UPE:
VINTE E SETE ANOS DE PERSISTÊNCIA
Prof.
Izaias Resplandes
Ideias e sonhos se
complementam. Quem nasceria primeiro? Eu até acho que poderiam ser sinônimos. Quando
uma ideia é boa de verdade, ela não desvanece, ela permanece, ainda que seja na
forma de um sonho que um dia poderá se tornar realidade. A UPE – União Poxorense
de Escritores é a ideia mais perene que já tivemos. Ela é de todos os nossos
devaneios, nosso sonho mais lindo.
A UPE é o sonho de escrever
a memória de Poxoréu nas linhas da história; é a vontade que sobrepuja a
dificuldade; é a força de poucos e de fracos que se uniu para ser apenas uma
força, mas uma força.
A UPE é uma força que
resiste há 27 anos às dificuldades de inserir o nome de Poxoréu nas páginas da
literatura brasileira, na memória das sucessivas gerações poxoreanas e na
história desse país.
Ex-Vereador e Ex-Vice-Prefeito Osmar Resplandes com o 1º Vice-Presidente Upenino Gaudênciio Amorim |
O povo de Poxoréu é
talentoso, é inteligente e, acima de tudo é persistente. É bairrista por excelência.
Em Poxoréu, antes de tudo está Poxoréu. Mas muito antes de ser um mal, como
possa parecer, esse poxorianismo é diamante de grande valor. Quem não se preza,
não tem o direito de ser amado. O segundo grande mandamento da lei de Deus é “Amar
ao próximo como a si mesmo”. E eu creio que aquele não se ama, não é capaz de
amar a mais ninguém. Mas aquele que se ama tem o dom para amar o mundo inteiro
e está pronto para ser um agente de transformação do todo em favor de cada
parte, inclusive de si mesmo.
Dona Valdi, esposa de seu Oscar Alves da Silva e Profº Josélia Neves, upenina |
Já disse várias vezes
e de diversas formas, em situações também as mais diversas, que o legado da
inclusão histórica e artística do nome “Poxoréu” nas páginas da literatura e da
história brasileira é um troféu que pertence à União Poxorense de Escritores,
como entidade e a cada um dos notáveis upeninos, em particular.
Mariza Resplandes, Ex-vereador de Poxoréu João Joaquim JJ e sua esposa Ediná Duque, Maria de Lourdes Resplandes e Osmar Resplandes, ex-vice-prefeito de Poxoréu. |
A UPE é um divisor de
águas no registro da temática “Poxoréu”. Existe um antes e um depois da UPE. Em
relação ao antes da UPE, destaco das palavras que ficaram do saudoso acadêmico
mato-grossense Lenine de Campos Póvoas (4/7/1921-29/1/2007) em relação à
literatura do leste de Mato Grosso, o seguinte excerto:
Até bem pouco tempo muito escassas eram as obras que faziam
referências a essa extensa e rica região, tão próxima da Capital do Estado, mas
dela tão afastada pela precariedade dos transportes.
Em 1959 surgiu um livro admirável sobre o leste, sua
história, sua vida social, seus problemas. Foi o “Caçadores de Diamantes”, de
autoria do Dr. Luís Philipe Saboia Ribeiro, médico que viveu longos anos
naquela área e que pelo seu talento de escritor consumado ocupou uma Cadeira na
Academia Matogrossense de Letras.
Em 1973 a Srtª Carmelita Cury lançou outro interessante
trabalho, focalizando mais especificamente o Vale do rio Vermelho e a cidade de
Rondonópolis, intitulado do “Do Bororo ao Prodoeste”.
O historiador Valdon Varjão, membro do Instituto Histórico
e Geográfico de Mato Grosso editou várias obras de grande valor sobre o extremo
leste, que margeia o rio Araguaia, fixando-lhe os aspectos econômicos, sociais
e os fatos históricos mais importantes: Barra do Garças no Passado (1980),
Baliza – Etéreas Reminiscências (1981) e Barra do Garças – Migalhas de sua
História (1985). Nesse mesmo ano de 1985 a Professora Erotiles da Silva
Milhomem publicou Meu Araguaia Querido, um repositório de informações sobre o
baixo Aragguaia, São Félix, seu povo e suas lutas.
Esses pesquisadores formam, assim, uma vanguarda de
desbravadores da geografia, da história e da vida econômica e social de uma
região que apenas conhecíamos pelas ligeiras referências e informações de
Virgílio Corrêa Filho e de Estêvão de Mendonça.
Prof João de Sousa, Presidente da UPE, com Sulene Campos (sua esposa) e Raimunda Cardoso (Mundica); |
Veja-se que o
registro histórico da Academia Mato grossense de Letras, se alia à nossa
análise simplória que divide a memória de Poxoréu em antes e depois da UPE. O
destaque é feito para apenas uma obra de fìlego em prol de Poxoréu. E
certamente, nós da UPE já tomamos a bênção do Notável escritor Luís Philipe
Saboia Ribeiro pelo que ele fez por essa terra leste matogrossense e, em
especial, pelo nome e pela marca “Poxoréu”. E aqui aproveito para observar que
esse município ainda é devedor de longa soma de louvor e honra pelas citações
de seu nome, a esse grande escritor pré-upenino.
Salvo engano, não registro ainda a mais ínfima homenagem dessa cidade a esse
homem que colocou Poxoréu no mapa do Brasil. E não acredito que isso seja por
conta dos aspectos negativos do bairrismo característico desse povo, até
porque, ainda que poxorense não tenha nascido, Dr. Saboia assim se fez quando
deixou tamanho legado para essa região.
Raimunda Cardoso (Mundica) com Izaias Resplandes, upenino |
E então, eis que
surge a UPE – União Poxorense de Escritores. Nasce com a timidez e a
simplicidade dos bebês e cresce com a humildade da gente do interior. Todos que
falaram dela disseram que era uma grande ideia. Pelo menos uma coisa era
verdade. A UPE era uma ideia pioneira.
Pelo que conhecíamos na época, ela foi a primeira entidade do gênero a surgir
no Estado de Mato Grosso. Ainda me recordo que nós queríamos que ela fosse a
Academia Poxorense de Letras, mas achamos que seria muita pretensão de nossa
parte criar uma academia com tão ínfima produção literária. E então pensamos em
formar uma União de Escritores. Éramos sete companheiros: Genivá Bezerra,
Joaquim Moreira, Aquilino Sousa Silva, Kautuzum de Araújo Coutinho, Enir Arge
Conceição, João de Sousa e Izaias Resplandes de Sousa.
Luzineth Amorim e Rita Costa |
Veja-se a dimensão da
ousadia upenina. Nossa única publicação livresca nessa época era “Saudades de Melancolias”, escrito a três
mãos por Gaudêncio Amorim, Kautuzum Coutinho e Isaias Resplandes, datado de
1987, impresso pela Editora Aurora, de Poxoréo (com o), MT e que veio a lume,
graças ao apoio inegável de nosso confrade Prof. João de Sousa, irmão de José
de Sousa, o proprietário da Editora.
1º Vice Presidente Upenino Gaudêncio e Antõnio Nival, homenageado upenino 2015, presidente das eleições deste ano. |
O professor João de
Souza tem um talento especial. Ele sempre esteve pronto para apoiar as
iniciativas, os novos talentos e as ideias de modo geral. Ele é um otimista. E
assim, estimulou-nos a publicar nosso primeiro livro. Até então, a minha
experiência em escrever se resumia ao trabalho como redator no Jornal Correio
de Poxoréu (1983-84), participações no Jornal A Voz de Poxoréu e como redator
nos jornais estudantis A Gazeta do Estudante e A Seiva. Gaudêncio e Kautuzum
eram estreantes e escreviam poesias.
Os demais fundadores
também escreviam apenas nos jornais e revistas que circulavam periodicamente na
cidade de Poxoréu, como a Revista O Garimpeiro (editada por Anadissor Franco de
Almeida), Jornal AVoz de Poxoréu e Jornal Correio de Poxoréu. Mas,
inegavelmente, todos tinham grande talento e maestria no domínio da pena. E
assim, com apenas esses predicados nós já ousávamos falar em Academia de Letras
de Poxoréu.
Maria Auxiliadora Silva e Silva (viúva upenina), Família de Antônio Nival (irmãs, esposa e filha) e Raimunda Cardoso |
Mas, como já disse o
imortal Fernando Pessoa “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. E a
alma upenina era grandiosa. Sempre foi e esperamos que sempre seja dessa
magnitude. A UPE, durante esses vinte e sete anos de sua existência, mostrou
para o que veio e fez a diferença, dentro de seus limites e possibilidades.
Desde que começamos nossa luta “em defesa da arte e da cultura”, nosso trabalho
nunca sofreu solução de continuidade, apesar de termos enfrentado por diversas
vezes as baionnetas da resistência política, que, narcisisticamente, somente
aprova e se apaixona por suas próprias ideias, desprezando tudo o que é dos
outros, por melhor que seja.
Maria Auxiliadora Silva e Silva (viúva do upenino Amorésio) com Ajax Alves Gomes, ex-vereador homenageado em 2-15 pela UPE |
A UPE venceu a
política partidária. Em suas fileiras os diversos Pês Políticos da vida sempre
conviveram harmonicamente. Todos nós somos muito políticos e temos nossas
tendências partidárias. Todavia, sempre deixamos o discurso partidário para os
palanques e para as nossas intervenções isoladas.
Família de Oscar Alves da Silva, homenageado da UPE de 2015 |
A UPE venceu a
barreira da religiosidade. A religião também não conseguiu nos dividir. Fazer
orações é a nossa principal vocação. Todavia, o nosso empenho é na arte de
produzir e de dizer. Nossas orações, nossos sermões e todas as nossas obras com
temáticas religiosas são produções literárias. Ainda que as raízes dessas obras
atinjam o mais profundo de nossa fé, não temos por objetivo discutir a fé de
cada um, nem tampouco julgar aquilo que qualquer de nós acredita. A nossa
convivência sempre primou pelo respeito às nossas diferenças e é por isso que
convivemos. E será somente dessa forma que a humanidade garantirá o seu futuro,
ou seja, quando for capaz de conviver com as diferenças e souber valorizar e
respeitar as individualidades e desigualdades. Assim, já dizia o mestre Rui
Barbosa:
A
regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais,
na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à
desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade... Tratar com
desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade
flagrante, e não igualdade real (Rui Barbosa BARBOSA,
R., Obras completas de Rui Barbosa).
Essa é a UPE, uma União que hoje
abriga um pequeno grupo de mentes diferentes, mas com capacidade de conviver.
São eles: João de Sousa, Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, Márcia Adriana Nunes
de Almeida Oliveira, Luís Carlos Ferreira, Enir Arge Conceição, João Batista
Cavalcante, Genivá Bezerra, Josélia Neves da Silva, Edinaldo Pereira de Sousa,
Doriléia Adriana Santos S. Detoni, Márcia de Oliveira Moura, Antônio José Alves
Vieira, Garibaldi Toledo de Moraes, Wallace Rodolfo Pereira da Silva, Aurélio
Miranda, João Batista de Araújo Barbosa, Márcia Rosa Lorenzon, José Antônio de
Castro Leite Nogueira, Amarílio Bento de Brito Neto e Martiniano José da Silva.
Também vivem sob nossas fileiras os companheiros que hoje defendem nossas
ideias no além eterno. São eles: Manoel Joaquim Fraga Filho, Aquilino Sousa
Silva, Delza Fernandes Zambonini, Maria de Lurdes Coutinho, Joaquim Nunes
Rocha, Gilbert Araújo Lemos, Zenaide Farias Pinto, Joaquim Moreira, Jurandir da
Cruz Xavier e Amorésio Sousa Silva.
Eurípedes da Radar (ex-candidato a Prefeito de Poxoréu), Izaias Resplandes (Upenino) e Ajax Alves Gomes (ex-vereador de Poxoréu, homenageado upenino 2015) |
Durante esses primeiros vinte e sete
anos de existência, quero crer que a maior virtude da UPE, através de seus
notáveis membros seja a persistência. Apesar dos reveses, nunca desistimos,
nunca interrompemos nossas atividades. A divulgação de nossa produção pode ser
menor, mas nunca deixamos de produzir e tampouco de divulgar uma parcela
daquilo que produzimos. Dessa forma, temos garantido que a temática “Poxoréu”
não seja deixada à margem da história. Pelo contrário, graças ao empenho e à
persistência que se arraiga na alma upenina, Poxoréu permanece vivo como um
expoente da cultura nacional.
Márcia Oliveira e Josélia Neves, upeninas |
Assim, ao ensejo de mais um
aniversário upenino, de mais uma eleição e de mais uma renovação em nossos
quadros de luta e de produção, ergo a minha voz em três vivas a todos os meus
confrades e a toda a sociedade poxoreana. Viva Poxoréu, viva Poxoréu e viva
Poxoréu!