Os homens de poder
Izaias
Resplandes de Sousa
Há
muitas formas de se exercer o poder. Ricos e pobres podem exercê-lo. No
entanto, a riqueza normalmente controla o exercício do poder. E por isso, os
homens querem ser ricos, cada vez mais. A riqueza é o sonho de consumo de quase
todo mundo. No afã de consegui-la, as pessoas costumam ultrapassar todos os
limites possíveis. Verbos como matar, roubar, fraudar, mentir, enganar,
distorcer, deturpar e outros tantos nessa linha são frequentemente conjugados
por aqueles que têm fome de riqueza. Amizades são desfeitas e famílias
desintegradas. Dizem de certas pessoas, que são capazes de matar a própria mãe
para subir na vida. É de ver que a meta de alcançar a riqueza, pouca ou muita,
faz com que o homem descumpra o contrato que garante a paz social e, assim,
retorne ao estado de barbárie e selvageria e à sua eterna luta contra todos os
demais. Nessa situação, o homem perde o seu bem mais precioso: a sua
humanidade.
A
Bíblia diz: Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
Marcos 8:36.
A alma
é o bem maior de uma pessoa; é a sua vida, é o que pode existir ou o pode
morrer. O salmista diz:
1) Que
a alma vive: Viva a minha alma, e louvar-te-á; ajudem-me os teus juízos. Salmos
119:175;
2) Que
a alma morre: Que homem há, que viva, e não veja a morte? Livrará ele a sua
alma do poder da sepultura? Salmos 89:48.
O
homem com sede de riqueza perde a sua alma antes da sepultura. O rico é quase
sempre uma pessoa mesquinha, amarga, infeliz, medrosa.
O
rico ajuda os outros com pequenas esmolas, cuidando para não acontecer de dar
tudo e ficar sem nada; e ficar pobre. O que ele dá é aquilo que não lhe fará
falta. O rico tem medo de ficar pobre. Ele detesta a pobreza. No entanto, a
maioria dos pobres busca a amizade do rico, acreditando que estes podem se
interessar por eles. Os ricos, como disse o deputado Justo Veríssimo,
personagem criado por Chico Anísio, querem mesmo é que os pobres se explodam e
que morram todos.
Jesus
mostrou como agem os ricos e comentou sobre eles. Ele disse a um rico:
Se
queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um
tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se
triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus
discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma
agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Mateus 19:21-24.
Não
é que o rico não se salva. Nem todos os ricos estão inaptos ao reino dos céus.
Jesus pode transformar o coração de todos, até mesmo dos ricos. A dificuldade deles
está no fato de que eles confiam mais em suas próprias riquezas para se
salvarem do que em qualquer outra coisa, o que não ocorre com os pobres, porque
já que eles não têm nada em que possam confiar, por que não confiarem em
Deus?
Jesus
também fez um comentário sobre as ofertas que os ricos faziam, comparando-as
com as ofertas dos pobres. É assim o relato:
E,
olhando ele, viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro; e viu
também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas; e disse: em verdade vos
digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva; porque todos aqueles
deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza,
deitou todo o sustento que tinha. Lucas 21:1-4.
É de
ver que o dinheiro do pobre é tão pouco, que qualquer coisa que ele tirar vai
lhe fazer falta. Mas, mesmo assim, o pobre sempre se sensibiliza com as
necessidades dos demais. Ele sabe o que é sofrer, porque sofre todo dia. Então,
mesmo sabendo que vai obter poucos resultados com suas ofertas, mesmo assim ele
faz questão de ajudar. Já o rico, dá alguma coisa para aparecer e não porque
realmente deseja ajudar a diminuir o sofrimento das pessoas. É claro que não
vamos rejeitar as ofertas dos ricos, pois afinal, como disse certa mulher: Os
cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Mateus
15:27.
É de
destacar que o mais importante nessa reflexão sobre o poder não é o fato de se
ser rico ou se ser pobre, mas o que cada um faz com a sua riqueza em favor dos
demais. Deus não deu mais a uns para que se locupletem de “deleites e
prazeres”, mas muitos pensam que foi para isso.
De
onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos
vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes;
matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada
tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o
gastardes em vossos deleites. Tiago 4:1-3.
É de
destacar a necessidade de que alguém promova a justiça social, o equilíbrio na
distribuição de renda e a igualdade entre os homens. Esse é o papel dos
governantes e de todos que têm recebido o poder para gerenciar. É de ver que o
poder pertence a Deus. Aos homens cabe o gerenciamento conforme os propósitos
divinos.
Deus
falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. Salmos 62:11.
Cada
um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus. 1 Pedro 4:10.
O
apóstolo Paulo elogia a atitude dos crentes pobres da Macedônia, porque haviam
entendido o papel das riquezas, poucas ou muitas.
Também,
irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia; como
em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua
profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu
poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram
voluntariamente. Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a
comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. E não somente
fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor,
e depois a nós, pela vontade de Deus. 2 Coríntios 8:1-5.
O
ato de compartilhar o que tem com os outros, ainda que se tenha pouco, tem a
virtude de produzir o gozo, a alegria, o prazer. É de ver que, enquanto aquele
primeiro rico que nos referimos ficou triste porque era possuidor de muitas
propriedades e não se sentia à vontade para dá-las aos pobres, os pobres da
Macedônia ficaram alegres e felizes de poderem compartilhar um pouco dos bens
de sua pobreza com outros, igualmente pobres, que viviam em Jerusalém.
E
Paulo explica o porquê de tal interesse:
Porque
pareceu bem à macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os
santos que estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os
gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também
ministrar-lhes os temporais. Romanos 15:26,27.
É
dando que se recebe. Assim diz a Palavra:
Dai,
e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente
vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão
também." Lucas 6:38
O
homem que tem uma natureza tipicamente rica normalmente não se preocupa em
ajudar porque ele acredita que nunca precisará de ajuda. Mas, todos sabem que
ninguém é autossuficiente e, mais cedo ou mais tarde chegará o dia em que
estaremos pedindo ajuda a alguém.
O
homem poderoso às vezes até ajuda, mas não porque deseja ajudar, senão que para
se livrar do aborrecimento daquele que bate em sua porta. A Bíblia cita um
exemplo:
Disse-lhes
também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe
disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha
casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de
dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos
estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda
que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por
causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister. Lucas 11:5-8.
Também
conta a história de um juiz:
Dizendo:
Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem.
Havia também, naquela mesma cidade, uma certa viúva, que ia ter com ele,
dizendo: faze-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis
atendê-la; mas depois disse consigo: ainda que não temo a Deus, nem respeito os
homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que
enfim não volte, e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o
injusto juiz. Lucas 18:2-6.
O
que tem algum poder, normalmente faz alguma coisa pelo que não tem apenas para
se livrar de um aborrecimento. Ele não têm prazer em ajudar. Os poderosos não se
incomodam com as causas dos aflitos, dos que sofrem, dos miseráveis, dos
desassistidos. Isso não quer dizer que eles irão todos para o inferno. Não
estou julgando os ricos e nem a ninguém, mas apenas analisando essa categoria à
luz da Bíblia. Não estamos aqui para condenar ninguém, principalmente porque
Deus não faz acepção de pessoas e Ele não quer que nenhum pereça. Portanto, não
é hora de jogar ninguém no Lago de Fogo. Isso vai acontecer, mas não seremos
nós que faremos isso.
É de
ver que os ricos também podem ser salvos. Vejamos o caso de Zaqueu.
E,
tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um homem
chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico. E procurava ver
quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena
estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque
havia de passar por ali. E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima,
viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua
casa. E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente. E, vendo todos isto,
murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E,
levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade
dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo
quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também
este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se
havia perdido. Lucas 19:1-10.
Zaqueu
foi um rico que se converteu e passou a ter grande prazer em ajudar aos pobres
e a corrigir os seus erros. Isso não é coisa comum de se ver. A regra é que os ricos não se interessem por Deus, porque se acham deuses, senhores e poderosos.
E isso é um caso de preocupação, principalmente quando vemos os pobres se
comportando da mesma maneira.
Os
ricos querem continuar ricos e os pobres também querem ficar ricos. Mas a
verdade é que não existe a possibilidade de todos ficarem ricos, porque os
recursos são limitados e não são suficientes para todos. Mas é evidente que não
é de justiça que uns poucos tenham quase tudo, enquanto que os muitos restantes
não fiquem com quase nada.
Jesus
orientou aos ricos para fazerem a distribuição de suas riquezas. É nosso dever
lutar pela diminuição das desigualdades sociais, pela minimização das
diferenças de classes. Infelizmente, não é isso que vemos hoje em dia.
A
regra em uma sociedade capitalista é fazer todo o possível para ganhar mais e
perder menos. Pobres são orientados a deixar de comer, de vestir, de se
divertir e coisas do gênero, para poupar, para colocar os seus minguados
recursos nas mãos dos banqueiros, em troca de dividendos irrisórios. No
entanto, esses, quando emprestam, cobram juros exorbitantes.
Não
digo que não devemos fazer administração financeira, mas devemos ter cautela
sobre como fazemos isso.
É de
ver que poucos pobres ficaram ricos. Alguns até se remediam, mas a maioria
pobre, sempre continua pobre, mesmo trabalhando para os ricos e poderosos.
Jesus disse que sempre teríamos os pobres conosco. João 12:8.
A
orientação bíblica é de que aprendamos a viver contentes, mesmo vivendo em uma
situação de pobreza. O pobre é feliz, o rico não.
O
pobre sai de casa com tranquilidade e vai se divertir. O rico se tranca em casa
e fica vendo televisão, com medo de ser roubado. O pobre passeia pelas ruas,
praças. O rico anda de carro, com medo de ser assaltado. A vida do rico é uma
tribulação constante, enquanto que a do pobre é uma calmaria. No entanto,
apesar desse quadro, os ricos querem continuar ricos e os pobres querem ser
ricos a todo custo.
A
Bíblia alerta:
Não te fatigues para enriqueceres; e não apliques nisso a tua sabedoria. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia. Provérbios 23:4, 5.
Não te fatigues para enriqueceres; e não apliques nisso a tua sabedoria. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia. Provérbios 23:4, 5.
E
disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer
não consiste na abundância do que possui. Lucas 12:15.
Ninguém
pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se
dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. Mateus
6:24.
Não
confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas
aumentam, não ponhais nelas o coração. Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. Salmos
62:10,11.
Ao
que distribui mais se lhe acrescenta, e ao que retém mais do que é justo, é
para a sua perda. A alma generosa prosperará e aquele que atende também será
atendido. Provérbios 11:24,25.
O
poder e a riqueza pertencem a Deus e deve ser usado para diminuir as
desigualdades sociais e os sofrimentos de todos. É responsabilidade de quem tem
qualquer forma de poder compartilhar esse poder com os que não têm para que
cada um seja o mais universalmente igual ao outro.
Minha
é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos. Ageu 2:8.
É
evidente que todo aquele que acha que tem algum poder não haverá de concordar
com essa exposição, mas não é nosso objetivo contender. Apenas esclarecer. Cada
um, no exercício de sua liberdade e no uso dos espaços que criar também poderá
usar a tribuna para defender suas posições contrárias. Todavia, sempre com
respeito e sem prover a desordem e a confusão.
Porque
Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.
1 Coríntios 14:33.
Que
o Senhor nos abençoe e nos ajude a compreender os nossos caminhos. Amém!
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