sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Upenino ROCHINHA

Rochinha


                        Eis que mais um patriarca poxoreano se vai para o descanso eterno dos justos no “seio de Abraão”, o pai de todas as Nações. “Rochinha faleceu!”.
                          Joaquim Nunes Rocha, o “Rochinha”, o “Rocha”, “seo Rocha”, cidadão dos céus, membro da família dos santos, pertencente à comunidade Assembléia de Deus, nosso irmão, companheiro e líder já está discursando na Tribuna Celeste. Nosso amigo já está com Deus. A sua passagem para a eternidade aconteceu em Cuiabá, a Capital do Estado, às 11 horas e trinta minutos de 20 de Outubro de 2001, Sábado, no segundo dia das festividades alusivas ao 63º aniversário de emancipação político-administrativa de Poxoréo. Acompanhado por autoridades políticas, civis e religiosas, ele foi sepultado no jazigo da família Nunes Rocha, no Cemitério de Poxoréo.
                          “Poxoréo está de luto”. O povo poxoreano pranteou e homenageou seu grande líder. A Câmara Municipal foi pequena para receber as centenas de pessoas que lá compareceram para dar o seu adeus a Rochinha. O sentimento e a comoção da população foi transmitido pelo presidente da Câmara Municipal Adolfo Fernandes Catalá Neto e pelo prefeito municipal Antônio Rodrigues da Silva. Ambos destacaram o exemplo, a dedicação e o amor do do ex-prefeito pelo Município de Poxoréo, qualificando a sua perda como dano irreparável.
                       Rochinha  veio de Goiás, da terra das preciosas esmeraldas do Anhangüera, para ser em Mato Grosso um dos construtores da cidade de Poxoréo, nossa eterna Capital dos Diamantes. Herdou a tenacidade e a firmeza das pedras preciosas, conservando a lucidez e sendo sempre um homem brilhante e ativo em todos os seus 85 anos de vida, advogando as causas dos mais pobres e menos favorecidos da fortuna, mediando, assim, os litígios sociais de sua gente. Essa sua dedicação foi lembrada na homenagem póstuma que a OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, secção de Poxoréo/Primavera do Leste/Paranatinga fez ao seu ilustre membro Dr. Joaquim Nunes Rocha, através do Dr. Carlos Mandú da Silva, presente na ocasião.

“Rochinha foi um forte até a morte!” Inquiridor irrequieto, persistente, metódico, disciplinado e muito inteligente, ele sempre soube como conduzir. E por isso foi, com certeza, um líder durante toda a sua vida. Como político amou a terra mato-grossense, dando-se por ela em diversos mandatos como deputado federal e estadual, vereador e prefeito de Poxoréo. Inegavelmente, ele foi o maior e mais importante líder político que esta terra poxorense já produziu e que por ela se dedicou com tamanha intensidade. Aqui ele não veio passear, não veio visitar. Ele veio para ficar e aqui estará para sempre, nos corações de seus amigos, de seus seguidores políticos, de seus descendentes e até mesmo de seus adversários, que irão se lembrar dele e de sua lealdade nas disputas pelo poder.
                        “Rochinha continuará vivo entre nós!”. A Igreja Assembléia de Deus, através do seu pastor Abel Azambuja enfatizou a fé, a esperança e o caminho que ele encontrou na pessoa de Cristo de Jesus, do qual se tornou dedicado discípulo nos últimos anos. Segundo Azambuja, Rochinha escreveu um documento onde declarou que "depois de percorrer várias igrejas e de examinar várias doutrinas, finalmente havia encontrado o caminho na pessoa de Jesus". Na religião ele encontrou o caminho para os céus. Na terra, ele foi o patriarca de uma família que tem feito as coisas acontecerem neste país. Junto com seus sete filhos (Louremberg - ex-deputado-federal e ex-senador da República, Lindberg - ex-prefeito, Lindemberg - médico, Sílvio Romero - Advogado, Benedito César - Sociólogo e historiador, e, Lindsey - sua única filha), Joaquim Nunes Rocha escreveu muitas páginas na história do Brasil, razão porque sempre está vivo na nossa memória.
                        "Rochinha sonhou, pensou e projetou". Pensar o futuro é uma questão de responsabilidade. Principalmente quando esse é o futuro da nossa cidade. Seu filho Lindberg Ribeiro Nunes Rocha, nas poucas palavras que pronunciou em agradecimento ao apoio, à solidariedade e ao amor que estava sendo dedicado ao seu pai, lembrou que ele sempre proclamava nos discursos que fazia, os seus sonhos de ter uma Poxoréo com avenidas largas e floridas, com espaço para que a juventude pudesse viver e ser feliz. Ele foi um crente extremado que sempre acreditou na possibilidade de seu povo ser feliz. Com certeza foi no seu exemplo que Lindberg aprendeu que "para se administrar uma cidade, antes de tudo é preciso amá-la", o que lhe garantiu quatro mandatos como administrador de Poxoréo.
                        “Rochinha discursou.” E como! Garcia Neto, antigo companheiro de Rocha, da velha UDN - União Democrática Nacional, ex-governador de Mato Grosso presente nas homenagens póstumas, relembrou dos 50 anos que caminhou lado a lado com Rochinha por esse Estado, construindo as suas estruturas políticas.
                        "Rochinha proclamou!". Ainda está bem vivo em minha mente as palavras de seo Rocha sobre os seus sonhos de felicidade para a cidade de Poxoréo, quando disputou a Prefeitura de Poxoréo em 1992. Ele disse e eu gravei para a história: “Com muita satisfação eu me dirijo ao povo de Poxoréo, para que nos ajudem nessa peleja, porque essa peleja é uma peleja legítima a defender os interesses daqueles que vivem nessa região. Nós estamos disputando o cargo de Prefeito Municipal, não por vaidade. Absolutamente! Não por aventureirismo. Nós estamos disputando, porque verificamos que dispomos das condições necessárias para trazer a esta coletividade o dinheiro que seja necessário à construção de obras, à abertura de outras atividades, à instalação de novas empresas que tragam os benefícios ao povo, que tragam a felicidade desta região. Dessa forma, nós nos encontramos na condição de carrear para a nossa gente, toda sorte de benefícios para assegurar a felicidade do nosso povo e o engrandecimento da nossa cidade”. Ao finalizar  seu discurso, ele disse: “Eu estou oferecendo um prêmio, eu estou oferecendo um serviço, estou oferecendo os meus conhecimentos nas últimas décadas da vida. Quero trazer isso como prêmio para o meu povo, para minha gente, trabalhando,  conseguindo recursos, encaminhando estudantes, conseguindo o aprimoramento do ofício daqueles que laboram aqui dentro de nossas fronteiras”. Ele se doou por inteiro ao povo de Poxoréo. Desde então, nuca mais deixou essa cidade.
                        “Rochinha foi um grande intelectual.” Membro honorário da UPE - União Poxorense de Escritores, ele escreveu vários artigos que foram publicados em diversos jornais. Ao lado de João José Freire, Joaquim Dias Coutinho, foi um dos fundadores do Jornal Correio de Poxoréo, no qual registrou muito do seu pensamento. Mas a sua sede pela cultura e pelo conhecimento nunca foi saciada.  Não faz muitos dias, ele esteve em minha casa para conversar comigo. Ele sempre me procurara para tratar sobre assuntos profissionais e eu pensava que nossa conversa daquele dia versaria sobre a pauta costumeira. Mas não foi assim. Ele puxou da memória a história e conversamos durante mais de hora sobre diversos assuntos da cultura geral. E, em nossa última conversa, por telefone, ele me solicitou que pesquisasse e o informasse sobre quem foi o filho que Júlio César teve com Cleópatra, quando andou lá pelas bandas do Egito. Infelizmente não pude passar-lhe a informação, pois logo ele adoeceu e foi em busca de tratamento especializado na Capital. Daniel, seu neto, disse que guardaria do avô, o seu o último sorriso. De minha parte, guardarei dele como última lembrança, esse seu interesse apaixonante pelo conhecimento, pelo qual me inspiro a continuar buscando as respostas para os novos problemas que a atual era do conhecimento irá desafiar-nos.
                        Até breve, Rochinha! Não te daremos um adeus, mas um até breve, na certeza de que logo nos encontraremos na eternidade dos céus, onde os dias não são contados. Que sua dedicação e seu amor por esta terra doce e amada chamada Poxoréo, continue sendo uma inspiração para aqueles que continuarem a sua trajetória no governo deste Município e deste Estado. Seja também nosso o "obrigado" que Pe. Pietro Melesi, da Missão Salesiana de Mato Grosso lhe fez postumamente. Obrigado, de coração, pelo seu exemplo concreto de liderança.
                        Descanse em paz, amigo! Nós continuaremos a sua luta pela felicidade de Poxoréo. (Poxoréo, MT, 21/10/2001).

Izaias Resplandes de Sousa é escritor mato-grossense, pedagogo, Gerente de Cidades, acadêmico de Matemática da UFMT em Primavera do Leste, sócio-fundador da União Poxorense de Escritores (UPE) e membro da Igreja Evangélica Neo-Testamentária de Poxoréo, MT.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 16/09/2008
Código do texto: T1180503

Nota do Blog:
Publicado no Recanto das Letras. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/biografias/1180503

Morre Rochinha, um dos últimos coronéis de MT

EDUARDO GOMES
Da Reportagem

Mato Grosso perdeu o advogado, professor e ex-deputado Joaquim Nunes Rocha, o Rochinha, um dos fundadores da extinta União Democrática Nacional, a UDN.

O ex-deputado morreu ontem, às 10h14, no Hospital Jardim Cuiabá, em Cuiabá, vítima de falência múltipla dos órgãos. Estava em coma na UTI desde o dia 12, logo após se submeter a uma cirurgia de vesícula. O corpo inicialmente foi velado no saguão da Assembléia Legislativa, e depois seria trasladado para Poxoréo, onde o velório aconteceria na Câmara Municipal. O sepultamento está marcado para hoje, às 10h, no cemitério daquela cidade.

Rochinha tinha 85 anos, era filho de maranhenses, nascido em Tocantinópolis (TO) e deixa a viúva, Rosemere. Morou em Poxoréo desde a infância. Foi um dos fundadores da UDN, em 1945. Antes de se tornar político ficou conhecido na região de garimpos do antigo Leste de Mato Grosso, na década de 50, por seus dotes de farmacêutico leigo, que exercia na Farmácia Estrela, em Poxoréo.

Em Poxoréo elegeu-se vereador por um mandato, vice-prefeito e prefeito por três vezes. Foi casado com dona Irantina Ribeiro Vilela Rocha – já falecida – com a qual teve sete filhos: Lindberg, advogado e prefeito de Poxoréo por quatro mandatos; Louremberg, advogado, ex-deputado federal, ex-senador e ex-secretário de Educação de Mato Grosso; Lindemberg, médico psiquiatra; Lindicey, psicóloga; Joaquim, pecuarista; Sílvio, advogado; e Benedito, psicólogo.

Teve destacada atuação no cenário mato-grossense. Foi eleito deputado estadual em três legislaturas, deputado federal e chefiou a Casa Civil no Governo Garcia Neto.

O advogado e pai do governador Dante de Oliveira, Sebastião de Oliveira, o Dr. Paraná, participou do velório na Assembléia e destacou qualidades de Rochinha, “ele foi um homem honrado, cumpridor de palavra, que soube dar boa educação aos filhos. Foi deputado respeitado tanto em Cuiabá quanto em Brasília. Lembro-me que foi autor da lei que regulamenta a administração do próprio Estado”.

Dr. Paraná disse que sempre manteve relações de cordialidade com Rochinha, desde a década de 40.

Em Poxoréo, nos anos 60, Rochinha era uma espécie de semideus. Fazia política ao estilo do coronelismo da velha UDN. Certa feita – contam antigos moradores da cidade – ele foi ao distrito de Paraíso do Leste participar de um comício. Por ser a figura mais destacada, era o último a chegar ao lugar da concentração pública. Na praça cheia, o locutor e vereador Jubal Martins da Siqueira anunciou a presença do cacique: “Todos tirem o chapéu porque Deus está entrando no Paraíso”. 


Nota do Blog: Publicado no Diário de Cuiabá. Disponível em: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=73560



Retratos nas paredes
PEDRO LIMA


Com a morte de Joaquim Nunes Rocha, Mato Grosso perdeu uma reserva moral, a classe política perdeu uma referência, e a região dos garimpos, o sul do estado - antigo leste mato-grossense -, um dos homens que soube representar com dignidade aquele povo pioneiro que com seu trabalho artesanal, inicialmente nas lides dos garimpos de diamantes e, posteriormente, na pecuária e agricultura se constituiu na sentinela avançada do desenvolvimento de Mato Grosso.

Rochinha, como seus amigos e adversários o tratavam, fez parte daquela velha guarda de políticos sérios, dedicados ao partido e fiéis aos amigos. Disputou várias eleições; tinha uma irresistível atração pelas urnas. Perdeu e ganhou. Soube se conduzir com dignidade nas vitórias e com altivez nas derrotas. Nunca foi seduzido a abandonar a sua querida UDN pelas promessas, propostas ou benesses fáceis do poder. Lutava por esse poder no seu partido e ao lado de seus correligionários. Não conheceu a estrada dos pusilânimes que a um aceno jogam suas biografias no lixo da história em busca de interesses pessoais e mesquinhos, como infelizmente se tornou prática nos tempos atuais.

Um dos fundadores da UDN do Poxoréo, militou nesse partido até o dia da sua extinção, quando num ato infeliz o governo militar sonhando em castrar as velhas lideranças, extinguiu os partidos que ora existiam. Ao extinguir partidos como o PSD, a UDN e o verdadeiro PTB - não esse que tem por norma alugar a sigla -, o PTB de Getúlio, os militares deram talvez o golpe mais mortal na democracia brasileira, privando as novas gerações de conhecerem partidos políticos de verdade.

Só quem como eu, embora bastante jovem, participou das lutas políticas nos garimpos, sabe o grau de necessidade da firmeza de caráter, da coragem cívica e até da coragem pessoal para participar dos embates eleitorais. Rochinha era um desses que não tinha medo de rastro de onça. Nem mesmo da onça. Travou com Rachid Mamed um duelo de gigantes na arena política de Poxoréu.

Poxoréu, por ser uma cidade habitada em sua grande maioria por nordestinos, com predominância de baianos e maranhenses, era um lugar de política apaixonada onde não havia lugar para covardes.

Eu, particularmente, embora adversário político do Rochinha , pois sou filho do PSD, sempre tive por ele uma consideração e um carinho especial em razão do respeito com que o meu pai se referia aos seus pais, em especial à sua mãe. Segundo a lenda dos garimpos, quando Ondino Rodrigues Lima na batalha do “Morro da Arnica”, município de Tesouro, por ocasião da revolução Morbeckt Carvalhinho saiu ileso de um cerco e um tiroteio cerrado, correu pelos garimpos que ele tinha corpo fechado para balas, e quem fazia as orações e fechava seu corpo era a dona Maria Andréia da Rocha mãe do Rochinha, avó do senador Louremberg. Por ser descendentes, e ela própria maranhense, eram aliados do Dr. Morbeck, chefe geral da revolução da qual meu pai era o comandante do campo de lutas.

Tive a honra de ser amigo pessoal do Dr. Joaquim Nunes Rocha. Exerceu ele mandatos de vereador, prefeito, deputado estadual e federal. Foi promotor de justiça ainda leigo numa época em que não havia em Mato Grosso advogados formados suficientes para preencher as vagas existentes. No entanto, já depois de certa idade graduou-se em direito, dando mais um exemplo de tenacidade e fibra aos mais jovens.

Eficiente e humilde em seu trabalho parlamentar que muito fez por Mato Grosso, nunca fez alarde de o fato de ter sido - até antes do Vuolo -, o primeiro político do nosso Estado a desfraldar a bandeira da ferrovia. Conforme consta dos anais da Camara dos Deputados, no dia 25 de maio de 1975, o deputado federal Nunes Rocha, na comissão de transportes da Câmara já enfatizava a necessidade urgente de integrar o norte e o leste mato-grossense à malha ferroviária de São Paulo.

A morte é o caminho natural e inexorável de todos. Parece até uma ironia, mas a morte á a única verdade absoluta da vida. Porém, além da saudade que homens como Rochinha deixa entre nós, o que entristece ainda mais e ver a desagregação moral, o oportunismo e o mercantilismo do quadro político atual e chegar a triste realidade que o que há de melhor na história política do nosso Mato Grosso, não tem os seus espaços ocupados por homens e mulheres - com raras exceções -, da mesma têmpera dos que já cavalgam nas planícies do infinito. Que vai chegando o tempo que teremos para se encontrar o que há de bom, que procurar nos Retratos nas Paredes.

* PEDRO LIMA é analista político e advogado. Colaborador do DIÁRIO - escreve neste espaço aos sábados.

pedrondino@uol.com.br 


Nota do Blog. Publicado no Jornal Diário de Cuiabá. Disponível emhttp://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=74423

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