A Esquerda ferida, mas sem força.
Gaudêncio
Amorim
A forma com que os
defensores do governo Dilma Rousself tem atacado as ruas de todo País, a partir
da possibilidade do impeachment, revela
o sentimento da esquerda na defesa do status político alcançado nas eleições de
2002, com a vitória de Luis Inácio Lula da Silva, após insistentes e históricas
tentativas, principalmente após o regime democrático basilar da Constituição
Federal de 1988.
É cristalina a
estruturação e corporificação da esquerda para defender a manutenção de um
poder que, em tempos de república, levou mais de um século para alcançar e que,
teve no sindicalista Luis Inácio Lula da Silva,
seu maior símbolo de resistência. O governo da presidenta Dilma, por si
só não se mantêm, todavia se resiste pela coalisão da esquerda, que elegeu na
expressão “não vai ter golpe” o instrumento ideológico do contra ataque, para
reparar os estragos de uma embarcação próximo do naufrágio.
O leitor atento perceberá que
governo se ressuscitou do seu próprio funeral, quando da revelação do propinato
ao ex presidente Lula espelhado pelo tríplex do Guarujá e pelo sítio de
Atibaia, supostamente ofertados por empreiteiras, como moeda de troca à benesses
do poder, constituindo-se assim num grave escândalo de corrupção, erva daninha,
típica de países subdesenvolvidos. Se este enredo não entrasse em cena é
provável que o impeachment do atual governo estivesse em patamares bem mais
avançados do que o atual estágio que, a depender da relação de compadrio entre
os poderes poderá resultar na já conhecida e esperada expressão por muitos: “em
pizzas”, exceto se vigorar a seriedade da Justiça (STF) ou se ganhar impulso a
voz das ruas capaz - de tratar o sistema, quase totalmente infectado pela
imoralidade em escala progressiva, tendo em vista os escândalos perenes de
corrupção que se amontoam e que, portanto, tem se configurado no país do
espetáculo, cuja cena é sempre aguardada pela sociedade, como um enredo ainda
mais negativo e picante, não para arrancar aplausos, mas para corroborar uma
classe política em ruína.
A
situação política do Brasil é vexatória, tanto aos olhos do exterior, quanto à
visão endógena dos seus próprios cidadãos. Em tempos de República e de
democracias, o País ainda não se tinha abalado por tão forte crise política e
simultâneo crescimento da crise econômica na acepção de uma sociedade, ainda
como plateia, assistindo e se dividindo entre os que querem a manutenção do
poder, os que desejam retomar, em face do oportunismo da crise e ainda daqueles
que aspiram por novas forças, visionários de uma limpeza geral no Congresso
Nacional e no governo que, segue vivo pelo paliativo da esquerda ferida, cuja
força de resistência ainda é impresumível no tempo, a depender dos novos
espetáculos e principalmente da competência dos seus protagonistas para maquear
os engodos ou para extirpar os ataques à verdadeira democracia, já que ambos
atores se justificam em sua defesa.
Os
poderes, por si, não são motivado a promover a revolução, geralmente se
entendem entre si sob o pacto da proteção bilateral, de sorte que a revolução
efetiva, em tempos democráticos, estará sempre a cargo da sociedade civil e
geralmente acontecem por erros de estratégia dos próprios poderes dominantes ou
quando os cidadãos não tiverem mais nada a perder, conforme escrevera Florestan
Fernandes em 1981, no seu livro “O que é revolução”, cuja coalisão de força é
totalmente indesejada pelos artífices do poder.
Neste
sentido, a possibilidade de revolução, nesse estágio da crise política, se
daria da esquerda organizada com ela mesma e poderia se evoluir, se demonstrar
a capacidade de envolvimento da sociedade civil, a qual, não nos parece intuir
em tal propósito, haja a vista, o desgaste do atual aparato político e a
descrença no sistema, já que as revelações de fraude e corrupção acabaram por
desanimar a pequena parte da sociedade que ainda teimava na esperança do
contraditório.
Assim,
nem os brios feridos da esquerda, a permanecer o abismos de escândalos do
governo, serão suficientes para atalhar o naufrágio em processo. A frágil
coalisão de força da esquerda, pode inclusive, encurtar os caminhos para o ato
final dessa embarcação em ruina, já que, a esquerda não nos parece ter força estruturante
suficiente para um golpe, à força, capaz de estabelecer uma ditadura de
esquerda.
Com
efeito, tudo dito acima, deveras se confirmou na votação da câmara dos
deputados na sessão do dia 17 de abril de 2016 e, mais uma vez, não porque a
Casa estivesse apreciando o suposto crime da presidenta, mas visionários dos
seus próprios projetos individuais de futuro, sintonizados na vontade popular
de suas bases eleitorais, já que a grande maioria assim se justificavam,
inclusive na menção de suas famílias e pela juventude, tantas vezes citadas.
Todavia, o julgamento dessa data não nos pareceu se dá no epicentro de suas razões (as pedaladas
fiscais), mas pelo conjunto da obra, já que tanto governos (em maior ou menor
grau) também assim o fizeram e passaram imune à guilhotina do congresso. A
votação de 367 votos a favor do impeachment contra os 137 votos a favor, com
apenas 02 ausências e 07 abstenções, ao final, representa o nível de
insatisfação popular com o governo, apesar de vencedores do certame, nesta 1ª
etapa, continuar sendo personas não
gratas, já que até agora a sociedade ainda não é vencedora de nada, exceto de
conseguir vencer as coalisões de forças dos interessados no status quo vigente,
a começar pelo vice presidente Michel Themer, pela presidência da Câmara,
Deputado, Eduardo Cunha e pela presidência do Senado Federal, Senador Renan
Calheiros, além das centenas de parlamentares contaminados pela podridão do
sistema, (é claro que respeitado o contraditório e a ampla defesa, consubstanciados
no estado democrático de direito) cuja permanência nele, dificultaria o Brasil
construir um novo caminho marcado pela ética na política, pela credibilidade
social e pelo progresso econômico. Mas uma coisa de cada vez, até agora os
papéis foram cumpridos seguindo o protocolo das expectativas nas instituições e
tomara que elas sejam fortes o suficiente para defender os reais interesses da
sociedade sem intervenção dos cidadãos numa revolução civil.
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