ANIVERSÁRIOS DE GIGANTES
Gaudêncio
Amorim
Apesar
das avaliações negativas de muitos críticos de nossos tempos, eu diria que
estamos vivendo em tempos de gigantes. É certo que um dia eles tombarão, mas os
seus feitos serão eternos, da mesma forma que é certo constatar que, o que
importa mesmo, não é quem foram eles, mas o legado que deixaram, pois assim
caminha a humanidade, de sorte que não seremos lembrados pelo glamour das
nossas vaidades nem pelo nosso castelo de prosperidades materiais, embora
também seja verdade que muitos exércitos defendam o contrário, reconhecemos.
A
afirmação do empresário Itamar Vilela (Genro do saudoso “Tonico Ribeiro” – da
Fazenda Três Balisas) – de que “o IHG está dando de si o que de mais
precioso existe nos últimos tempos: o tempo” é passível de uma incisão
no curso de nossa história, haja vista a fertilidade dos tempos por oportuno
dos 30 anos da UPE; 03 do IHG e 80 anos de vida administrativa do
município. De fato, você já percebeu que quase ninguém tem tempo para
alguém? Quiçá, o Dr. Itamar tenha mesmo razão, afinal, quando dele ouvi a
afirmação, na companhia do confrade Antônio Nival, quando buscávamos
arrecadação de gado para um leilão beneficente do IHG, mudei o foco do meu
olhar para os gigantes do meu tempo.
Quando
voltei daquela região do Corguinho, firmei uma “luta corporal” com os meus
pensamentos sobre como aquele homem que não conhecia tanto do nosso dia a dia
podia saber do tempo que dedicamos graciosamente à sociedade e quanto tempo
vimos dedicando a este tempo. Parecia que aquele homem sabia mais de nós do que
nós mesmos. Mas depois entendi que o bem é contagioso. Por mais que
experimentemos pouco a sua concretude, há uma corrente invisível pulsando nos
tecidos sociais e, todos, à sua maneira de percepção, corroboram nossos feitos,
implícito ou explicitamente, direto ou indiretamente. Na verdade, contra os
fatos não há argumentos. Qualquer invenção contrária se dissiparia em
simulacros.
A União Poxorense de Escritores – UPE, fundada em 31 de março de 1988, era apenas um protótipo de agremiação com a lânguida pretensão de se consolidar numa bandeira de luta, “em defesa da arte e da cultura”, sem saber quão alto voaria, que valor a história lhe daria e se duraria o tempo que durou e ainda se mantêm viva. Ela não só surpreendeu a si mesma, como finca desafios para que hajam outras a imitá-la com igual e tempo de existência e com tantos generais no campo de batalha. Quando o prof. Izaias Resplandes reuniu os primeiros “timoneiros da literatura” àquela viagem, há 30 anos atrás, mais do que a agremiação dos talentos literários da época, ele o fazia com todos um pacto com aquilo que já se consubstanciava em raridade, mercadoria de alto custo e pouco acessível aos trabalhadores: a doação de tempo. Quem quisesse pertencer a UPE haveria de dispor de tempo. Talvez, por isso, poucos tem se prestados ao sentimento de pertencimento à entidade. E cada um, à sua maneira, passou a contabilizar o seu tempo e, certamente, fosse uma poupança retornável no decurso, todos teriam para si uma próspera vida material. Este tempo foi investido nas pessoas, principalmente na juventude dos últimos 30 anos. Ele muitos haverão de citar este legado no futuro.
Passei,
taciturno e me esgueirando pelas veredas do tempo, para apreciar a riqueza do
tempo dispensado à causa upenina: O prof. Izaias com a sua
máquina intelectual de produzir artigos; de levantar bandeiras; de criar e
transformar tantas matérias brutas em pedras raras, consumidas vorazmente por
muitos que não possuem tempo, apenas o tempo para saciar suas necessidades
imediatas; o prof. João de Souzacom suas pesquisas, suas palestras,
sua voz e um baú de criações e produções, embaladas e, caprichosamente, postas
à disposição de quem, sem tempo, se presta à avidez do consumo; a
professora Josélia Neves, com tempo para o seu português castiço,
para a rima rara, a poesia que exulta o poema e com todo tempo possível, adorna
as páginas silenciosas da literatura local, posta ao infortúnio apressado do
consumo repentino; O Kautuzum Araújo, pulsando o tempo na
artéria, foi generoso para compartilhar com o mundo os lampejos da sua humilde
poesia, mas rica simplicidade; O Joaquim Moreira que, de tanto
tempo, poderia ”calar” Bilac, seja na qualidade ou na quantidade dos seus
sonetos decassílabos, mesmo depois de calado pela sua existência física;
A Delza Zambonini, tão intensa, quanto seus versos, cujo tempo
farto, só encurtado pela precoce existência; O Aquilino Silva, cujo tempo para
escrever foi imensamente maior do que as aflições que ceifaram sua
própria vida; O Genivá Bezerra, a testemunhar tanto tempo nas
laudas capitais de sua produção, comumente visitada, num “esforço de tempo” que
a circunstância exige; O Edinaldo Pereira, em voo livre, rompendo
trilhas da soleira do tempo para acondicionar seu legado, às vezes ecoado nas
vozes juvenis, “investindo tempo” para digerir suas raras poesias em recitais;
O Wallace Rodolfo, graciosamente, a produzir para quem, cujo tempo
não o impele viver aprisionado pelo seu alto valor; Ao Jurandir Xavier,
que não etiquetou o valor do seu tempo para escrever, resgatar e preservar as
memórias de uma sociedade sem tempo, embora, algumas vezes, se preste com tempo
para, paradoxalmente, destruí-las; O Dr. Joaquim Nunes Rocha que
não poupou tempo para sanear os percalços que afligiram sua gente; O Dr.
João Batista que “das exordiais às considerações finais” não deixou
lacunas nem vazios que se aproximasse de pelo menos um verso arredio; O Luis
Carlos Ferreira, cujo tempo fê-lo brotar das entranhas da sua
fertilidade, um estilo único, a ser admirado e consumido por legiões de gente
sem tempo.
Em
30 anos estes intelectuais, jamais ousaram colocar em xeque o tempo, como o
vilão, mas como oportunidade de doação, já que, verdadeiramente doais, quando
são capazes de doar de vós mesmos e não de vossas posses, como dantes afirmara
um pensador. Então, o mérito destes imortais pensadores, não foi somente a
bandeira filosófica e não a mais nobre de suas missões, mas suas abnegadas
doações de tempo.
Da
mesma forma o Instituto Histórico e Geográfico, uma criança promissora, embalde
o embrião que lateja a vida em abundância em tão poucos anos de existência. E
assim não seria assim, se no comportamento do tecido humano que o constitui não
houvesse ricas milhas de tempo materializadas no feixe das ações que tributam
dos resultados dos seus valentes soldados. Porque assim não seria, se a
professora “Mundica”, do alto de sua vivência quase octogenária não se
predispusesse a constituir num quase “oráculo” da história local para o deleite
da tenra juventude e sem a vaidade de ser “sacudida” como arvore da sabedoria,
iluminando veredas que a vã ignorância poderia enterrar nos destroços da
“história sem memória”; Porque assim não seria, se professor João de
Souza, reduzisse sua aposentadoria ao deleite privado dos seus sonhos, sem
a genialidade de compartilhar projetos e ações a tantos quantos puderem beber
da sua sabedoria; Porque assim não seria, se a professora “Deja”,
professora de história, ficasse imune ao seu tempo sem se tornar sujeito de sua
própria história, incorrendo no seu próprio abismo de contradições, como muitos
o fazem. Se o Dr. Alan, Engº. Agrônomo, desejasse viver no
limite dos seus conhecimentos técnicos compartilhados apenas com aqueles que
pudesse debitar seus custos, sem quaisquer projeções maiores para a riqueza do
seu tempo para as pessoas do seu tempo; Se o Dr. Marcelo Vilela,
além do bem sucedido profissional que é não pudesse concretizar seus méritos na
riqueza do material que possui capaz de se constituir em personalidade notória.
Se o Adolfo Catalá, absorto no ofício de empreender grandes
negócios, não pudesse compartilhar os frutos do seu sucesso no ânimo dos seus
semelhantes e não mantivesse suas mãos estendidas para levantar os que jazem
caídos ou sem forças, à sua volta; Se a professora Leda Figueiredo,
dos altos tonéis de sua experiência, depois do dever profissional cumprido, não
pudesse manter-se rica e à disposição desta geração, com suas intervenções de
alto quilate, podendo o eco de sua voz propagar-se nos ouvidos que tanto
desejara continuar ouvindo ; Se o Marcos Cezar, a seu jeito e à sua
maneira, não se prestasse ao tempo do colecionador solitário e silencioso de
artefatos e de memórias dos tempos de antanho; da Sandra
Sol, com o seu tempo de criar, de acolher, de somar, de grandeza pessoal,
de paciência farta, não pudesse ocupar o tempo para ensinar estas
virtudes; A Sandra Nery, cuja generosidade, fizera ninho na sua
consciência, com a leveza de compartilhar exemplos, na serena luta diante das
tempestades ameaçadoras do seu próprio destino; O Agnaldo Luz, com
o seu tempo, com tempo para socializar nossos feitos na Web, podendo os
visionários da virtualidade conhecer a todos nós com um simples “click”; A
Maria Luiza, que “misturada” entre os hangares do poder local, coleciona
tempo para desfraldar a nossa nobre bandeira, inobstante as resistências
ocultas que nos deseja silenciar; O Jailton, de vida agitada e
passos apressados que conseguiu abrir “brechas” no tempo para emoldurar
verdadeiros acervos fotográficos, caprichosamente cedidos a tantos entusiastas
sem tempo. O Antônio Nival que, com a força de uma general
irrompe no tempo em gestos e atitudes de abundantes doações pelo simples prazer
de se sentir útil e continuar produzindo riquezas ao alcance de quem desejar
compartilhá-las; A Lúcia Voltan, com tempo para o sacerdócio
da vida em abundância, fazendo do seu colo, gigantescos tentáculos para aninhar
as crianças e adornar os jovens, sob a inspiração de Dom Bosco e sem tempo para
se curvar diante das dificuldades, mas com o desejo fortuito para aquecer
corações nas mãos que se movimentam a filantropia; A Elvira, com
tempo sem vaidade de turnos, quando se tem que fazer grandes ou pequenas ações,
com suas mãos prósperas de movimentos; O Izaias Resplandes que,
na sua estreita agenda, transforma o próprio tempo em paisagens nas lentes de
suas milhares fotos; A Nelice que cada vez mais de alinha ao
desejo que vem do coração, dando sentido e alentos aos subjugados e traídos
pelas armadilhas da consciência; A Eva Mendes, apaziguando as
inquietudes que cabem no tempo, com o anseio estreito de conquistas e de uma
maturidade alcançada por toda equipe. Tempo de uma guerreira voraz, vigorosa e
comprometida. Eu contemplo tudo isso, soldado de ambas as agremiações, como se
fossem pinturas das mais raras paisagens não dissecadas pelo tempo; vivas em
qualquer tempo na pinacoteca imprescritível de nossas memórias.
Realmente,
entre os guerreiros da UPE e do IHG, o tempo que tem dedicado à causa
institucional, longe do egoísmo e do individualismo que assolam nossa
geração, os colocam na condição de seres humanos incomuns, bem
maiores do que supostamente pensam que são.
Certamente, as
gerações do presente hão de proclamar seus feitos e suas memórias dizendo que
viveram em tempo de gigantes: no tempo da UPE e do IHG.
Vida
longa aos gigantes!
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