Educação
básica universal e universitária seletiva
Izaias Resplandes de Sousa
Izaias Resplandes de Sousa
A Educação deve ser um direito de todos, porquanto ela é o
instrumento de desenvolvimento das potencialidades humanas e de
aquisição das experiências vividas e acumuladas pela humanidade.
No entanto, essa universalidade deve-se dar apenas nos níveis da
educação básica fundamental, média e técnico profissionalizante,
sendo que, nestes níveis, as abordagens devem ser de natureza
extremamente práticas, visando uma melhoria básica nas condições
sociais de vida. A educação superior deverá ser reservada para as
mentes mais brilhantes, nas quais devem ser avultados os
investimentos, posto que somente elas poderão contribuir para a
solução dos graves problemas vividos pela humanidade.
As avaliações educacionais têm demonstrado que os estudantes que
concluem os níveis de educação básica não dominam sequer os
conhecimentos rudimentares das ciências. Muitos terminam ainda
analfabetos, mantendo resultados finais semelhantes aos iniciais,
mesmo com o suporte público em alimentação, saúde, livros e
tecnologias. Poucos ampliam o rol de conhecimentos para a
transformação da qualidade de vida da humanidade. A educação do
campo, mesmo com uma proposta voltada para o campo, não consegue
segurar na zona rural a clientela atendida para melhorar a qualidade
de vida do setor. E a educação urbana nas cidades também não
consegue atender às necessidades das cidades onde se realiza. O que
se vê, de um lado, é um êxodo dos alunos do campo, que, após
atendidos, sentem-se aptos a abandonarem a vida rural de seus pais
para intensificar o rol de desempregados das cidades; e, de outro
lado, um êxodo dos alunos atendidos em uma cidade, migrando para
outras cidades em busca de oportunidades. Em suma, o que se verifica
é que há pouco interesse por essa clientela, tanto no campo, quanto
nas cidades, porque, verdadeiramente falando, a mesma não se
encontra preparada para atender à demanda de mão obra qualificada,
nem no campo e muito menos nas cidades.
Os egressos da educação básica geral ou profissionalizante são
preparados para viverem com mais qualidade de vida, fundamentados nos
conhecimentos rudimentares das ciências. No entanto, em nenhuma das
avaliações que todos os anos têm sido divulgadas, encontramos
fundamentos para entender que essa clientela possa ir além dessa
performance. E isso já é bastante louvável quando acontece. A
verdade é que toda proposta, seja em que área for, que pretenda
alcançar a todos, dificilmente consegue alguma coisa. A experiência
mostra que aquele que quer tudo, acaba não conseguindo nada.
A Universidade deve ser reservada para as mentes mais brilhantes de
nossa sociedade. O ingresso na Academia deve ser feito com muito
critério e rigor, para assegurar que os recursos aplicados nesse
nível educacional possa, efetivamente, assegurar os resultados
desejados de resolver os grandes desafios da humanidade. A
universidade pública deve ser reservada para os indivíduos mais
dotados, não importando se sejam pobres ou ricos, mas apenas, que
sejam de alto nível intelectual. É notório que a sociedade depende
dessas pessoas para avançar na solução dos problemas insolúveis
cada vez em maiores quantidades, como também é notório que não
temos conseguido melhorar o desempenho social com essa política de
universidade pública aberta para todos.
A política de Escola para todos, em todos os níveis e que levou a
universidade à abertura de suas portas e à abolição dos critérios
de seletividade das melhores cabeças tem levado o Brasil a um
estranho paradoxo caracterizado pelo aumento do atendimento e do
investimento, por um lado e, por outro lado, a uma diminuição cada
vez maior nos índices de apreensão dos saberes trabalhados. É dito
que nunca a humanidade teve tanto conhecimento à sua disposição,
mas, proporcionalmente, nunca esta soube tão pouco.
O escancaramento das universidades públicas afetou
significativamente a qualidade do trabalho acadêmico. Os formandos
que concluem cursos superiores não estão saindo com aptidão para a
produção de novos saberes, tecnologias e soluções. Por
conseguinte, não se dedicam à pesquisa e ao aprofundamento nas
áreas com problemas insolúveis. É utópico pensar que teremos uma
sociedade de cientistas de verdade. A única coisa que a abertura
universitária proporcionou foi uma enxurrada de diplomados nas mais
diversas áreas do saber, os quais, ou nada sabem, ou pouco sabem
mais que nada.
Seguindo essa linha, defendemos, com toda a nossa ignorância, uma
escola pública básica para todos e uma universidade pública
voltada apenas para o atendimento das mentes mais iluminadas, com
rigorosos critérios de seleção; que essa universidade pública
tenha recursos humanos e materiais para atender essa clientela seleta
objetivando alcançar resultados positivos e reais e não resultados
apenas aparentes e fictícios. Mas, também defendemos que a
universidade particular possa atender, livremente, a todos os
interessados que lhe acudirem, desde que sem qualquer forma de
incentivo e patrocínio público.
Concluo cedendo minhas mãos à palmatória da crítica, mas mantendo
minha lucidez diante de nossa realidade com necessidades cada vez
maiores e sem meios capazes de resolvê-las. E entendendo ainda que,
diante dessa ilimitada demanda por soluções, os nossos escassos
recursos precisam ser mais bem administrados e canalizados para a
prioridade em atendê-las. Todos temos direito à felicidade, mas os
meios para sua efetivação sempre esteve nas mãos de poucos.
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Izaias
Resplandes de Sousa: Pedagogo (UFMT), Licenciado em Matemática
(UFMT), bacharel em Direito (UNICEM – Primavera do Leste, MT),
especialista em Gerência de Cidades (FAAP/SP) e em Matemática e
Estatística (UFLA/MG). Professor aposentado da rede pública
estadual de Mato Grosso.
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