segunda-feira, 20 de maio de 2019

Educação básica universal e universitária seletiva


Educação básica universal e universitária seletiva

Izaias Resplandes de Sousa

A Educação deve ser um direito de todos, porquanto ela é o instrumento de desenvolvimento das potencialidades humanas e de aquisição das experiências vividas e acumuladas pela humanidade. No entanto, essa universalidade deve-se dar apenas nos níveis da educação básica fundamental, média e técnico profissionalizante, sendo que, nestes níveis, as abordagens devem ser de natureza extremamente práticas, visando uma melhoria básica nas condições sociais de vida. A educação superior deverá ser reservada para as mentes mais brilhantes, nas quais devem ser avultados os investimentos, posto que somente elas poderão contribuir para a solução dos graves problemas vividos pela humanidade.

As avaliações educacionais têm demonstrado que os estudantes que concluem os níveis de educação básica não dominam sequer os conhecimentos rudimentares das ciências. Muitos terminam ainda analfabetos, mantendo resultados finais semelhantes aos iniciais, mesmo com o suporte público em alimentação, saúde, livros e tecnologias. Poucos ampliam o rol de conhecimentos para a transformação da qualidade de vida da humanidade. A educação do campo, mesmo com uma proposta voltada para o campo, não consegue segurar na zona rural a clientela atendida para melhorar a qualidade de vida do setor. E a educação urbana nas cidades também não consegue atender às necessidades das cidades onde se realiza. O que se vê, de um lado, é um êxodo dos alunos do campo, que, após atendidos, sentem-se aptos a abandonarem a vida rural de seus pais para intensificar o rol de desempregados das cidades; e, de outro lado, um êxodo dos alunos atendidos em uma cidade, migrando para outras cidades em busca de oportunidades. Em suma, o que se verifica é que há pouco interesse por essa clientela, tanto no campo, quanto nas cidades, porque, verdadeiramente falando, a mesma não se encontra preparada para atender à demanda de mão obra qualificada, nem no campo e muito menos nas cidades.

Os egressos da educação básica geral ou profissionalizante são preparados para viverem com mais qualidade de vida, fundamentados nos conhecimentos rudimentares das ciências. No entanto, em nenhuma das avaliações que todos os anos têm sido divulgadas, encontramos fundamentos para entender que essa clientela possa ir além dessa performance. E isso já é bastante louvável quando acontece. A verdade é que toda proposta, seja em que área for, que pretenda alcançar a todos, dificilmente consegue alguma coisa. A experiência mostra que aquele que quer tudo, acaba não conseguindo nada.

A Universidade deve ser reservada para as mentes mais brilhantes de nossa sociedade. O ingresso na Academia deve ser feito com muito critério e rigor, para assegurar que os recursos aplicados nesse nível educacional possa, efetivamente, assegurar os resultados desejados de resolver os grandes desafios da humanidade. A universidade pública deve ser reservada para os indivíduos mais dotados, não importando se sejam pobres ou ricos, mas apenas, que sejam de alto nível intelectual. É notório que a sociedade depende dessas pessoas para avançar na solução dos problemas insolúveis cada vez em maiores quantidades, como também é notório que não temos conseguido melhorar o desempenho social com essa política de universidade pública aberta para todos.

A política de Escola para todos, em todos os níveis e que levou a universidade à abertura de suas portas e à abolição dos critérios de seletividade das melhores cabeças tem levado o Brasil a um estranho paradoxo caracterizado pelo aumento do atendimento e do investimento, por um lado e, por outro lado, a uma diminuição cada vez maior nos índices de apreensão dos saberes trabalhados. É dito que nunca a humanidade teve tanto conhecimento à sua disposição, mas, proporcionalmente, nunca esta soube tão pouco.
O escancaramento das universidades públicas afetou significativamente a qualidade do trabalho acadêmico. Os formandos que concluem cursos superiores não estão saindo com aptidão para a produção de novos saberes, tecnologias e soluções. Por conseguinte, não se dedicam à pesquisa e ao aprofundamento nas áreas com problemas insolúveis. É utópico pensar que teremos uma sociedade de cientistas de verdade. A única coisa que a abertura universitária proporcionou foi uma enxurrada de diplomados nas mais diversas áreas do saber, os quais, ou nada sabem, ou pouco sabem mais que nada.

Seguindo essa linha, defendemos, com toda a nossa ignorância, uma escola pública básica para todos e uma universidade pública voltada apenas para o atendimento das mentes mais iluminadas, com rigorosos critérios de seleção; que essa universidade pública tenha recursos humanos e materiais para atender essa clientela seleta objetivando alcançar resultados positivos e reais e não resultados apenas aparentes e fictícios. Mas, também defendemos que a universidade particular possa atender, livremente, a todos os interessados que lhe acudirem, desde que sem qualquer forma de incentivo e patrocínio público.

Concluo cedendo minhas mãos à palmatória da crítica, mas mantendo minha lucidez diante de nossa realidade com necessidades cada vez maiores e sem meios capazes de resolvê-las. E entendendo ainda que, diante dessa ilimitada demanda por soluções, os nossos escassos recursos precisam ser mais bem administrados e canalizados para a prioridade em atendê-las. Todos temos direito à felicidade, mas os meios para sua efetivação sempre esteve nas mãos de poucos.
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Izaias Resplandes de Sousa: Pedagogo (UFMT), Licenciado em Matemática (UFMT), bacharel em Direito (UNICEM – Primavera do Leste, MT), especialista em Gerência de Cidades (FAAP/SP) e em Matemática e Estatística (UFLA/MG). Professor aposentado da rede pública estadual de Mato Grosso.

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