quarta-feira, 20 de junho de 2012

A questão indígena, a ocupação de Jarudore e a denúncia da cacique bororo

Texto: Dr. João Batista de Araújo Barbosa (Batistão)
Fotos: Izaias Resplandes

     “Nos últimos dias recrudesceram as denúncias da cacique bororo Maria Aparecida Toro Ekureudo, e passaram a ser destaque na mídia mato-grossense. 

No início do mês de fevereiro recebeu destaque em duas reportagens do jornal Diário de Cuiabá. 



Agora, além da mídia regional, o assunto foi destaque em O Globo. 

Preocupada com o problema, a Assembléia Legislativa de Mato Grosso realizou, no dia 10 de novembro de 2007, uma audiência pública na Escola Estadual Franklin Cassiano, no Distrito de Jarudore, para discutir a questão indígena, a colonização e ocupação desse importante distrito de Poxoréo. 

Essa discussão, o BlogPox vem acompanhando desde o mês de junho passado, em uma tentativa de alertar nossas autoridades constituídas para o enfrentamento e busca de solução para o grave problema, que se arrasta há mais de quarenta anos. 


A área Indígena de Jarudore foi criada por decreto-lei estadual em 1945, com título definitivo expedido em 1951 pelo então Departamento de Terras e Colonização de Cuiabá, além de estar registrada no Cartório de Poxoréo e no Cartório de Patrimônio da União, com 4.706 hectares, na margem direita do rio Vermelho, a 50 quilômetros da sede do município de Poxoréo, que deveria funcionar como ponto de apoio aos bororos das aldeias de Sangradouro/Volta Grande e Merure, quando de suas viagens – geralmente através da navegação - para as aldeias de Teresa Cristina e Perigara, ambas no Pantanal, e vice-versa. 
A distância entre as aldeias do cerrado e as aldeias do Pantanal exigia um ponto intermediário para descanso dos índios navegadores. 
Foi com esse propósito, e atendendo à sugestão do sertanista marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que o governo de Mato Grosso homologou e regularizou a área de Jarudore em 1945. 
Porém, por se tratar de território não habitado-permanentemente pelos bororos, a região foi mansa e pacificamente ocupada por pequenos fazendeiros, sitiantes e trabalhadores sem-terra, a partir da metade da década de 40. 
Posteriormente o Estado referendou a ocupação, com a criação do patrimônio de Jarudore, em 1951 e com a implantação do Distrito de Paz de Jarudore, em 1958. Atualmente, podemos afirmar que Jarudore é uma ocupação mansa e pacífica de terras abandonadas pelos bororos. 
‘Jarudore é uma terra de índios, sem índios’, registra Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, em seu livro ‘Linhas Históricas de Poxoréo: Um olhar sobre o nascimento dos Distritos numa contribuição às escolas e à sociedade’ (Editora Defanti, 2001). 
O distrito de Jarudore possui Cartório de Registro Civil, postos de saúde e telefônico, escolas estadual e municipal, destacamento da Polícia Militar, energia elétrica e água encanada. 
A área é cortada por rodovia estadual e servida com transporte regular de ônibus. 
Uma organização não-governamental mantém um centro de formação profissional juvenil, com apoio de italianos e salesianos. 
O distrito tem cerca de dois mil moradores na zona urbana e chegou a pleitear a sua emancipação política de Poxoréo no final dos anos 90, para a criação do município de Jarudore. 
Declarando-se cacique da etnia Bororo, Maria Aparecida Toro Ekureudo alega representar cerca de 30 famílias, que, após mais de quatro décadas, retornaram à região de Jarudore e ali estão acampadas. 
Procuram alimentar um conflito inexistente. 
A Polícia Federal esteve na aldeia improvisada, juntamente com a Funai, várias vezes e não encontraram situação de conflito na região. 
‘Já mandei policiais em quatro ocasiões diferentes para verificar se tinha um conflito iminente entre brancos e índios e, todas as vezes em que os policiais estiveram lá, me passaram informações de que a situação estava tranqüila’, informa o delegado Cristian Lajes. 
A cacique insiste que os índios são ameaçados pelos fazendeiros, mas não indica quem está ameaçando.
Na verdade, alardeia um conflito violento que não existe. 
Provoca os moradores da região em busca de um conflito para sensibilizar a opinião pública quanto à preservação da sua etnia e conquistar a posse do local abandonado pelos bororos há mais de 40 anos. 
Urge a necessária intervenção estatal para evitar a violência e negociar uma solução que possa atender os interesses dos moradores brancos, pardos, mulatos e índios da região do distrito de Jarudore.” 


JOÃO BATISTA BARBOSA, advogado, Cuiabá/MT. E-mail: poxoreo@uol.com.br
O artigo acima foi publicado no Diário de Cuiabá, ed. n. 12046, de 23/02/2008. O autor é sócio-correspondente da UPE - União Poxorense de Escritores, residindo em Cuiabá - MT.

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