segunda-feira, 23 de junho de 2014

DESABAFO


Eu descobri que estava lhe amando
Foi numa tarde dessas de verão
Eu percebi que, ao olhar o por do sol, estava chorando
E só dava você em meu coração.

Procurei você em cada raio solar
Precisava demais lhe sentir.
Procurei você em todo lugar
Não encontrei, então quis fugir.

O amor não segue nenhuma regra
Nada existe nele que seja normal.
Quando menos se espera, ele nos pega
O amor é um eterno bem-mal.

Penso em você ao escrever esses versos
Penso em você em cada respiração.
Penso em você em momentos incertos
Penso em você com a caneta na mão.

Lembro-me do seu sorriso tão franco
Que sempre me fez estremecer
Ah! Lembro-me dos morangos no banco
E de como os me fazia sorver.

Mas o seu amor parece mais com a morte
Daqueles que vão torturando devagar
Eu não sei mais o que faço para lhe amar
Chego a pensar que é mesmo uma questão de sorte.

Não estou lhe culpando por absolutamente nada
A culpa é desse coração cruel
Que só me oferece taças de fel
E deixa minha alma amortalhada.

Você é uma história que se esqueceu de acontecer.
Quanto desejei caminhar todos os dias ao seu lado
Deus! Como quis lhe dizer que estava apaixonado
Como quis ver com você o dia anoitecer.

Estou tão confuso agora nesse momento!
Não sei mais quem é o culpado
Não sei mais se estou ao meu lado
Não sei se passei para o lado do tormento!

Está tudo tão incerto, tão massacrante.
Não sei se meu ser consegue passar por esse furação
Não sei em que estado ficara meu coração...
Ah! Alma minha, torna-te menos delirante.

Qual será a solução para esse triste romance?
Que romance que nada, você jamais me amou!
Durantes anos você só me enganou!
Quando me lançava o seu olhar com aquela nuance.

O que posso fazer se resolvi ser idealista?
Qual a culpa que tenho de ter lhe namorado em segredo?
Que há de errado em dizer que esse amor foi meu degredo?
O que fazer se não passo de um escapista?

É verdade que já fomos muito abençoados
Vivemos dias de profunda intimidade
Éramos a encarnação da lealdade
Nossa! Como éramos iluminados.

Sentávamos nos bancos das praças e avenidas
Tomávamos sorvetes à luz do luar
Íamos aquele velho rio nos refrescar
E depois apostávamos sempre corridas.

Cartas, flores, perfumes, postais e canções,
Tudo isso profundamente experimentamos
Foram esses os presentes que trocamos
Antes de chegar o momento dos perdões.

Nossa caminhada para a missa dominical
Parávamos todos os que estavam a caminhar
Ás vezes tinha a sensação de voar
E tínhamos a certeza da proteção de todo mal.

Lembra que até chegamos a dividir o ar?
Na verdade, nós só chegamos a tentar.
Ah! Como era bom no seu colo deitar
Como era bom ouvir das estrelas você falar.

Lembro-me de pedir a Deus que parasse o sol
Para que aquela luz sempre lhe iluminasse.
Eu queria sempre que você brilhasse
Como aquele nosso girassol.

Quantas saudades dos nossos momentos de sarau
Em que declamávamos como dois apaixonados
Eu queria os românticos e você os angustiados,
Esse seu estilo, felicidade minha, sempre foi fatal!

Lembra-se de como chorava ao ouvir Navio Negreiro?
Uma súbita emoção lhe tomava por inteiro
Você queria apontar já o caminho ao pegureiro,
Sentia-se da bússola o próprio ponteiro.

Lembro-me de como eu chorava ao ouvir você cantando
Aquela música que fez só para mim
Que dizia que eu era mais precioso que um jasmim
E que para sempre queria seguir me amando.

Eu sentia uma alegria no coração
Queria pular, queria cantar, queria te abraçar,
Mas não conseguia, o que conseguia era só te olhar
E, pelos turvos olhos, emitir minha vibração.

Agora, está tudo tão tristemente quieto,
Os bancos não sentem mais nenhuma alegria
As avenidas perderam toda a energia
Os caminhantes agora vão incertos.

A lua nunca mais brilhou com fulgor
Ela se esqueceu dos enamorados iluminar
Triste lua, não quer mais acalentar
Aqueles que vivem em estado de torpor.

Confesso-lhe que a mim faz mal essa solidão
Sinto tanta falta da sua vida a me vivificar.
Por quais caminhos estará a andar
Aquela que não quis o caminho do meu coração?

Você não sabe o que é estar sem você à noite!
É como se nada mais me acalmasse
É como se só de você eu lembrasse!
Meu Deus, isso é semelhante a sofrer açoite!

Eu até estaria conformado e buscando outro abrigo
Sim! Eu teria procurado um novo rumo
Dado a minha miserável vida um prumo
Se você não tivesse me chamado de amigo!

Quem disse que eu queria ser seu amigo?
Que loucura era essa agora?
Porra, porque simplesmente não me mandou ir embora?
Para que me condenar a esse castigo?

Essa minha tristeza tem um grande porte
Sinto que durará por muito tempo
Ou talvez somente até o momento
Em que me encontre sorridente com a morte.

Eu descobri que estava acabando
Foi numa tarde dessas de verão.
Foi quando percebi que estava lhe amando

E você, você nunca mais saiu do meu coração.

Wallace Rodolfo

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