quinta-feira, 31 de março de 2011

O Vigésimo Quarto Ano Upenino


Quem diria! Quem diria que daquela reunião singela realizada no dia 31 de março de 1988 na Casa da Cultura de Poxoréu pudesse sair alguma decisão duradoura! Poucos acreditariam. Isso não passará da criação de mais uma Organização Não Governamental para conseguir dinheiro público – alguns diriam. Fogo de palha! É mais alguém querendo aparecer – diriam outros. E poderia ter sido assim. Quantas não foram as instituições criadas neste Município e que desapareceram sem deixar qualquer pegada pelo chão de Poxoréu! A tal UPE – União Poxorense de Escritores poderia seguir a mesma trilha. Mas não seguiu. E por que será que não seguiu? Sempre que faço essa pergunta insisto em dizer que a UPE tem resistido ao tempo porque ela tem como objetivos principais defender e disseminar as idéias e os valores artísticos e culturais do povo poxoreano.

Segundo Platão, somente aquilo que existe no mundo das idéias é perfeito e, portanto subsiste. As demais coisas que possam existir nos outros mundos não passariam de cópias imperfeitas das idéias perfeitas e, portanto, estariam fadadas a desaparecer. Se tivéssemos pensado em fundar um Museu, uma Biblioteca, uma Banda de Música ou qualquer outra coisa desse gênero, provavelmente nossa criação já teria morrido como aconteceu com a Casa de Cultura de Poxoréu – que deveria promover a cultura neste Município e que acabou; a Casa da Música, fundada por nosso eterno confrade Joaquim Nunes Rocha, o “Rochinha” e que também desapareceu; a Banda de Música que tocou no primeiro evento promovido pela UPE na Praça da Liberdade no dia 13 de maio de 1988 e que deixou de existir...

Ah, meus irmãos! Nem gosto de ficar lembrando dessas coisas que não temos mais; que tivemos e perdemos porque não fomos suficientemente capazes para manter. Essas lembranças me deixam muito triste. Então eu prefiro lembrar da UPE que veio e permaneceu. Prefiro lembrar dos nossos irmãos upeninos Manoel Fraga Filho, Aquilino Sousa Silva, Delza Fernandes Zambonini, Joaquim Nunes Rocha, Gilbert Araújo Lemos, Joaquim Moreira e Jurandir da Cruz Xavier que aqui estiveram e aqui ainda continuam conosco cantando e decantando as raízes e os sentimentos desta terra poxoreana, apesar de também estarem fazendo os seus discursos na Assembléia Geral da Upe Celestial.

Costumo dizer que uma pessoa está morta quando ela se torna inútil para os seres vivos; quando não tem mais nada para acrescentar; quando já deu o que tinha de dar; quando sai da condição de produtor de bens para um mero consumidor dos bens já produzidos. Desse modo, ainda que o inútil esteja respirando, se for apenas um problema, uma pedra de tropeço, uma dificuldade para os demais, um fardo pesado para os outros ou uma parasita social, então tal pessoa com certeza já morreu. Falta apenas desocupar o espaço. Aquele que ocupa um lugar da Terra tem o dever social de pelo menos inspirar os sentimentos bons ou maus de seus pares. É assim que muitos morrem, mas não morrem porque são eternos motivos para decantar as saudades, enquanto outros, ainda que "vivos", há muito tempo já estão mortos.

O Upenino não morre. A sua alma é uma idéia perfeita e as idéias perfeitas são eternas. Como a nossa própria UPE, nós upeninos também somos andarilhos a peregrinar de um lugar para outro, de uma experiência para outra, de um verso para outro. Andamos de verso em verso e de prosa em prosa. Versejamos e proseamos o sentimento da natureza que se encarna em todos os seres e criaturas. Qualquer tema é motivo para um verso e uma prosa. Eis porque somos eternos, posto que sempre haverá uma palavra escrita, falada ou pensada. A palavra é a essência da nossa imortalidade. Ela é a alma do escritor.

A UPE não tem sede própria. É uma andarilha que vai de prédio em prédio, de casa em casa e de rua em rua. A sede da UPE é a cidade de Poxoréu. Toda casa poxoreana é uma casa upenina. Onde houver um rádio, aí estará presente a UPE através do Programa Momento de Arte e Cultura, transmitido pela Rádio Sul Mato-grossense. E quando por aqui se pensar em poesias, certamente será muito difícil não pensar nos nossos upeninos. A UPE é poesia.

Como é gratificante acompanhar e ser prestigiado nos Recitais do SESC que, todos os anos, no mês de dezembro, desfraldam a bandeira upenina em um festival de declamação das poesias de nossos escritores locais. Que maravilha tem sido apresentar os Recitais Upeninos de Outubro no Salão Dom José Selva, no Externato São José, lotado de espectadores que ali aglomeram para apreciar o talento e a verve upenina. A UPE é esse sentimento de amor pela poesia da terra poxoreana. Sim, nós temos poesia em Poxoréu!

A UPE está presente nos livros dos upeninos, nas revistas “A Upenina”, nos jornais “O Upenino” e tantas outras publicações. E agora, depois que inventaram a internet, a UPE também está lá, divulgando e atuando “em defesa da arte e da cultura”. Não temos dúvidas de que vamos continuar existindo mesmo depois que todos os atuais upeninos se transferirem para a UPE do Céu. Porque a UPE da Terra é uma idéia e as idéias são perfeições que existem para sempre, sejam na Terra, sejam no Céu. É com esse espírito que iniciamos o Vigésimo Quarto Ano Upenino, desejando muita inspiração a todos os nossos companheiros dessa arte.

Viva a Idéia! Viva a Arte e a Cultura! Viva a UPE!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Eleições na UPE


As eleições para a Diretoria do 24º Ano Upenino que se inicia neste dia 31 de março acontecerão no dia 01 de abril de 2011, a partir das 9 h da manhã, no Plenário da Câmara Vereador Tarquínio Soares e Silva (foto ao lado).

Na mesma ocasião será lançado o livro "Primavera (Com e Sem Flores): Crônicas Rasgadas do Cotidiano", do escritor José Antônio de Castro Leite Nogueira, ex-vereador e ex-Secretário de Educação de Primavera do Leste, MT.

domingo, 27 de março de 2011

Casas Antigas


Há belas casas antigas em Poxoréu! Essa é uma delas. Quantas portas! Quantas janelas! Essa casa é da minha idade. Ela foi construída em 1958. É uma casa datada. Seu construtor teve esse importante cuidado. É claro que não é fácil resistir ao tempo. Tudo envelhece. Eu envelheço, você envelhece e essa bela casa antiga não é exceção. Ela fica na esquina da Rua Paraíba com a Rua Bahia, bem próximo ao Diamante Clube Sociedade Recreativa, o qual também é uma bela construção antiga.


Em 1958, através da lei estadual nº 1120, de 17-10-1958, é criado o distrito de Pombas e anexado ao município de Poxoréo. No mesmo ano, através da lei estadual nº 1191, de 20-12-1958, é criado o distrito de Jarudore (ex-povoado), o qual também foi anexado ao município de Poxoréo.


Que bom! Dois Distritos novos!


Mas... Tristeza! Foi também neste mesmo ano que Poxoréu perdeu para o Mato Grosso dois de seus Distritos: Coronel Ponce e o recém-criado Pombas, que se emanciparam, tornando-se o vizinho Município mato-grossense de Mutum, mais tarde, Dom Aquino. Isso se deu através da lei estadual nº 1196, de 22-12-1958.


É claro que o povo de Poxoréu deve ter lamentado a perda de território. Mas acima disso deve estar a alegria por ver dois filhos em condições de ganhar a independência. A questão está em saber se, passados esses quase 53 anos, a emancipação valeu a pena. Espero que sim, posto que estou contando com Dom Aquino para formar "a grande Poxoréu" (http://66.228.120.252/artigos/1120775) o mais breve possível.

sábado, 26 de março de 2011

UMA LANTERNA CHAMADA UPEninos


Lindiomar Martins (Doma)

Já dizia o poeta Antônio Cícero em seu poema Guardar “Guardar uma coisa não é escondê-las. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, isto é iluminá-la ou ser por ela iluminada”.

Pensando nisso, lembrei por ocasião de mais um aniversário da UPE, das tantas vezes que esta entidade tem guardado um pouco da cultura de nossa cidade, das histórias de nossa gente, em seus vários relatos documentados e é claro em seus programas matinais aos sábados (não sei se continua neste horário).

Sinto-me honrado quando falo aos outros desta terra, e das coisas maravilhosas que nasceram e nascem dos esforços e do objetivo comum deste povo forte. Dentre elas, nomeio a UESP (não posso me esquecer), Perspectiva 21 e da União Poxoreense de Escritores, falo com orgulho aos que conheço, que esta academia é uma das poucas que existe em Mato Grosso, e ela tem dado tantas contribuições à literatura e a história de nosso estado com vários livros.

Por isso, quando penso em minha gente, entendo como é que uma terra formada em sua maioria, pelo elemento nordestino, rústico por natureza, mas desprovido de força bruta, é incansável na sua essência transformadora para moldar antigos objetos em “desobjetos valiosos”. Eles ainda conseguem sensibilizar-se muito mais com as causas coletivas, que propriamente com as causas individuais.

Compreendo com mais clareza a criatividade deste povo, que com as poucas reservas conseguem nutri a esperança humana e assim, vão constituindo os dias que se seguem ao sabor do sol. O mesmo sol que iluminam nossos escritores, não iluminam a todos com a mesma intensidade, é isso uma fatalidade a ser corrigida com muita escolarização, e uma melhor distribuição do lazer cultural pelos poderes constituídos. Sugerimos uma campanha pela reativação da Biblioteca Municipal e da Casa da Cultura, elementos importantes de auxílio à formação de novos talentos, iluminados pelo saber clássico do sol das letras. Que são as lanternas que melhoram a nossa caminhada rumo ao progresso, dentro deste mundo digitalmente globalizado pelas economias mais fortes e pelas culturas mais avançadas.

Não sinto inveja quando falam de alguns dos nossos municípios vizinhos, a maioria deles tem pouca coisa a nos oferecer em matéria de cultura clássica, não quero dizer com isso, que, somos a pequena Grécia Mato-Grossense, mas temos muito mais, em face do menor poder aquisitivo que usufruímos em relação aos nossos vizinhos mais próximos. Carecemos de investimentos em áreas que possam dar soluções as tantas mazelas deixadas por falta de políticas públicas mais agressivas, com diagnósticos prévios e estudos de impactos por áreas ou setores da economia que move o município. Digo isso, pois, o saber é sinônimo de cultura, e precisamos de mais UPEs constituídas e ainda muito mais upeninos atuando nas várias frentes que compõe o leque desse saber cultural, que transforma a nossa gente humilde em livres pensadores.

Enfim, na condição de letrado não poderia deixar jamais de registrar esta singela homenagem aos meus conterrâneos, com os quais, presenciei iniciativas que elevam ainda mais alto o orgulho de pertencer a esta municipalidade. Senhoras e senhores da plêiade Poxoreana, desejo a todos muitos aniversários e muitas realizações no caminho árduo de educar a leitura para ampliar a cultura do saber de modo geral. Por isso, ser escritor é ter desejo de construir nos outros algo melhor, “é ensinar a ver”, é libertar cotidianamente da prisão a ignorância que mora adormecida em cada um de nós.

Parabéns a todos vocês que foram tragados pela sensibilidade e escolhidos pelo conhecimento para transmitir seu legado poético, levando adiante consigo esta nobre missão de guardar a história de nosso povo.

Recebam a minha singela homenagem em versos a todos vocês.


Olhos de contemplação
Um anjo…Dorme ao meio dia
Abraçada pelo sofá macio
No aconchego da sala
Dorme o anjo, calmamente…
O mundo desmancha-se
Em sonhos, respira a vida,
A vida que há no ar
É o alimento de sua alma.
Um outro mundo, diferente…
Contempla o seu mundo angelical
A passos miúdos e muito lentos
Vai-se desfazendo os minutos
Na raiz dos seus pensamentos
Cujo a cabeleira loira meus
Olhos percorrem curiosos
Invejando os sofás
Que envolve anjos
E todo o seu mundo,
Todo seu sono meio-di-anjo.

Lindiomar Martins (DOMA) - É professor e Especialista Em Gestão do Trabalho Pedagógico em Sorriso - MT
E-mail:
prof.letra_mar@yahoo.com.br