São Pedro situou-se à margem direita do ribeirão que recebeu igual nome e que deságua no rio Pombas, tributário do São Lourenço.
Professor João de Souza
“Na série de descobrimento que em 1924 se verificava na direção oeste, em relação ao Garças, no Estado de Mato Grosso, à procura de jazidas diamantíferas, São Pedro a 50 km a noroeste de Poxoréu, desempenharam preponderantemente.
Descoberto no mês de junho, na festa do Santo que lhe deu o nome, também São Paulo lograra o mesmo acontecimento no mesmo dia e ano, ambos a poucos quilômetros de distância, Alcantilado foi encontrado em seguida. Anteriormente com forte repercussão já havia sido descoberto o garimpo do Pombas que servira de Liame para atrair as atenções dos exploradores para a região.
Em seguida fora descoberto o garimpo dos Sete, resultado das pesquisas de sete exploradores. Próximo a este foi encontrado o garimpo de Todos os Santos que recebeu topônimo porque foi localizado no dia 1º de novembro. Essa constelação de jazidas passara a ter como centro a povoação de São Pedro. Todos esses povoados situados em variadas direções afastavam – se a pequena distância de São Pedro, tendo no máximo duas léguas de raio.
São Pedro situou-se à margem direita do ribeirão que recebeu igual nome e que deságua no rio Pombas, tributário do São Lourenço. Em todas essas jazidas foi encontrada apreciável quantidade de diamantes, todas aglomerando grande número de garimpeiros.
São Pedro em poucos meses, em virtude da riqueza de suas minas se transformara em forte empório comercial, onde gravitavam as mais variadas atividades e aglutinava povoadores das mais diversas paragens do País, podendo se divisar ali todas as classes sociais, negociantes, boiadeiros, açougueiros, hoteleiros, proprietários de casas de diversões, padeiros, sapateiros, compradores de diamantes, artesãos, etc., mas todos tendo como atividade mantenedora o produto da garimpagem.
Registrava-se a existência de grandes casas comerciais, onde podia ser encontrada toda espécie de mercadoria, assim para bravatearia como para atender ao mais fino gosto, perfumes, seda, louças, tecidos do mais fino lavor de forma a atender a demanda do gosto mais apurado e bem assim, da força do mulherio envaidecido, que desprezando o valor do dinheiro praticava os mais espalhafatosos desatinos. Era vulgar os chamados banhos de cerveja e de champanhe. No meio desse quadro de desregramentos, às vezes surgia uma mulher mais desataviada que embuchava o revolver com notas de 500 mil réis e descarregava para o ar, demonstrando quão farta tinha sido a colheita da noite anterior.
No Campo das diversões, os fecha – nunca, cabarés que funcionavam noite e dia, representavam principalmente centro de recreação. Ali ao embalo de toscos conjuntos musicais regidos via de regra por clarinetas e Sanfonas, se desencadeavam todos os entretenimentos.
Grande número de mulheres compunha aquele quadro, dentre as quais podiam ser notadas figuras dotadas de beleza, donaire e elegância, mas onde, entretanto a maioria não possuía nenhum encanto, pelo contrário, demonstrava existência sofrida, estigmatizada na luta pela vida.
Para aqueles que quisessem escapar daquela modalidade de diversão surgiam outros derivativos mais sofisticados: o bilhar, o baralho e a roleta, onde os garimpeiros incautos, frente a jogadores profissionais viam esvair o produto do seu trabalho.
A opulência das jazidas diamantíferas de são Pedro ecoou a longa distância aglomerando empresários, dentre os quais se notavam nomes, especialmente de origem árabe que desempenharam saliente papel em outras cidades do Estado.
No primeiro semestre de 1925, uma representação dirigida ao Agente Geral das Minas, mostrando a necessidade da conservação do pequeno comércio existente em Pombas e que tinha São Pedro como fonte suprimidora, mostra o grau de desenvolvimento de que ao tempo já desfrutava a localidade. Nessa manifestação figuram os nome de Miguel Maluf, Amin Lotfi, Elias Haydamus, Miguel Haydamus, Antônio Pedemonte, Darlindo Lino de Souza, José Kerde, Otto Lins, Wagenam, Nagib Homsi, Simão José, Tuc José, Emílio Zattar, Antenor Gonçalves de Queiroz, Domingos Tavares da Cunha, além de outros, transitavam por ali Elias Bechara, Miguel Lotfi, Miguel Sebba, Jorge Sebba, José Dualib, Kalil Mutran, Gabriel Saddi, fato deveras significativo para um lugar há pouco descoberto e que pelo fato de não possuir medidas de segurança, se comum o uso e o livre acesso às armas e ao álcool, já de inicio houvera sido teatro de facinorosos acontecimentos.
O povoado continuava em acelerado crescimento, divisando – se ali sucessivas entradas oriundas dos mais diversos recantos do País, e que dali também partiam para outras descobertas, ao tempo para as novas influências que se verificam no “Morro da Mesa” ou Poxoréu.
Um sério inconveniente tomara corpo no processo de ocupação de São Pedro. As classes que formam a tropa de ocupação das descobertas dominadas pela perspectiva da fortuna fácil e na expectativa de sucessivas influenciam, para onde por certo se deslocariam, não cuidaram da fixação dos fundamentos definitivos da povoação. Tudo ali fora construído de supetão, de improviso e com o material precário, próprio da provisoriedade das coisas. Não houve preocupação quanto à implantação de atividades agrícolas ou pecuárias, sendo encontrada raramente a existência de lavradores, salvo algum ocupante de terra ali já existente ao tempo da descoberta.
Tropas de burro e de bois procedentes de Cuiabá e regiões vizinhas e das bandas de Goiás e Minas Gerais abasteciam de víveres a povoação. As edificações do povoado, se é que assim podiam ser chamadas foram todas construídas com folhas de babaçu e buriti, vendo esse material até nas cercas dos quintais. Acrescente – se a esse quadro a avalanche de material combustível representado pelos grandes estoques dos armazéns e casas comerciais e ter – se – á uma visão do impressionante quadro que presenciamos.
Havíamos chegado a São Pedro em maio do ano em referência, vindo diretamente de Couto Magalhães, estado de Goiás.
Ao que constou ao tempo, um carreiro procedente da Fazenda Santa Paz, região de Rondonópolis, acabara de encostar os bois e fazer as primeiras compras para preparar o jantar. No rol das compras levara querosene e álcool. Era costume ao tempo desdobrar este em pinga. Já um tanto alto fora acender o fogo. Ajeitados os gravetos na trempe, ao invés de jogar querosene no fogão despejara álcool e riscando o fósforo, o fogo num ímpeto atingiu a parede de palha e num átimo já se encontrava na cumeeira da casa. Quanto à origem do fogo não há duvida que partiu da casa vizinha à pensão de Sinhá Dita, onde se encontrava arranchado o referido carreiro. Célere as chamas se altearam e açoitadas pelo vento já em fúria foram voando para as demais casas, semeando fogo ao mesmo tempo em todas as ruas. Em instantes imensa cordilheira de fogo cobria todo o casario, roncando, trepidando, pipocando, estrelejando como se das enormes fuzilarias se defrontassem em extenso campo de batalha. As labaredas imitando gigantescos corcéis revoluteavam a grandes alturas, semeando fogo em variadas cores e em todas as direções, chamas muitas vezes originadas por latas de inflamáveis e combustíveis que explodiam no ar. O vento voluptuosamente ribombava completando aquele cenário, imponente, majestoso. As cercanias a grande distância, por momentos ficaram iluminadas. O incêndio de São Pedro deixara reminiscências indeléveis na minha memória.
O resultado do trabalho de três anos de sangue, suor e lagrimas estava comburido. Pouca gente salvou alguma coisa. Uma rua de poucas casas afastada uns cem metros do grosso do comercio escapou chamuscada e duas outras casas no outro lado a igual distancia do casario, o que serviu de refugio naquela noite à população desabrigada.
São Pedro que durante três anos captara a admiração do mundo pelo esplendor de suas gemas preciosas;
São Pedro que fora também teatro de tristes acontecimentos;
São Pedro que patenteara com toda luminosidade a exuberância das jazidas diamantíferas do Mato Grosso terminava os seus dias de forma espetacular, violenta, majestosa.
Pensar-se-ia que grande sinfonia representada pela multiplicidade de executantes e de instrumentos, notadamente de percussão, ali se houvesse reunido fortes episódios que emolduraram a sua existência. “Tudo ficara reduzido a Cinzas”
Publicado originariamente em http://www.cliquef5.com.br/TNX/conteudo.php?sid=286&cid=43299. Acesso em: 30/08/2014.
Descoberto no mês de junho, na festa do Santo que lhe deu o nome, também São Paulo lograra o mesmo acontecimento no mesmo dia e ano, ambos a poucos quilômetros de distância, Alcantilado foi encontrado em seguida. Anteriormente com forte repercussão já havia sido descoberto o garimpo do Pombas que servira de Liame para atrair as atenções dos exploradores para a região.
Em seguida fora descoberto o garimpo dos Sete, resultado das pesquisas de sete exploradores. Próximo a este foi encontrado o garimpo de Todos os Santos que recebeu topônimo porque foi localizado no dia 1º de novembro. Essa constelação de jazidas passara a ter como centro a povoação de São Pedro. Todos esses povoados situados em variadas direções afastavam – se a pequena distância de São Pedro, tendo no máximo duas léguas de raio.
São Pedro situou-se à margem direita do ribeirão que recebeu igual nome e que deságua no rio Pombas, tributário do São Lourenço. Em todas essas jazidas foi encontrada apreciável quantidade de diamantes, todas aglomerando grande número de garimpeiros.
São Pedro em poucos meses, em virtude da riqueza de suas minas se transformara em forte empório comercial, onde gravitavam as mais variadas atividades e aglutinava povoadores das mais diversas paragens do País, podendo se divisar ali todas as classes sociais, negociantes, boiadeiros, açougueiros, hoteleiros, proprietários de casas de diversões, padeiros, sapateiros, compradores de diamantes, artesãos, etc., mas todos tendo como atividade mantenedora o produto da garimpagem.
Registrava-se a existência de grandes casas comerciais, onde podia ser encontrada toda espécie de mercadoria, assim para bravatearia como para atender ao mais fino gosto, perfumes, seda, louças, tecidos do mais fino lavor de forma a atender a demanda do gosto mais apurado e bem assim, da força do mulherio envaidecido, que desprezando o valor do dinheiro praticava os mais espalhafatosos desatinos. Era vulgar os chamados banhos de cerveja e de champanhe. No meio desse quadro de desregramentos, às vezes surgia uma mulher mais desataviada que embuchava o revolver com notas de 500 mil réis e descarregava para o ar, demonstrando quão farta tinha sido a colheita da noite anterior.
No Campo das diversões, os fecha – nunca, cabarés que funcionavam noite e dia, representavam principalmente centro de recreação. Ali ao embalo de toscos conjuntos musicais regidos via de regra por clarinetas e Sanfonas, se desencadeavam todos os entretenimentos.
Grande número de mulheres compunha aquele quadro, dentre as quais podiam ser notadas figuras dotadas de beleza, donaire e elegância, mas onde, entretanto a maioria não possuía nenhum encanto, pelo contrário, demonstrava existência sofrida, estigmatizada na luta pela vida.
Para aqueles que quisessem escapar daquela modalidade de diversão surgiam outros derivativos mais sofisticados: o bilhar, o baralho e a roleta, onde os garimpeiros incautos, frente a jogadores profissionais viam esvair o produto do seu trabalho.
A opulência das jazidas diamantíferas de são Pedro ecoou a longa distância aglomerando empresários, dentre os quais se notavam nomes, especialmente de origem árabe que desempenharam saliente papel em outras cidades do Estado.
No primeiro semestre de 1925, uma representação dirigida ao Agente Geral das Minas, mostrando a necessidade da conservação do pequeno comércio existente em Pombas e que tinha São Pedro como fonte suprimidora, mostra o grau de desenvolvimento de que ao tempo já desfrutava a localidade. Nessa manifestação figuram os nome de Miguel Maluf, Amin Lotfi, Elias Haydamus, Miguel Haydamus, Antônio Pedemonte, Darlindo Lino de Souza, José Kerde, Otto Lins, Wagenam, Nagib Homsi, Simão José, Tuc José, Emílio Zattar, Antenor Gonçalves de Queiroz, Domingos Tavares da Cunha, além de outros, transitavam por ali Elias Bechara, Miguel Lotfi, Miguel Sebba, Jorge Sebba, José Dualib, Kalil Mutran, Gabriel Saddi, fato deveras significativo para um lugar há pouco descoberto e que pelo fato de não possuir medidas de segurança, se comum o uso e o livre acesso às armas e ao álcool, já de inicio houvera sido teatro de facinorosos acontecimentos.
O povoado continuava em acelerado crescimento, divisando – se ali sucessivas entradas oriundas dos mais diversos recantos do País, e que dali também partiam para outras descobertas, ao tempo para as novas influências que se verificam no “Morro da Mesa” ou Poxoréu.
Um sério inconveniente tomara corpo no processo de ocupação de São Pedro. As classes que formam a tropa de ocupação das descobertas dominadas pela perspectiva da fortuna fácil e na expectativa de sucessivas influenciam, para onde por certo se deslocariam, não cuidaram da fixação dos fundamentos definitivos da povoação. Tudo ali fora construído de supetão, de improviso e com o material precário, próprio da provisoriedade das coisas. Não houve preocupação quanto à implantação de atividades agrícolas ou pecuárias, sendo encontrada raramente a existência de lavradores, salvo algum ocupante de terra ali já existente ao tempo da descoberta.
Tropas de burro e de bois procedentes de Cuiabá e regiões vizinhas e das bandas de Goiás e Minas Gerais abasteciam de víveres a povoação. As edificações do povoado, se é que assim podiam ser chamadas foram todas construídas com folhas de babaçu e buriti, vendo esse material até nas cercas dos quintais. Acrescente – se a esse quadro a avalanche de material combustível representado pelos grandes estoques dos armazéns e casas comerciais e ter – se – á uma visão do impressionante quadro que presenciamos.
Havíamos chegado a São Pedro em maio do ano em referência, vindo diretamente de Couto Magalhães, estado de Goiás.
Ao que constou ao tempo, um carreiro procedente da Fazenda Santa Paz, região de Rondonópolis, acabara de encostar os bois e fazer as primeiras compras para preparar o jantar. No rol das compras levara querosene e álcool. Era costume ao tempo desdobrar este em pinga. Já um tanto alto fora acender o fogo. Ajeitados os gravetos na trempe, ao invés de jogar querosene no fogão despejara álcool e riscando o fósforo, o fogo num ímpeto atingiu a parede de palha e num átimo já se encontrava na cumeeira da casa. Quanto à origem do fogo não há duvida que partiu da casa vizinha à pensão de Sinhá Dita, onde se encontrava arranchado o referido carreiro. Célere as chamas se altearam e açoitadas pelo vento já em fúria foram voando para as demais casas, semeando fogo ao mesmo tempo em todas as ruas. Em instantes imensa cordilheira de fogo cobria todo o casario, roncando, trepidando, pipocando, estrelejando como se das enormes fuzilarias se defrontassem em extenso campo de batalha. As labaredas imitando gigantescos corcéis revoluteavam a grandes alturas, semeando fogo em variadas cores e em todas as direções, chamas muitas vezes originadas por latas de inflamáveis e combustíveis que explodiam no ar. O vento voluptuosamente ribombava completando aquele cenário, imponente, majestoso. As cercanias a grande distância, por momentos ficaram iluminadas. O incêndio de São Pedro deixara reminiscências indeléveis na minha memória.
O resultado do trabalho de três anos de sangue, suor e lagrimas estava comburido. Pouca gente salvou alguma coisa. Uma rua de poucas casas afastada uns cem metros do grosso do comercio escapou chamuscada e duas outras casas no outro lado a igual distancia do casario, o que serviu de refugio naquela noite à população desabrigada.
São Pedro que durante três anos captara a admiração do mundo pelo esplendor de suas gemas preciosas;
São Pedro que fora também teatro de tristes acontecimentos;
São Pedro que patenteara com toda luminosidade a exuberância das jazidas diamantíferas do Mato Grosso terminava os seus dias de forma espetacular, violenta, majestosa.
Pensar-se-ia que grande sinfonia representada pela multiplicidade de executantes e de instrumentos, notadamente de percussão, ali se houvesse reunido fortes episódios que emolduraram a sua existência. “Tudo ficara reduzido a Cinzas”
Publicado originariamente em http://www.cliquef5.com.br/TNX/conteudo.php?sid=286&cid=43299. Acesso em: 30/08/2014.