sábado, 27 de novembro de 2010

O ADEUS DE JURANDIR DA CRUZ XAVIER

Upeninos Gaudêncio Filho Rosa de Amorim,
JURANDIR DA CRUZ XAVIER e Izaias Resplandes de Sousa,
na festa dos 80 anos do Jurandir, em sua Chácara Flor-de-Liz,
em 2009, Poxoréu, MT.

A dor atinge mais uma vez a família upenina.

Nessa sexta-feira, 26 de novembro de 2010, o decano da UPE Jurandir da Cruz Xavier, aos 81 anos, autor do livro "Poxoréo e o Garças", foi chamado para escrever suas narrativas históricas no Reino dos Céus.


Ele não foi pego de surpresa. Já faz um bom tempo que sua maior preocupação era transferir o seu legado cultural. A maioria de suas vivências e experiências ocorreu na terra poxoreana, para onde esse paraibano veio ainda menino. Ele faz parte da plêiade dos velhos companheiros que viram surgir nesse vale as primeiras manifestações de progresso.

Na condição de testemunha ocular da história, Jurandir teve muito que contar, mas, infelizmente, não pode contar tudo, diante da dificuldade de se documentar e registrar o que viu e o que sentiu enquanto percorreu as ruas, os cantos e os recantos deste lugar. Não temos dúvidas que ele levou consigo um acervo de conhecimentos incomparável, o qual colocou à disposição do povo de Poxoréu durante todo o percurso de sua vida como homem público, escritor, amigo, companheiro e pai.

Sua partida na manhã de ontem, segundo a família, se deu de forma tranquila, silenciosa, sem dor, sem alarde e sem sofrimento. Vale dizer que era assim que esse homem vivia. Jurandir era um homem de paz e transmitia uma sensação agradável e carismática quando andava pelas ruas desta cidade por seus passos de ancião. A sua voz mansa e agradável tornava o seu discurso cativante.

Em seu último dia entre nós, ele se levantou, fez a higiene matinal, barbeou-se e pediu à filha que lhe fizesse um suco de laranja. Nesse ínterim, enquanto ela atendia ao seu pedido, o velho companheiro mansamente fechou os olhos, adormeceu e foi-se encontrar com os nossos antigos companheiros Aquilino Sousa Silva, Fraga Filho, Gilbert Araújo Lemos, Joaquim Nunes Rocha, Delza Fernandes Zambonini e Joaquim Moreira, que o precederam na longa jornada celestial.

A UPE da Terra se despede de seu Notável confrade, desejando que no além ele venha ser bem recebido por Deus e pelos Notáveis companheiros da UPE do Céu. Segundo o Notável Willian Shakespeare, “há muito mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”. Jurandir sabia de muitas dessas coisas e queria nos contá-las, mas não teve tempo para isso, de sorte que somente ficaremos sabendo delas quando a nossa hora chegar e pudermos ir nos encontrar com ele na eternidade. Ali então tudo ficará mais claro. Já não haverá segredos e coisas ocultas. Ali tudo é claro e transparente. Essa é uma das vantagens do além.

Aqui na Terra nós vivemos cercados pelas aparências. Nós também somos aparência de alguma coisa que desejamos. Essa é a forma que nós encontramos para nos defender da maldade humana. Segundo o filósofo Thomas Hobbes, “o homem é o lobo do homem e aqui na Terra existe uma eterna guerra de todos contra todos”.

Já na eternidade, essa luta será desnecessária. Primeiro, porque ali teremos outra forma. Já não seremos carne, sangue e ossos, mas apenas seres espirituais. Seremos semelhantes a uma energia que poderá ser materializada na forma que se fizer necessário. Já não poderemos mais fazer mal uns aos outros. Viveremos para cumprir uma missão que estará de acordo com o planejamento do Arquiteto do Universo. Segundo, porque todos os nossos desejos serão satisfeitos. Afinal, ali será o nosso Paraíso tão sonhado e desejado, lamentavelmente perdido pelo Adão espiritual do Éden.

É claro que as revelações sobre a eternidade têm muito mais a ver com a nossa religiosidade do que com qualquer outra coisa. Mas a religião é o nosso maior bem. É ela que mantém acesa a chama da esperança de dias melhores. Se acreditássemos que a vida acabasse aqui, então seríamos piores do que os animais de pouco ou nenhum entendimento, porque eles apenas vivem o “cada dia” sem qualquer preocupação com o futuro, enquanto nós vivemos com a certeza de que a cada dia que passa nós estamos mais pertos da morte.

Então a religião nos dá uma nova visão da vida, dizendo-nos que a morte é apenas uma passagem para uma outra dimensão, um outro estágio do nosso desenvolvimento. E que, na verdade, nós somos na verdadeira extensão do verbo SER. E o que é não pode deixar de ser, mas sempre SERÁ. É com essa crença e convicção que vivia o nosso amigo Jurandir Xavier e também a maioria dos homens da Terra.

É claro que a vida na Terra tem um sabor diferente e que vale a pena experimentar. É aqui que nós aprendemos a cooperar e a fazer alguma coisa pelos demais. É aqui que nós extravasamos o AMOR que o Criador plantou em nossos corações.

É por essa razão que o apóstolo São Paulo, escrevendo aos Filipenses disse que se sentia dividido entre ficar mais um tempo na Terra ou partir para o Além. Refletia que se permanecesse aqui, com certeza ainda seria de grande utilidade para a humanidade. Mas, por outro lado, ele também tinha o desejo de partir e estar com Cristo, o que para ele era ainda muito melhor.

De forma que vejo o Jurandir como um ser privilegiado. Vivendo mais de 81 anos, com certeza ele deixa um grande legado para o povo de Poxoréu. Além disso, teve alegria dos filhos e netos que carregarão o seu sangue e a sua carga genética de influências por ene gerações.

Todavia, essa partida súbita, inegavelmente, gera um vazio entre nós, o qual não será facilmente preenchido. Por isso precisamos uns dos outros. Desse modo, já com muitas saudades, dor e pesar no coração e na alma, nós upeninos nos unimos para pedir ao Criador que conceda aos familiares de Jurandir, a necessária paz e conforto espiritual pela perda desse ente querido.

Que o calor de nossa amizade e dos demais amigos possa ser um conforto na vida de toda a família Cruz Xavier.

Adeus, Notável Upenino Jurandir da Cruz Xavier. Seu nome estará para sempre gravado nos anais dessa entidade que não poupará esforços para mantê-lo vivo na galeria dos imortais.
Izaias Resplandes, advogado, matemático e pedagogo, sócio-fundador da UPE - União Poxorense de Escritores, Poxoréu, MT.

Um comentário:

  1. Poxoréu, cidade querida,
    que um dia me viu nascer;
    Hoje, de volta a Poxoréu,
    vejo os amigos e colegas de infancia
    que há muito eu não via.
    Fico muito feliz pelos amigos e colegas de infância, mas fico triste por dar um adeus para Tio Jurandir que sempre viveu para nos lembrar da importancia de nossas raizes e da cidade que nos viu nascer.
    Ele, em suas conversas, estava sempre me lembrando da necessidades que temos em valorizar nossos antepassados com relação às bravuras de vir para um lugar onde a não havia nada e aqui fundar o povoado de Poxoréu que mais tarde foi se transformar nessa cidade que aí está.
    Sua preocupação era tanta que resolveu escrever um livro para documentar algumas histórias acontecidas nessa região para que no futuro nossos filhos e netos conhecessem e sentissem como nosso povo viveu aqui nessa região.
    Hoje nossa missão será repassar toda essa cultura e conhecimento deixado por Tio Jurandir para que nossa história permaneça sempre viva.

    Sou de Poxoréu, pois aqui nasci e me orgulho de ser filha dessa terra.
    Elizete da Cruz Xavier, filha de Genival da Cruz Xavier, sobrinha de Jurandir da Cruz Xavier.
    Atualmente, moro em Cuiabá, mas estou sempre em Poxoréu para para visitar meu Pai e meu irmão Denival da Cruz Xavier que moram em Poxoréu.

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