Gaudêncio Amorim
I
Você tem em casa um papagaio, um
passarinho
Algemados numa grade de ferro sem
piedade...?
_Daqueles que um dia alguém o
arrancou do ninho
Para viver prisioneiro numa
gaiola sem liberdade....?
II
Ah! e que prazer, que deleite o
passarinho
Tão inocente e tão frágil o
coitadinho
Arrancado arbitrário e
precocemente do ninho
Para adornar a varando do
carrasco sem coração
Pois este sim: nunca interpretou
o seu grito
Nos sons agudos o eco de um ente
aflito
A reclamar em vão pelo fragrante
delito
O seu penar imperceptível nas
asas da solidão
III
E o passarinho, sem saber por que
está preso
Solitário, ao léu!, inocente e
indefeso
Na torrente da dor insondável, o
termo
Como se não houvesse mais nada,
senão cantar.
Mas o canto é uma angústia,
lânguida reclamação
De quem trocou a liberdade pela
prisão
Sem direito, sem defesa e sem
opção
Para cantar longe, livre do seu
penar.
IV
Mas o carrasco, o desalmado que o
prendeu
Se quer um dia, sua angustia
percebeu
Para despertar que aquele
passarinho “seu”
Não difere da sua condição de ser
vivente.
Não nasceu condicionado à soberba
do carrasco
Cativo, envolto na escuridão
sombria do frasco
Para na opressão alheia de
aviltante cadastro
Viver sem vontade submisso a
qualquer patente!
V
_Quem quer ser livre, defende
liberdade
_Quem respeita a natureza,
proclama a igualdade
Não prende o outro, como se ele
não tivesse vontade
Escravo do seu algoz, imune aos
efeitos da natureza!
Por isso, segue o meu protesto em
revolução
Ou se melhor entender, nos
lamentos de uma canção
Que pode se dirigir a Deus em
oração
Uma oferenda aos inocentes sem
direito e sem defesa!
VI
Se aprendeu a lição _ solte o
pequenino!
Deixe voar livre como nasceu o
passarinho!
Longe da prisão, mas próximo do
seu ninho
Como viveu feliz nos tempo de
outrora.
Assim, entendemos o valor que a
liberdade tem
Pois seria, como perguntar para
alguém
Se na situação daquele passarinho
também
Gostasse de viver preso..... numa
gaiola!
VII
E se você, mesmo confuso,
entender a mensagem
Não faça dela signo da distante
miragem
Ou que reconhece o valor e não
tem coragem
Para admitir a razão que essa
verdade tem
Pois, qualquer ser sensato nesse
País Tupiniquim
Deveria, ao menos, pensar assim
De que o que não quero prá mim
Não devo querer prá ninguém!
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