terça-feira, 23 de setembro de 2014

O que é liberdade?

Gaudêncio Amorim

I
Você tem em casa um papagaio, um passarinho
Algemados numa grade de ferro sem piedade...?
_Daqueles que um dia alguém o arrancou do ninho
Para viver prisioneiro numa gaiola sem liberdade....?

II
Ah! e que prazer, que deleite o passarinho
Tão inocente e tão frágil o coitadinho
Arrancado arbitrário e precocemente do ninho
Para adornar a varando do carrasco sem coração
Pois este sim: nunca interpretou o seu grito
Nos sons agudos o eco de um ente aflito
A reclamar em vão pelo fragrante delito
O seu penar imperceptível nas asas da solidão

III
E o passarinho, sem saber por que está preso
Solitário, ao léu!, inocente e indefeso
Na torrente da dor insondável, o termo
Como se não houvesse mais nada, senão cantar.
Mas o canto é uma angústia, lânguida reclamação
De quem trocou a liberdade pela prisão
Sem direito, sem defesa e sem opção
Para cantar longe, livre do seu penar.

IV
Mas o carrasco, o desalmado que o prendeu
Se quer um dia, sua angustia percebeu
Para despertar que aquele passarinho “seu”
Não difere da sua condição de ser vivente.
Não nasceu condicionado à soberba do carrasco
Cativo, envolto na escuridão sombria do frasco
Para na opressão alheia de aviltante cadastro
Viver sem vontade submisso a qualquer patente!

V
_Quem quer ser livre, defende liberdade
_Quem respeita a natureza, proclama a igualdade
Não prende o outro, como se ele não tivesse vontade
Escravo do seu algoz, imune aos efeitos da natureza!
Por isso, segue o meu protesto em revolução
Ou se melhor entender, nos lamentos de uma canção
Que pode se dirigir a Deus em oração
Uma oferenda aos inocentes sem direito e sem defesa!

VI
Se aprendeu a lição _ solte o pequenino!
Deixe voar livre como nasceu o passarinho!
Longe da prisão, mas próximo do seu ninho
Como viveu feliz nos tempo de outrora.
Assim, entendemos o valor que a liberdade tem
Pois seria, como perguntar para alguém
Se na situação daquele passarinho também
Gostasse de viver preso..... numa gaiola!

VII
E se você, mesmo confuso, entender a mensagem
Não faça dela signo da distante miragem
Ou que reconhece o valor e não tem coragem
Para admitir a razão que essa verdade tem
Pois, qualquer ser sensato nesse País Tupiniquim
Deveria, ao menos, pensar assim
De que o que não quero prá mim

Não devo querer prá ninguém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário