de sua própria obra. Eu gostava muito do “José”, “menino levado que passava o dia a brincar”. Com José, os “vilões dos devaneios, tinham mesmo que se cuidar”. De dia, o menino era o tal, mas quando chegava à noite ele era assaltado pelos vilões das histórias que ouvia sobre “Mãe d’água, alma penada e Saci Pererê”, os quais lhe “assustavam até o amanhecer”. Eu sei que tenho a letra dessa música, uma das quais ele defendeu brilhantemente durante o I FESCAMPOX – Festival da Canção de Poxoréu, organizado pelo radialista Zé Bunitinho, no ano de 1988, durante os festejos de aniversário da cidade, por ocasião da inauguração do Ginásio de Esportes Cinquentenário, o Cinquentão, nome dado em homenagem aos cinquenta anos de emancipação de Poxoréu, posto que isso acontecesse em 26 de outubro de 1938. Mas não encontrei. Uma hora dessas eu a encontro e divulgo em sua memória.
Izaias, Josélia, Pe. Ademar, Gaudêncio; Wallace, Luís Carlos, Amorésio, Edinaldo e João de Sousa
Eu conheci o Amorésio no início dos anos oitenta. Não consigo precisar o ano, mas eu tive a satisfação de divulgar nas páginas do Jornal “Correio de Poxoréu” (em 1983 e 1984) vários dos eventos organizados pelo Amorésio, enquanto Presidente do Diamante Clube Sociedade Recreativa. Ainda me lembro que seu slogan era: “A chave é a sua participação”. Para ele, esse era o fundamento do sucesso do Diamante Clube, tradicional ponto de encontro da sociedade poxoreana.
João de Sousa, Pe. Ademar (co-celebrante da missa de Amorésio), Amorésio, Josélia e Izaias
Até os anos noventa, o Diamante Clube de Amorésio foi o centro das atividades culturais e artísticas da cidade. Houve um período em que se criou o Clube Dourado, para o qual se anunciava auspiciosos sonhos, que não passaram de sonhos. O clube teve curta duração e hoje é apenas uma página virada da história local. Mas o Diamante Clube, não! Ele continua altaneiro, na Rua Paraíba, esquina com a Minas Gerais. Já não são tantos os eventos que acontecem ali. Mas ainda acontecem porque houve pessoas como Amorésio Sousa Silva, seu Presidente em mais de uma gestão, que lutou para que isso acontecesse.
Aniversário de Josélia. Amorésio estava lá
Hoje eu vivo uma vida menos carnavalesca. Adotei uma nova postura na área espiritual e já não tenho tempo e disponibilidade para participar dos bailes e folguedos da cidade. Mas me recordo de ter estado presente em alguns dos bailes carnavalescos do Diamante Clube de Amorésio Sousa Silva, coletando dados e informações para a coluna social do jornal Correio de Poxoréu, do qual eu era o redator. A imprensa tinha lá uma mesa reservada pelo Presidente. Êh, Amorésio... Você fará muita falta entre nós.
Garibaldi, Genivá, Luís Carlos, Amorésio e Márcia de Oliveira
Eu fui seu orientador de monografia na sua graduação em Trânsito. Juntos, conseguimos obter um bom texto. Suas ideias eram muito boas e valeu a pena orientá-lo.
João Batista, Enir, Edinaldo, Gaudêncio, Luís Carlos, Genivá e Garibaldi. Izaias, Amorésio, Zenaide, Josélia e João de Sousa
Na literatura musical, uma das últimas produções de Amorésio, de que tomei conhecimento, foi “Paladar da Emoção”, a qual poderá ser apreciada e compartilhada em minha página pessoal no facebook, em https://www.facebook.com/video.php?v=834932269885125. Esse é um vídeo inédito. Nunca havia sido publicado. Foi uma produção nossa. Gravamos em nossa casa upenina na avenida Brasília. Fiquei de divulgá-lo e acabei não fazendo isso durante a vida de nosso amigo. Faço agora essa publicação póstuma em sua homenagem. Que Poxoréu cante com Amorésio o seu entusiasmo pelo “arroz e frango com pequi” nesse belíssimo trabalho que ele intitulou de “Paladar da Emoção”. Vale a pena ouvir.
Amorésio, no aniversário do Jurandir Xavier
Acredito que a úlltima tertúlia de Amorésio foi uma que realizamos na casa upenina de João de Sousa. Me recordo que naquele dia eu pedi que ele tocasse e cantasse comigo a música do saudoso Gonzaguinha: “O que é, o que é?”. E cantamos com alegria “a pureza da resposta das crianças”; e que “a vida que é bonita, é bonita e é bonita”. Cantamos que o negócio é “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. E pode crer, Amorésio, toda vez que cantarmos essa música, irei me lembrar de você. Você, mais do que todos nós, seus confrades da União Poxorense de Escritores, viveu de forma plena, com pureza e simplicidade e não teve a vergonha de ser feliz. Aqui entre nós, para mim, “O que é, o que é?”, do Gonzaguinha, será a música que sempre tocarei e pedirei em sua homenagem.
Luís Sol e Amorésio, chegando para a tertúlia na Chácara Linda Flor, de Jurandir Xavier
Mas vamos falar sério, agora, Amorésio! Você nos deixou muito tristes com essa sua partida tão rápida, sem dar tempo para que nós nos despedíssemos direito. Eu acredito que a gente ainda tinha tanta coisa para discutir, tantos projetos para realizar. E agora você se foi. Ficou um vazio muito grande em nossos corações e nas fileiras upeninas. Você era o nosso cantor. Aurélio canta também, mas não tem muito tempo para estar conosco. Edinaldo canta e toca, mas vive voando pelos céus de Poxoréu e região. Eu acho que até será possível que em qualquer dessas aventuras de nosso amigo, você o encontre por aí. Ele é como a águia... Gosta de voos altos! Gosta dos ares. Para mim que o mais alto que já cheguei foi ao topo do Morro da Mesa, não sei o que significa a emoção de estar aí em cima, viajando pelos céus. Eu até gostaria de saber como foi a sua viagem. Como foi a sua chegada ao céu e como foi a recepção dos nossos companheiros que aí chegaram primeiro. Mas eu sei que agora não vai dar para ficar sabendo dessas coisas. Mas um dia, quando eu também estiver presente nessa eterna tertúlia, da qual você está participando, eu quero que você me conte como foi a sua viagem, a sua trajetória pela Terra, de que mais você gostou... Vamos ficar combinados. Naquele dia você me contará tudo, em todos os detalhes. Pode ir preparando a apresentação, porque essa viagem todos nós a faremos um dia, inexoravelmente. E será maravilhoso esse nosso encontro. Mas isso pode esperar. Ainda temos muitas coisas para fazer aqui. Tertúlias, programas “Momento de Arte e Cultura”, publicação da revista “A Upenina”, do jornal “O Upenino”, de livros e tantas coisas mais. Por outro lado, isso vai ser bom, porque você terá a oportunidade de se reunir com o nosso pessoal daí e fazer uma grande recepção para todos nós que ainda estamos aqui na Terra.
Comunidade Upenina 
Você conhece a minha fé, Amorésio. Eu sou como você que acreditava em Deus, em Jesus e na vida eterna. Por tantas vezes cantamos com Duduca e Dalvan, a “Espinheira” da vida e propagamos que “o mundo não acaba aqui” e com nossa esperança e fé, construiremos um mundo melhor aí nesse lugar celestial em que você agora canta e encanta seus ouvintes.

Também quero te dizer que sua família sempre terá o nosso apreço e nosso respeito. Faremos por sua esposa e filhos o que for preciso e estiver ao nosso alcance. Temos o maior carinho por sua esposa Maria Auxiliadora da Silva e Silva, a DORA e também pelo Paulo, pelo Joabe, pela Amanda e pelo Amorezinho. Para eles, sempre teremos um bom lugar em nosso coração. Não foi apenas a você, mas a sua família tem cativado a todos nós.
Amigo, Toninho Nogueira e Sulene; Genivá, Amorésio, Márcia, Neta e João de Sousa, Olga, Luzinete e Vinícius; Luís Carlos, Gaudêncio, Wallace, Lourdes e Izaias Resplandes, em tertúlia na Fazenda Duas Irmãs, do upenino Genivá Bezerra
No dia de sua partida, enquanto você viajava, nós ficamos cantando uma última serenata em sua homenagem. O local era um tanto fúnebre, mas nós, com a alegria upenina e também de todos os seus amigos que estavam lá, transformamos aquela capela em um palco de homenagens a você. Olha, gostei de ver o seu primo. Que cantor! E como demonstrou ter apreço por você. Cantou até o raiar do dia. Cantou a fé e cantou com a emoção. Parabéns por sua família. Linda família unida!
Luís Carlos, Wallace, Edinaldo, Gaudêncio, Izaias, Amorésio, João e Zenaide
Na sua despedida teve tanta gente que não dá para lembrar os nomes. Mas estiveram o tempo todo a sua mãe, sua esposa e seus filhos, os seus irmãos, muitos parentes e amigos... Foi uma noitada inesquecível. Despedida de upenino seresteiro tem que ser com seresta. Fizemos para você uma última serenata.
Izaias, Amorésio, João de Sousa, Josélia, Edinaldo, Gaudêncio e Luís Carlos Ferreira
A sua missa de corpo presente também foi muito linda. Você sabe que não sou católico, mas eu me fiz presente e dou graças a Deus por isso, porque as homenagens que ali foram feitas para você, geraram imagens tão lindas, que dificilmente serão esquecidas. O seu ex-aluno de música, o Gabriel Noleto Rocha, filho do nosso amigo Osmar do Nascimento, cantou uma música tão bonita... Que linda a voz do Gabriel! Eu ainda não o ouvira cantar. Mas ele é ótimo! Ele cantou “Voa, liberdade”, do Jessé   (https://www.youtube.com/watch?v=3oTZRWJqy_o).  Ele cantou para você, com a alma e o coração. Não tenho dúvidas de que a sua voz subiu aos céus e chegou até aí, com o mesmo ardor e fervor com que chegou aos nossos corações. Seu primo também cantou uma música muito emocionante, a Joelma Pinga e toda a igreja também cantaram em sua homenagem. Foi tudo muito lindo.
Lourdes e Izaias Resplandes, AMORÉSIO e Josélia Neves
Após a missa, um grande cortejo acompanhou o seu corpo até o seu último leito nessa Terra. Você é espiritual e sabe que o corpo é apenas pó e, quando a alma o deixa, quando o espírito volta para Deus, o corpo novamente volta ao pó, de onde veio. Mas ali, naquele cenário de paz ficou um marco em sua homenagem, que nos ajudará a lembrar de você, como se isso fosse necessário, Amorésio. Porque você é um imortal e viverá para sempre em nossa memória e em nosso coração.
Família Upenina
Adeus, amigo Amorésio! Que sua vida no céu seja ainda muito mais linda do que foi a sua vida na Terra. Receba esse meu último abraço literário que escrevo em sua memória, para registrar as eternas saudades que a Família Izaias Resplandes e a Família Upenina tem de ti.

Até breve!

Na vida, vida; na morte: que vida!

Na vida, vida; na morte: que vida!
                                                                  Prof. Gaudêncio Amorim
                   Há pessoas que, quando morrem, vivem e há pessoas vivas,
mortas para a vida. Como é possível que haja um fenômeno tão contraditório que possa se conter nas afirmações acima? Não só é possível como é visível aos olhos humanos, sem imprimir sofisticados esforços.

                   Dia 04 de novembro de 2014, a cidade de Poxoréu perdeu o seu maior menestrel. Um mestre do violão, cantor e compositor da melhor musica popular brasileira, há mais de 20 anos dedicado à cultura, seja pela União Poxorense de Escritores – UPE, seja pelos seus empreendimentos individuais , mormente aqueles capitaneados pela sua larva no dia das mães ou nas vésperas de natal e aqueles outros revivificados nas dezenas de noites de serestas do Diamante Clube ou na casa de um ou outro amigo. O pai de família exemplar; o cidadão ético e correto; o artista que cantou Poxoréu para o Brasil, principalmente, como vencedor do FESCANPOX, no cinqüentenário municipal, em 1988.  
                   Foi, durante a sua existência, o artista inseparável da voz e do violão, seja para encantar multidões com as melodias, seja para formar discípulos na arte dos violões solados chorando canções nas boemias noturnas, tertúlias, saraus e, na maioria dos eventos de Poxoréu, em que a musica se fazia a melhor companhia. Este artista faleceu de um câncer, naquela manhã de novembro, exaurido pela falência múltiplas dos órgãos nos quais a doença, a algum tempo, se fazia hospedeira, embora no seu funeral, o poeta Izaias Resplandes afirmava: “Amorésio não morreu!” e, de certa forma, sua crença corrobora a acertiva do caput deste texto: há pessoas que, quando morrem, continuam vivas!
                   Não sem razão, a sua despedida do mundo material, foi regrada a uma tertúlia improvisada da União de Escritores, a uma missa de variadas e emocionantes mensagens e uma carreata de centenas de automóveis na marcha funeral para devolver o seu corpo ao pó, embalado pela sua própria musica através do serviço de som que ladeava a viatura fúnebre. Isso era algo, senão sui generis, inusitado, pois a musica não cultuava a dor e o luto, normalmente materializado nos piores momentos do após morte, mas na alegria e no prazer de ter amado sua cidade e sua gente, que por sua vez, se revestia no contentamento coletivo de aceitação passiva da morte, como fenômeno natural da vida, principalmente daquela vida, que continuava sendo vida desprovida da matéria, nas lembranças insondáveis e eternas da cidade que lhe proclamou a sua memória na percepção permanente do exemplo de vida. Diante daquela cena incomum, o povo se aglomerou para aplaudir a passagem do menestrel Amorésio, através da musica que tanto cantou a vida e que agora continuava difundindo, ainda com maior veemência.
                   O espírito que percorre os mistérios da morte, seja para a
reencarnação, seja para o paraíso, conforme as crenças e as filosofias da humanidade, não terá dificuldade de se conformar a quaisquer das situações aventadas: se para o paraíso, tomando aqui a concepção egípcia[1] de responder as perguntas: Se ele alcançou a alegria de viver?, a resposta seria plena e intitubeável, pois jamais contemplamos um Amorésio que não tivesse no rosto um sorriso, uma paz no coração e uma palavra amiga e sábia para aplacar as inquietudes daqueles com quem se relacionava; Se ele propiciou alegria a outras pessoas? Teria na porta do paraíso uma multidão de testemunhas para falar por ele de sua alegria na terra, na maioria dos encontros que a vida lhe oportunizou. Entretanto, se as deduções não forem estas e o espírito tiver que se reencarnar, bem aventurado o corpo que o receber e, se ainda, numa hipótese derradeira, o seu espírito tomar a destinação narrada por Dante Alighieri, na Divina Comédia, terá o paraíso celestial como prêmio, sem a parada obrigatória no purgatório.
                   Amorésio Souza Silva foi um cidadão de um tempo, mas referência para a vida; foi um homem do presente, porém conectado às perolas do passado e foi imbuído de lapidar os diamantes do futuro. Dallai Lama escreveu: “E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente, de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro”. Amorésio que, sem se preparar para a morte precoce e inesperada, vive depois dela, de forma profunda, intensa e colaborativa. O próprio Dalai Lama, afirma que há pessoas que “vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido”. O fato é que o maior menestrel de Poxoréu, talvez inconscientemente, preocupou-se em acrescentar vida aos seus dias e não dias em sua vida e passou por toda sua existência humana, contemplando a natureza e admirando o que de melhor possuía o gênero humano, como bem atestou a viúva – Maria Auxiliadora da Silva e Silva em depoimento à noite do funeral, de que, “quando alguém encontrava defeitos nos outros, ele, de forma muito sutil, começava descrever as virtudes do ser em questão como se, deliberadamente, desejasse ensinar que viemos à Terra para sermos seres criadores e para vivermos sem prejulgar o outro, já que nos seria licito sermos nós mesmos, não os outros.
                   Poxoréu, como em todos os lugares, tem grandes homens, todavia, pela prática de muitos deles, se tornaram pequenos demais para entrar na história. Amorésio Souza Silva foi um homem humilde, simples, honrado: um ser humano do maior quilate e, por isso mesmo, grande para a história, cujos feitos despertarão as gerações do futuro para aquilo que é essencial em todos os tempos: a grandeza do gênero humano.



[1] Vide o Filme “Antes de Partir”, distribuído pela Warner Bros. 2007. 

Amoréesio

Amorésio
Com a calma que lhe era peculiar, Amorésio Sousa Silva não conseguiu ser o jogador profissional que tanto sonhara na infância, embora tenha sido o melhor do futebol de sua geração nos gramados de Poxoréu.
Sua vida seria marcada pela música.
Dono de perfeitos acordes no violão, na juventude participou do premiado Coral do Centro Juvenil, sob a batuta do mestre Armando Catrana. Depois, apaixonou-se por Auxiliadora, a Dora, musa inspiradora e esposa, foi seresteiro, cantor, compositor e poeta da UPE - União Poxorense de Escritores.
Além de presidente do Diamante Clube Sociedade Recreativa, clube da magia e grandes emoções, palco em que se apresentou como músico e cantor, e organizou brincadeiras dançantes e festejados bailes com bandas nacionais e internacionais, a exemplo Orquestra Cassino de Sevilla e a mexicana Pancho Delgado, com destaque para os inesquecíveis Carnavais, Amorésio foi funcionário público municipal e estadual e dono de Escola de Datilografia.
Amorésio viveu intensamente 6 dêcadas e faleceu na manhã desta terça-feira, dia 4, vítima de câncer, após pelejar vários meses contra a terrível doença.
A seguir, alguns depoimentos colhidos nas redes sociais da internet.
- DEUS COLHE PARA SI MAIS UM AMIGO POXOREENSE !! - Amorésio Souza Silva...poeta, escritor, compositor, violeiro e seresteiro!!! Deixou esse mundo de lágrimas na manhã de hoje, em Cuiabá, vítima de um câncer com o qual vinha lutando por muitos anos. Deixa um legado memorável. As noites de Poxoréu nunca mais serão as mesmas!!! Siga em paz sua nova caminhada velho seresteiro!!! (Benedito Paulo de Abreu).
- A Praça da Liberdade no centro de nossa cidade nunca mais será a mesma... Não terá mais o mesmo encanto das noites do dia das Mães e nem o brilho do show que por anos realizará no final de cada ano... É uma perda sem igual para a Música de Poxoréu... Seu principal defensor nos deixou. Mas cantará pra sempre em nossas lembranças, cabendo a todos amigos a missão de não deixar o "show da vida" parar de acontecer! (Blog Ponto de Vista -http://poxoreupdv.blogspot.com.br/).
- Os amigos de Amorésio do Coral do Armando; da UPE-União Poxoreense de Escritores - da qual ele era Membro nato; os amigos dos bares (Havaí, Snitran, Lico, etc); os amigos das serestas, e tantos e tantos amigos que conviveram bons momentos ao som do violão seresteiro e da voz melodiosa desse filho ilustre de Poxoréu, estarão juntos, homenageando sua memória, confortando a família, e se despedindo desse irmão, do jeito que ele gostaria que fosse, com muita música, com musicas alegres e saudosas, que falam de sua terra, de sua gente, como ele sempre fez enquanto aqui viveu. Hoje à noite na Capela São João Batista, e amanhã no Cemitério da cidade, em sua última despedida!!! (JB Cavalcante).
- MUITO TRISTE. DEIXARA UM GRANDE VAZIO (Francisca Ferreira, a Nena, da Itália).
- Vá, meu irmão. Deus te espera. A saudade fica, mas a vontade de Deus tem que prevalecer. Sentimentos ficam.... (Antônio Fernandes, engenheiro Toniquinho).
- No livro da vida temos o dia marcado para chegar e o dia marcado partir. Hoje, Amoresio, foi o seu dia de partir. Seu corpo volta para o pó e sua alma para os braços de Jesus Cristo. E, neste momento de saudade, relembramos o quanto você nos fez felizes com suas serestas e serenatas. Nessas ocasiões sorrimos, cantamos e até choramos juntos. Obrigada por seu sorriso e jeito simples de ser. Descanse em paz! Certamente que agora já faz parte do coro de anjos. (Esmeralda Ferreira).
- Os nossos sinceros sentimentos à nossa conterrânea e amiga Auxiliadora da Silva e família, pelo falecimento do nosso querido conterrâneo e amigo Amorésio!!! Grande perda Poxoreense!!! Grande ser humano!!! (Sônia Vasconcelos).
- "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim ainda que morto viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá" - João 11:25-26. Nossos sentimentos à toda família. (Uriete Barbosa).
- Teremos que aprender a conviver sem a agradável companhia do professor Amorésio. Perda inestimável. (Juscinete Souza Reis).
- Meu querido amigo, foi você que sempre me dizia "NUNCA DESISTA DESSA MÚSICA QUE VIVE DENTRO DE VOCÊ, TÁ NO SEU SANGUE MARINHA", sinto muito a sua perda, deixará muitas saudades, todos nós perdemos um grande artista e uma pessoa de coração enorme, e eu perdi um grande amigo. Meus sinceros sentimentos à toda a família. (Marah Lopes Maciel )
- Quero aqui prestar a minha homenagem ao grande amigo,cantor, compositor,professor,esposo, pai e filho, Amoresio Souza Silva, que nesta data do dia 07/11/2014 nos deixou e foi morar com Deus. Uma pessoa que sempre a gente presciva de uma palavra amiga ou conselho sempre estava pronto a ajudar. Então que Deus conforte a familia.Mas sempre estara na minha memoria a nossa amizade,que foi construidaa muitos anos.Entao por fim que Deus te de o lugar que você merece ao lado dele. Até um dia meu amigo. (Marcos Antonio Cursino Braga)
- Perda irreparável para nossa cidade ... Querido e agora saudoso Amorésio... quem é que nos dará a alegria de lindas canções da MPB na praça da matriz??? Sinto-me feliz em ter participado de quase todas apresentações!!! Professor de violão do meu filho Fábio Carvalho! Saudades, tristezas porém a certeza de de que estas do lado do nosso pai eterno. Desejo a família conforto no coração pois palavras nao dizem muito nessas horas. (Elizabeth Felipe)
- Ao consultar todos os dias este site, foi com muita surpresa e tristeza que tomei conhecimento da morte do companheiro Amorezio.Não sabia que estava enfermo. Na ultima vez em que conversei com o mesmo não demonstrava que estava doente.Lamento profundamente a sua morte. É muito triste a morte,mãis é o destino de todos nós.Que o Senhor Jesus Cristo que é o único caminho que conduz ao Reino de Deus receba o nosso amigo no Paraíso. A Família meus sinceros pêsames. (ADAITON DA LUZ MILHOMEM)
- Adeus meu companheiro, amigo sincero de tantos passos da vida. A orquestra do céu estava precisando de um musico, de um poeta. A escolha nao podia ser melhor, embora nos deixe curtindo a dor da sua ausencia. (Bruno | poxoreo@libero.it )

O corpo de Amorésio esta sendo velado na Capela São João Batista, centro histórico de Poxoréu, e será sepultado no cemitério local nesta quarta-feira.
(Batistão).

Publicado em: www.pox.zip.net. Acesso em 08/11/2014.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

AO UPENINO AMORÉSIO!



Existe, numa tribo indígena da Austrália, um costume de que, quando se morre um membro do grupo, eles escolhem alguém para narrar as glórias e os feitos dele por 30 dias para que a memória dele não seja esquecida. Tenho certeza de que, se fizéssemos isso com Amorésio, ficaríamos por mais de 30 dias narrando as glórias e os feitos, pois, além de marcar a vida de cada uma das pessoas que com ele conviveram, marcou a nossa cidade Poxoréu.
Amorésio Souza Silva nasceu para esse mundo em 19 de março de 1953. Filho de Alexandre Pereira da Silva e de Dona Alice Angélica da Silva que vieram da Bahia em 1928, ainda pequenos, para depois aqui casarem-se e constituírem uma bela família com os filhos: José Augusto (in memoriam), Ademar, Amorésio, Cesar, Alexandre Filho, Juscineide (in memoriam), Juscélia, Aloísio, Alexandra e Jussara.
Amorésio sempre foi um homem rodeado de várias pessoas e, talvez por isso mesmo, aprendeu tão bem a amar e valorizar o ser humano, tendo sempre uma palavra, muitas vezes uma piada, para elevar a alma de quem estava ali com ele.
Entretanto, como disse Fernando Pessoa “A morte chega cedo”. E chegou! E, chegando a morte, ficamos chocados, porque não fomos feitos para a morte, mas para a eternidade. Existe em cada um de nós esse desejo de eternidade: somos feitos de eternidade!
Tentamos, nesse momento, elaborar palavras de consolo, buscando até explicações, mas a verdade é uma: não há nada que console ou explique essa saudade que nasce nos corações dos que o amaram. E isso é algo para nos alegrar, sim, para nos alegrar, pois isso é sinal de que o amamos! Existiu amor sincero nos corações que puderam conviver com esse homem admirável! Se existiu amor, então existiu tudo!
Amorésio foi um dos seres humanos mais incríveis que pude conviver. Foi com ele que arranhei as primeiras notas do violão e, foi com ele, que ouvi a primeira lenda sobre o surgimento do violão, que dizia o seguinte: “Existia um casal apaixonado. Ele chamava-se Viterbo e, ela, Olarinda. A família se opunha àquele amor, o que levou Viterbo a doença e, consequentemente, a morte. Olarinda foi ao túmulo do seu amado pranteá-lo e uma fada, comovida com o sofrimento da moça, lhe perguntou o que poderia fazer para aliviar o seu sofrimento. Olarinda lhe disse que gostaria de ficar para sempre unida ao seu amado e que, em todos os tempos, as pessoas lembrassem-se desse amor através de sons apaixonados. A fada então transformou Olarinda num instrumento e, com as iniciais dos dois, chamou de Viola que nós chamamos de Violão”. Sempre preferi essa lenda aos fatos históricos.
Quantas vezes pudemos conversar e era sempre um ensinamento. Sempre ao lado da Dora, Amorésio era aquele que nos fazia acreditar que o homem é bom!
Nunca mais Poxoréu será a mesma! Amorésio sempre executava a canção Carlos Gardel nos encontros da UPE, essa era a minha canção preferida, sempre pedia a ele para que tocasse, inclusive no churrasco que fizemos em casa e, hoje, querido mestre Amorésio, digo que assim como Carlos Gardel foi quem melhor cantou Buenos Aires, você foi quem melhor cantou Poxoréu e enquanto houver uma “guitarra, tu viverás também”, Amorésio.
Entregamos você a Deus, com o coração sofrido, mas esperançosos de que nos encontraremos na nossa mansão definitiva. Que suas obras e memória consolem sua mãe, seus irmãos, sua esposa, seus filhos, netos, enfim, a todos que precisam aprender a reorganizar a vida. A todos, Amorésio, que assim como eu, tem um sentimento: “É tão estranho, os bons morrem jovens! Assim parece ser quando me lembro de você e de tanta gente que se foi cedo demais”.
Sabe quando é que morremos? Quando Deus sente saudade! E Deus sentiu saudade de você, meu amigo, acabou-se o seu exílio nessa terra, vai em Paz!

Wallace Rodolfo, aluno, amigo, confrade upenino e profundo admirador.