sexta-feira, 20 de abril de 2012

Uma droga chamada “saudade”.



                Que saudade sinto ao lembra-me de algumas passagens da minha vida. Saudades que, tantas vezes, são as de tantas pessoas, de tantas vidas, de tantos corações, de tantos corpos...
                Definir a saudade é semelhante a decorar a Ilíada ou mesmo a Odisséia. Um trabalho homérico é encontrar tal coisa... Saudade talvez seja a presença que se tornou ausência. Talvez seja a lembrança do amor que se foi. Ou ,talvez seja só uma forma de pedir para alguém ficar mais um pouco.
                E porque se pede para alguém ficar mais um pouco? Porque sentir saudade só não é uma coisa tão boa.
                É bom termos alguém para dividir o dia, a noite, a vida. É bom termos alguém para dividir a mesa, o pão, o café. Nossa, uma pessoa para dividirmos o sorriso, a lágrima, a dor, a felicidade é bom demais. Alguém para dividir o silêncio, a música, a voz, o pensamento é necessário. Urge um ser que divida conosco o beijo, o prazer, o extase, a loucura. Agora, sem sombra de dúvida, precisamos de alguém que durma, todos os dias, em conchinha, sussurrando aos nossos ouvidos.
                Mas para ter saudade é preciso ausência. A ausência de algo... E, às vezes, saudade da própria ausência. Não precisar ser lembrado a lembrar. Não precisar ser lembrado a chamar. Não precisar ser lembrado a amar. De qualquer maneira sinto saudades! Talvez do seu lindo sorriso me convidando para amar!
                Saudades de saber como amar. Saudade de não sentir saudades por ter tua presença. E do calor do seu corpo entrelaçado ao meu. Do som da sua respiração lenta no meu ouvido. Ofegante. Saudade de causar isso em você, e do que completava... O chocolate quente ao lado da cama, o filme, usado por pretexto, esquecido ali à frente, suas risadas por constrangimento. Ah, sua timidez! Tão ingênua e pura e, ao mesmo tempo, era a mulher mais forte que já conheci. E, talvez ainda seja. Que saudade da certeza...
                Que saudade daquele perfume que entrava em minh’alma e, violentamente, me tomava de assalto e me fazia voar até você. E, estando com você, bastava a mim contemplá-la e, quando a sedução embriagava a nossa razão, nos amávamos até chegarmos ao céu. Que saudade de olhar-te após o amor. Que saudade de desejar você todos os dias. E agora, aqui estou, desejando poder te desejar.
                As lembranças são as representações da saudade, daquilo que se foi – e que pode voltar, mas jamais com a mesma intensidade e torpor. Entorpecente, era esse o seu efeito. Desejar-te de uma forma tão bela e tão grande que, por poder provar do teu sabor, me entorpecia. E, de tão entorpecido, deixei-te ir.
                Entorpecido ainda estou – e quero ficar. Quem sabe se assim te encontro? Meu corpo clama por você, meu coração loucamente te deseja. Tenho-te gravada em minh’alma. Vem, toma conta do que é teu! Vem, possuir esse ser que te é fiel! Vem, ama-me novamente para que eu, tão puramente, reaprenda essa coisa esquecida: amar. E, para mim, só serve se for com você! E, se não for fisicamente, por memória. Sempre foi você e sempre será. Independente se possível ou não. As memória tornarão possível e, daqui, me consolo com as “Saudades”. Assim, no plural, que diante de você, ainda parece pouco.

Izadora Coelho (Escritora Rondonopolitana) e Wallace Rodolfo (Escritor Poxorense)

2 comentários:

  1. [E, se não for fisicamente, por memória]. Melhor que abrasar será casar, pois só faltou a declaração de explícita masturbação...
    Prof. Luis Carlos Ferreira

    ResponderExcluir
  2. É, realmente pode ser que tenha faltado. Mas a masturbação não é a única leitura possível desse trecho. Entretanto, gostei bastante de saber que essa foi uma possível leitura... como a língua é rica!

    ResponderExcluir