domingo, 8 de abril de 2018

ANIVERSÁRIOS DE GIGANTES


ANIVERSÁRIOS DE GIGANTES
                                                
Gaudêncio Amorim

                        Apesar das avaliações negativas de muitos críticos de nossos tempos, eu diria que estamos vivendo em tempos de gigantes. É certo que um dia eles tombarão, mas os seus feitos serão eternos, da mesma forma que é certo constatar que, o que importa mesmo, não é quem foram eles, mas o legado que deixaram, pois assim caminha a humanidade, de sorte que não seremos lembrados pelo glamour das nossas vaidades nem pelo nosso castelo de prosperidades materiais, embora também seja verdade que muitos exércitos defendam o contrário, reconhecemos.
                        A afirmação do empresário Itamar Vilela (Genro do saudoso “Tonico Ribeiro” – da Fazenda Três Balisas) – de que “o IHG está dando de si o que de mais precioso existe nos últimos tempos: o tempo” é passível de uma incisão no curso de nossa história, haja vista a fertilidade dos tempos por oportuno dos 30 anos da UPE; 03 do IHG e 80 anos de vida administrativa do município. De fato, você já percebeu que quase ninguém tem tempo para alguém? Quiçá, o Dr. Itamar tenha mesmo razão, afinal, quando dele ouvi a afirmação, na companhia do confrade Antônio Nival, quando buscávamos arrecadação de gado para um leilão beneficente do IHG, mudei o foco do meu olhar para os gigantes do meu tempo.
                        Quando voltei daquela região do Corguinho, firmei uma “luta corporal” com os meus pensamentos sobre como aquele homem que não conhecia tanto do nosso dia a dia podia saber do tempo que dedicamos graciosamente à sociedade e quanto tempo vimos dedicando a este tempo. Parecia que aquele homem sabia mais de nós do que nós mesmos. Mas depois entendi que o bem é contagioso. Por mais que experimentemos pouco a sua concretude, há uma corrente invisível pulsando nos tecidos sociais e, todos, à sua maneira de percepção, corroboram nossos feitos, implícito ou explicitamente, direto ou indiretamente. Na verdade, contra os fatos não há argumentos. Qualquer invenção contrária se dissiparia em simulacros.
                       


A União Poxorense de Escritores – UPE, fundada em 31 de março de 1988, era apenas um protótipo de agremiação com a lânguida pretensão de se consolidar numa bandeira de luta, “em defesa da arte e da cultura”, sem saber quão alto voaria, que valor a história lhe daria e se duraria o tempo que durou e ainda se mantêm viva. Ela não só surpreendeu a si mesma, como finca desafios para que hajam outras a imitá-la com igual e tempo de existência e com tantos generais no campo de batalha. Quando o prof. Izaias Resplandes reuniu os primeiros “timoneiros da literatura” àquela viagem, há 30 anos atrás, mais do que a agremiação dos talentos literários da época, ele o fazia com todos um pacto com aquilo que já se consubstanciava em raridade, mercadoria de alto custo e pouco acessível aos trabalhadores: a doação de tempo. Quem quisesse pertencer a UPE haveria de dispor de tempo. Talvez, por isso, poucos tem se prestados ao sentimento de pertencimento à entidade. E cada um, à sua maneira, passou a contabilizar o seu tempo e, certamente, fosse uma poupança retornável no decurso, todos teriam para si uma próspera vida material. Este tempo foi investido nas pessoas, principalmente na juventude dos últimos 30 anos. Ele muitos haverão de citar este legado no futuro.
Passei, taciturno e me esgueirando pelas veredas do tempo, para apreciar a riqueza do tempo dispensado à causa upenina: O prof. Izaias com a sua máquina intelectual de produzir artigos; de levantar bandeiras; de criar e transformar tantas matérias brutas em pedras raras, consumidas vorazmente por muitos que não possuem tempo, apenas o tempo para saciar suas necessidades imediatas; o prof. João de Souzacom suas pesquisas, suas palestras, sua voz e um baú de criações e produções, embaladas e, caprichosamente, postas à disposição de quem, sem tempo, se presta à avidez do consumo; a professora Josélia Neves, com tempo para o seu português castiço, para a rima rara, a poesia que exulta o poema e com todo tempo possível, adorna as páginas silenciosas da literatura local, posta ao infortúnio apressado do consumo repentino; O Kautuzum Araújo, pulsando o tempo na artéria, foi generoso para compartilhar com o mundo os lampejos da sua humilde poesia, mas rica simplicidade; O Joaquim Moreira que, de tanto tempo, poderia ”calar” Bilac, seja na qualidade ou na quantidade dos seus sonetos decassílabos, mesmo depois de calado pela sua existência física; A Delza Zambonini, tão intensa, quanto seus versos, cujo tempo farto, só encurtado pela precoce existência; O Aquilino Silva, cujo tempo para escrever  foi imensamente maior do que as aflições que ceifaram sua própria vida; O Genivá Bezerra, a testemunhar tanto tempo nas laudas capitais de sua produção, comumente visitada, num “esforço de tempo” que a circunstância exige; O Edinaldo Pereira, em voo livre, rompendo trilhas da soleira do tempo para acondicionar seu legado, às vezes ecoado nas vozes juvenis, “investindo tempo” para digerir suas raras poesias em recitais; O Wallace Rodolfo, graciosamente, a produzir para quem, cujo tempo não o impele viver aprisionado pelo seu alto valor; Ao Jurandir Xavier, que não etiquetou o valor do seu tempo para escrever, resgatar e preservar as memórias de uma sociedade sem tempo, embora, algumas vezes, se preste com tempo para, paradoxalmente, destruí-las; O Dr. Joaquim Nunes Rocha que não poupou tempo para sanear os percalços que afligiram sua gente; O Dr. João Batista que “das exordiais às considerações finais” não deixou lacunas nem vazios que se aproximasse de pelo menos um verso arredio; O Luis Carlos Ferreira, cujo tempo fê-lo brotar das entranhas da sua fertilidade, um estilo único, a ser admirado e consumido por legiões de gente sem tempo.


                        Em 30 anos estes intelectuais, jamais ousaram colocar em xeque o tempo, como o vilão, mas como oportunidade de doação, já que, verdadeiramente doais, quando são capazes de doar de vós mesmos e não de vossas posses, como dantes afirmara um pensador. Então, o mérito destes imortais pensadores, não foi somente a bandeira filosófica e não a mais nobre de suas missões, mas suas abnegadas doações de tempo.
                        Da mesma forma o Instituto Histórico e Geográfico, uma criança promissora, embalde o embrião que lateja a vida em abundância em tão poucos anos de existência. E assim não seria assim, se no comportamento do tecido humano que o constitui não houvesse ricas milhas de tempo materializadas no feixe das ações que tributam dos resultados dos seus valentes soldados. Porque assim não seria, se a professora “Mundica”, do alto de sua vivência quase octogenária não se predispusesse a constituir num quase “oráculo” da história local para o deleite da tenra juventude e sem a vaidade de ser “sacudida” como arvore da sabedoria, iluminando veredas que a  ignorância poderia enterrar nos destroços da “história sem memória”; Porque assim não seria, se professor João de Souza, reduzisse sua aposentadoria ao deleite privado dos seus sonhos, sem a genialidade de compartilhar projetos e ações a tantos quantos puderem beber da sua sabedoria; Porque assim não seria, se a professora “Deja”, professora de história, ficasse imune ao seu tempo sem se tornar sujeito de sua própria história, incorrendo no seu próprio abismo de contradições, como muitos o fazem. Se o Dr. Alan, Engº. Agrônomo, desejasse viver no limite dos seus conhecimentos técnicos compartilhados apenas com aqueles que pudesse debitar seus custos, sem quaisquer projeções maiores para a riqueza do seu tempo para as pessoas do seu tempo; Se o Dr. Marcelo Vilela, além do bem sucedido profissional que é não pudesse concretizar seus méritos na riqueza do material que possui capaz de se constituir em personalidade notória. Se o Adolfo Catalá, absorto no ofício de empreender grandes negócios, não pudesse compartilhar os frutos do seu sucesso no ânimo dos seus semelhantes e não mantivesse suas mãos estendidas para levantar os que jazem caídos ou sem forças, à sua volta; Se a professora Leda Figueiredo, dos altos tonéis de sua experiência, depois do dever profissional cumprido, não pudesse manter-se rica e à disposição desta geração, com suas intervenções de alto quilate, podendo o eco de sua voz propagar-se nos ouvidos que tanto desejara continuar ouvindo ; Se o Marcos Cezar, a seu jeito e à sua maneira, não se prestasse ao tempo do colecionador solitário e silencioso de artefatos e de memórias dos tempos de antanho;  da  Sandra Sol, com o seu tempo de criar, de acolher, de somar, de grandeza pessoal, de paciência farta, não pudesse ocupar o tempo para ensinar estas virtudes; A Sandra Nery, cuja generosidade, fizera ninho na sua consciência, com a leveza de compartilhar exemplos, na serena luta diante das tempestades ameaçadoras do seu próprio destino; O Agnaldo Luz, com o seu tempo, com tempo para socializar nossos feitos na Web, podendo os visionários da virtualidade conhecer a todos nós com um simples “click”; A Maria Luiza, que “misturada” entre os hangares do poder local, coleciona tempo para desfraldar a nossa nobre bandeira, inobstante as resistências ocultas que nos deseja silenciar; O Jailton, de vida agitada e passos apressados que conseguiu abrir “brechas” no tempo para emoldurar verdadeiros acervos fotográficos, caprichosamente cedidos a tantos entusiastas sem tempo. O Antônio Nival que, com a força de uma general irrompe no tempo em gestos e atitudes de abundantes doações pelo simples prazer de se sentir útil e continuar produzindo riquezas ao alcance de quem desejar compartilhá-las; A Lúcia Voltan, com tempo para o sacerdócio da vida em abundância, fazendo do seu colo, gigantescos tentáculos para aninhar as crianças e adornar os jovens, sob a inspiração de Dom Bosco e sem tempo para se curvar diante das dificuldades, mas com o desejo fortuito para aquecer corações nas mãos que se movimentam a filantropia; A Elvira, com tempo sem vaidade de turnos, quando se tem que fazer grandes ou pequenas ações, com suas mãos prósperas de movimentos; O Izaias Resplandes que, na sua estreita agenda, transforma o próprio tempo em paisagens nas lentes de suas milhares fotos; A Nelice que cada vez mais de alinha ao desejo que vem do coração, dando sentido e alentos aos subjugados e traídos pelas armadilhas da consciência; A Eva Mendes, apaziguando as inquietudes que cabem no tempo, com o anseio estreito de conquistas e de uma maturidade alcançada por toda equipe. Tempo de uma guerreira voraz, vigorosa e comprometida. Eu contemplo tudo isso, soldado de ambas as agremiações, como se fossem pinturas das mais raras paisagens não dissecadas pelo tempo; vivas em qualquer tempo na pinacoteca imprescritível de nossas memórias.


                        Realmente, entre os guerreiros da UPE e do IHG, o tempo que tem dedicado à causa institucional, longe do egoísmo e do individualismo que assolam nossa geração,  os colocam na condição de seres humanos incomuns, bem maiores do que supostamente pensam que são.


Certamente, as gerações do presente hão de proclamar seus feitos e suas memórias dizendo que viveram em tempo de gigantes: no tempo da UPE e do IHG.
                        
Vida longa aos gigantes!


Nenhum comentário:

Postar um comentário